Diretor do Einstein diz que segunda onda de covid nem terminou

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Monica Imbuzeiro / Agência O Globo

Presidente do Hospital Albert Einstein, o cirurgião Sidney Klajner afirma que o Brasil nunca viu o número de casos e internações de Covid-19 diminuírem desde início do ano a ponto de aliviar o sistema de saúde. Para o médico, o país ainda vive a continuidade da segunda onda e o risco do um colapso nos hospitais persiste. Klajner avalia que, enquanto a população não adotar um comportamento responsável, o que resta aos governos é decretar medidas restritivas como o lockdown. Lea abaixo a entrevista à coluna:

O senhor vê o aumento de casos e internações como uma terceira onda da Covid?

Na minha avaliação, não dá nem pra chamar de terceira onda, porque não houve uma redução significativa dos casos do começo do ano. Vejo como uma segunda onda e meia. Em um momento em que mal tinha começado a diminuir o número de leitos ocupados, as barreiras de restrição foram sendo levantadas. Depois disso, o que se viu foi o aumento das contaminações.

Então o Brasil vive uma continuidade da segunda onda?

A segunda onda nunca chegou a ser controlada. Eu não chamaria o movimento de hoje de terceira onda. O sistema de saúde sequer tem um alívio.

Qual o ritmo das internações no Eistein?

O Einstein chegou a ter, entre fevereiro e março, 303 pacientes de Covid internados. Tivemos que abrir mais de 100 leitos em ambientes que não eram destinados à Covid, como a sala de aula do nosso centro de educação. Essa lotação apresentou uma recrudescência e, depois, uma estabilidade há cerca de duas, três semanas, com 115 pacientes internados. Mesmo assim, o número é muito alto. Desde a semana passada, esse dado está subindo de novo.

O número de internações subiu para quanto?

Estamos tendo uma média de 20, 22 novas internações por dia. Nesta semana houve um dia em que chegamos 168 internações. Para se ter uma ideia, o pico de internação em 2020 foi de 138 pacientes.

Vocês conseguiram prever que esse aumento voltaria?

O fato de termos uma central de telemedicina bastante sofisticada e com número grande de paciente nos ajudou. Dá para usar o aumento das consultas de telemedicina como um fator de previsão do aumento de internações. Isso nos deu um pouco de preparação desta vez.

O Eistein aumentará o número de leitos para Covid?

Temos um planejamento de converter mais 60 leitos para Covid. Algumas estruturas que iriam retornar a outras atividades serão mantidas porque esse crescimento ainda vai longe.

Qual o principal fator do aumento de casos?

O comportamento das pessoas deixa muito a desejar. Não por imposição de quarentena. É que, mesmo nesses momentos de restrição, não vemos o comportamento esperado de quem quer se proteger de contaminação, cuidar de seus familiares e amigos e ajudar no controle da pandemia. No momento em que a vacina ainda caminha um ritmo muito lento, a única medida que impediria a propagação e colapso do sistema hospitalar seria um comportamento mais preocupado. O que a gente vê, infelizmente, é uma total despreocupação. Moro numa região que tem muitos restaurantes e bares. Quando eu volto pra casa, vejo a lotação desses ambientes, as pessoas sem máscara.

Por que, ainda hoje, muitas pessoas ainda insistem em negar a pandemia?

Acredito que comportamentos de lideranças acabam influenciando a população.

Já foi diagnosticado no Einstein algum caso de contaminação com a cepa indiana?

Há cerca de três meses, nosso laboratório tem feito todo o sequenciamento genético por amostragem. Isso nos permite descobrir as variantes nas mutações, o que já vem acontecendo sobre a variante P1, de Manaus. Além dessa cepa ter maior transmissão, é mais virulenta. A cepa indiana ainda não apareceu nos pacientes que aqui foram internados.

Qual o caminho que o Brasil tem hoje para diminuir o número de casos?

Sem a adesão da população, a única medida que sobra para os governos é a imposição da restrição, que se mostrou eficaz em outros países, principalmente na Europa, e em municípios do Estado de São Paulo, como Araraquara e Ribeirão Preto.

Avalia que hoje é necessário implementar o lockdown?

Parece que é coisa de castigo, né? Se você não se comportar, terá que paralisar as atividades. O ideal seria não precisarmos paralisar tudo, e sim termos um comportamento adequado que evitasse uma contaminação maciça. Isso permitiria flexibilizar todos os setores da economia com responsabilidade. Da forma como estamos lidando com o colapso no sistema de saúda a alternativa que resta são as restrições.

O Globo