CPI encerrou capítulo da cloroquina
Foto: Leopoldo Silva / Leopoldo Silva/Agência Senado
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), avalia que a comissão não deve mais tratar de cloroquina. Nesta terça-feira, prestou depoimento a médica Nise Yamaguchi, defensora do uso do remédio no tratamento contra a doença, mesmo sem eficácia comprovada. Ela também é apontada como integrante do “gabinete paralelo” que assessorava o presidente Jair Bolsonaro à margem as orientações do Ministério da Saúde, o que ela nega.
— Não será necessário ela vir mais. Esse assunto já acabou. Cloroquina, CPI não tem que tratar mais. O assunto já deu. Passou oito horas aí, não conseguiu apresentar uma publicação científica sobre cloroquina — disse Omar em entrevista coletiva após o fim a sessão.
O senador Humberto Costa (PT-PE) reconheceu que, do ponto de vista científico, não há mais o que ser debatido, mas há algumas questões pendentes relacionadas ao tema.
— Do ponto de vista do debate científico, o tema cloroquina está esgotado. Não faz mais sentido essa discussão. Mas acho que, do ponto de vista de interesses econômicos e do papel que a cloroquina exercer de ser componente da imunidade de rebanho, tem que se pensar ainda mais — disse Humberto.
O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), criticou Nise, dizendo que houve várias contradições.
— Foi um depoimento importante, não só pelas contradições, mas, sobretudo, pelas informações que a doutora Nise Yamaguchi não teve condições de trazer à Comissão Parlamentar de Inquérito. Como lembrou o presidente Omar, ela não sabe, hoje, imagina um ano atrás. Então, esse foi o nível do assessoramento que teve o presidente da República, através do Ministério da Saúde, do gabinete paralelo… Enfim, o depoimento de hoje nos possibilitou a primeira acareação, porque nós tivemos, sim, oportunidade de confrontar a doutora Nise presencialmente com os vídeos que ela própria publicou. Pelo o que vimos e ficou efetivamente comprovado, a doutora Nise presencial foi contestada pela doutora Nise dos vídeos — disse Renan.
O relator também defendeu a volta à CPI do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que já prestou depoimento. O requerimento da nova convocação já foi aprovado, mas a data não foi marcada ainda.
Diante da resposta de Nise, que negou ter participado de reunião para tratar de decreto sobre mudança da bula da cloroquina, Omar sugeriu realizar uma acareação com o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. Renan disse então que houve acareação de Nise com ela mesma, uma vez que foram exibidos vários vídeos com declarações que ela deu no passado sobre tratamento precoce.
Na noite de segunda-feira, Omar marcou para quarta-feira o depoimento da ex-secretária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, Luana Araújo. Inicialmente, estava prevista uma audiência com médicos para amanhã para debater cloroquina. No começo da sessão desta terça, ele justificou a mudança.
— No entendimento da Mesa, [Diretora da CPI] nós não temos aqui que fazer audiência pública, nós estamos investigando, e não é na audiência pública que nós vamos descobrir se a cloroquina é a favor ou contra. Não irá acontecer novamente de a gente desconvocar alguém, mas, como a CPI é muito dinâmica e entendemos que nós temos menos de 60 dias para fazer as investigações necessárias, quem tem que discutir se cloroquina é bom ou não não é senador, que é leigo na matéria. Nós somos leigos. Eu sou leigo nessa matéria. Quem tem que discutir isso é a ciência e não esta Comissão Parlamentar de Inquérito. Por isso da desconvocação, mas não acontecerá de novo uma outra desconvocação sem ser avisado — afirmou Omar.