Velho da Havan está por trás do gabinete paralelo da Saúde

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Foto: Reprodução

O grupo Médicos pela Vida, que tem entre seus integrantes alguns dos responsáveis por aconselhar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o uso de drogas ineficazes contra a Covid-19 recebeu apoio de um movimento encabeçado pelo empresário Luciano Hang.

Em pelo menos uma ocasião, o grupo Empresários em Ação, liderado por Hang, aparece associado a palestras da médica Nise Yamaguchi e do virologista Paolo Zanotto, ambos integrantes do Médicos pela Vida e na mira da CPI da Covid-19. Foi em uma live na qual eles, entre outros participantes, defenderam a cloroquina e o chamado tratamento precoce para a Covid, contrariando as evidências científicas existentes há bastante tempo.

O evento, em formato de módulos, teve início em março deste ano, com a última atividade realizada no dia 2 de junho. O apoio dos Empresários em Ação consta no fim da programação do primeiro módulo.

Em nota, a assessoria de imprensa de Luciano Hang disse que ele, em conjunto com médicos infectologistas, cientistas e empresários, acreditam no tratamento preventivo e precoce como parte da luta contra a Covid-19, mas que nunca destinou recurso financeiro para o grupo de médicos. Afirma ainda que a única atividade que envolveu recursos foi a compra de ivermetectina, vitamina D e zinco, produtos que compõem o chamado kit Covid e que foram entregues à Prefeitura de Brusque (SC) como doação.

O kit Covid também não tem eficácia, de acordo com as publicações científicas mais respeitadas.

Questionada sobre o tipo de apoio que os empresários deram aos eventos promovidos pelos médicos, a assessoria não respondeu. A assessoria de imprensa do grupo Médicos pela Vida também diz que o apoio não envolveu recurso financeiro.

Em fevereiro, o Médicos pela Vida também publicou um informe publicitário em alguns dos principais jornais impressos do país, incluindo a Folha, com um manifesto em defesa do chamado tratamento precoce contra a Covid-19.

Em março, outdoors em nome do grupo foram espalhados em seis bairros de Curitiba (PR). A publicidade foi retirada a pedido do Ministério Público estadual. Os promotores se basearam em trecho do Código de Ética Médica que veta “divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente”.

A assessoria de imprensa de Médicos pela Vida diz que nenhuma das iniciativas foi bancada financeiramente pelo grupo e que as ações são financiadas por empresários e pessoas da sociedade civil, “defensores e simpatizantes do tratamento precoce.”

Segundo a assessoria, em geral esses apoiadores tiveram experiências pessoais exitosas com o chamado tratamento precoce e pedem ao movimento autorização para divulgá-lo em seu nome.

Sobre o custo das ações e os nomes dos apoiadores envolvidos, a assessoria diz que o movimento não tem essas informações porque, além de envolver um grande número de pessoas pelo país, toda a negociação é feita diretamente entre os apoiadores e as empresas de marketing, por exemplo.

Parlamentares da cúpula da CPI da Covid estão analisando novos pedidos de convocação de integrantes desse grupo de médicos, que formariam um suposto gabinete paralelo da Saúde do governo Bolsonaro. O interesse pelo assunto cresceu após o ressurgimento de um vídeo de uma reunião no Planalto, transmitida no perfil do presidente no Facebook. No encontro, foi sugerido um “gabinete das sombras” pelo virologista da USP Paolo Zanotto.

A fala de Zanotto, um dos especialistas que vêm aconselhando Bolsonaro desde o começo da crise, reforça a suspeita de que haveria uma espécie de “ministério paralelo” para lidar com a pandemia de Covid-19, fora da estrutura oficial da pasta da Saúde.

A reunião, que contou com a presença do ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), de Nise Yamaguchi e de outros médicos, consta na agenda oficial do presidente como um encontro com o grupo Médicos Pela Vida.

No ambiente fechado, os participantes não utilizaram máscaras e dividiram microfones, desrespeitando protocolos básicos contra a Covid-19.

Folha