Presidente da Fundação Palmares quer evitar “senzala marxista”
Foto: Reprodução
Após o anúncio de que excluirá mais da metade das obras de seu acervo, a Fundação Palmares promete divulgar, em 20 dias, um novo relatório com mais detalhes sobre o novo acervo da instituição. “Não somos uma senzala marxista, somos uma fundação cultural”, publicou Sérgio Camargo, presidente da Palmares, em seu perfil no Twitter.
O primeiro relatório, divulgado no dia 11 de junho, mostrou o levantamento de 5.300 livros que, segundo a fundação, têm caráter panfletário e com evidências de uma chamada “dominação marxista” da entidade. A decisão de se livrar deliberadamente das obras, no entanto, esbarrou semana passada em uma decisão liminar da Justiça que estabelece multa de R$ 500 para a Palmares por cada livro que for doado.
“Relatório Público 02 – Amplitude e Dignidade”
A Palmares terá, pela primeira vez, um acervo que abordará a cultura negra em sua riqueza, diversidade, valor e relevância. A capa é uma síntese desse conceito.
– Não somos uma senzala marxista, somos uma fundação cultural! 🇧🇷 pic.twitter.com/34OSvPxs7N— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) June 29, 2021
Enquanto segue o imbróglio judicial, Sérgio Camargo também divulgou que o novo relatório leva o nome de “Amplitude e dignidade”. E que, assim como o primeiro, está sendo elaborado por Marco Frenette, coordenador do Centro de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC). Frenette assumirá a presidência interina da Palmares durante o mês de julho, durante as férias de Camargo.
Em sua postagem no Twitter, aliás, o presidente da fundação exibiu a capa do novo relatório com os retratos de alguns dos autores que estarão presentes nesta nova fase do acervo. “A Palmares terá, pela primeira vez, um acervo que abordará a cultura negra em sua riqueza, diversidade, valor e relevância. A capa é uma síntese desse conceito”, escreveu Camargo.
Em seu perfil no Facebook, Marco Frenette publicou: “Esses autores, e milhares de outros, comporão o acervo da Fundação Palmares, oferecendo uma visão ampla e arejada sobre a cultura de matriz negra. É o conhecimento aberto e acessível a todos, sem guetos, sem militâncias”.
Confira abaixo a lista dos autores que estampam a capa do novo relatório a ser publicado pela Palmares.
Machado de Assis (1839-1908)
Considerado por muitos o maior nome da literatura brasileira, foi poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Negro, o carioca pobre nascido no Morro do Livramento foi testemunha do processo abolicionista e acompanhou de perto a queda do Império, sendo um competente comentarista das profundas mudanças sociopolíticas do país na virada do século XIX para o século XX.
Cruz e Sousa (1861-1898)
Filho de escravo alforriados, o poeta João da Cruz desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. Foi um crítico feroz do racismo em 1881, quando dirigiu o jornal Tribuna Popular. Na literatura, se tornou um dos grandes representantes do Simbolismo. Também é patrono da Academia Catarinense de Letras.
Luiz Gama (1830-1882)
Um dos principais ativistas na luta pelo fim da escravidão no Brasil, foi responsável pela libertação de quase 500 pessoas. Nascido em Salvador, foi poeta, jornalista e advogado. Nesta terça-feira (29), ganhou o título de Doutor Honoris Causa concedido pela USP. Foi a primeira vez que a universidade concedeu a láurea a um brasileiro negro desde sua criação.
Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
Considerada uma das principais escritoras do país, é autora do consagrado “Quarto de despejo: Diário de uma favelada” (1960), traduzido para 14 idiomas. Também compositora e poetisa, esta mulher negra viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis.
Gilberto Freyre (1900-1987)
Com o lançamento de “Casa Grande e senzala” (1933), foi alçado ao posto de pai da sociologia moderna no Brasil. Para uns, tratava-se de um retrato do Brasil que ajudou a revelar o país para os brasileiros. Outros atacaram sua tese dos efeitos democratizantes da miscigenação, que teria suprimido os conflitos interraciais no país. Partidário do movimento político-militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964, passou a integrar, em 1969, o Conselho Federal de Cultura, a convite do presidente general Emílio Médici.
Du Bois (1868-1963)
Nascido no interior do estado do Massachusetts, o sociólogo foi um dos fundadores da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), a maior e mais influente organização por direitos civis dos EUA. Em 1961, se tornou membro do Partido Comunista e se mudou para Gana, onde viveu até sua morte. Foi o primeiro homem negro a receber um Ph.D. da Universidade Harvard.
Cornel West (1953-)
Autor de mais de 20 livros sobre racismo, herança africana e democracia, o filósofo e professor de Harvard é considerado um dos nomes mais importantes na luta racial nos EUA, sendo um dos defensores do legado de Martin Luther King Jr. À época do assassinato de George Floyd, em maio de 2020, declarou à BBC que os Estados Unidos são “um experimento social falido”.
Thomas Sowell (1930-)
O economista americano tem mais de 30 livros publicados e, como intelectual, é marcado por seu posicionamento contrário a ações afirmativas, como as cotas raciais. Defensor da economia de mercado, teve o doutorado na Universidade de Chicago orientado por Milton Friedman, ícone do pensamento econômico liberal e expoente da Escola de Chicago.
Candace Owens (1989-)
Comentarista e ativista conservadora, ficou marcada pelas fortes críticas aos protestos Black Livews Matter, em 2020, e por sua dedicação à derrotada campanha de reeleição de Donald Trump.
Assinatura
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