Militares brasileiros agem na contramão dos militares americanos

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Foto: Mandel Ngan/AFP

Comandante do Estado-Maior das Forças Armadas americanas, o general Mark Milley discursou em novembro de 2020 sobre o dever de cada militar em sua visão, após o presidente Donald Trump promover uma série de mudanças no alto escalão do Pentágono. “Não fazemos juramento a um rei”, ele afirmou, “a um tirano ou a qualquer pessoa. Juramos defender a Constituição dos Estados Unidos.”

O cargo de Milley está acima do dos três comandantes de cada uma das Armas e ele é o militar mais graduado do país, imediatamente abaixo do secretário da Defesa, que em geral é civil. Existe um motivo para que, em democracias liberais, militares não possam se manifestar politicamente. Não é uma razão trivial — é, isto sim, uma razão da qual depende a essência da democracia.

As Forças Armadas são, o próprio nome diz, a instituição mais armada de uma nação. Tanques, mísseis, caças, armas de toda sorte de calibres e profissionais especialistas em seu manuseio. Elas precisam existir. Se um país é invadido, precisa se defender. A existência de Forças Armadas já são um motivo para evitar guerras.

Mas isto cria, para democracias, um dilema. Armam estas instituições e as pessoas nelas — e o que acontece se elas decidem se envolver em política? O debate público não pode envolver violência. Não pode, portanto, ter a participação de elementos que ameacem de alguma forma, com violência, na defesa de seus ideais. É por isto que qualquer cidadão, quando escolhe a carreira militar, abre a mão imediatamente de se manifestar publicamente sobre política.

Porque tem acesso às maiores armas de um país, não pode entrar no debate sobre política. É preciso que o debate público ocorra sem que um lado tenha força militar.

Não é uma peculiaridade do Brasil. Está no alicerce de qualquer democracia. O que o alto-comando do Exército decidiu, na quinta-feira, ao não punir o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello por ter participado de uma manifestação com o presidente Jair Bolsonaro, é, portanto, isto: militares podem se manifestar publicamente em favor do presidente da República. Uma decisão temerária: o Exército acaba de se colocar na política.

O Globo