PTB filia integrantes de movimento fascista
Foto: Hélvio Romero/Estadão
Depois do trabalhismo dos anos pré-64 e do fisiologismo posterior à redemocratização, o integralismo, versão brasileira do fascismo, chegou ao PTB. Fundada em 1945 por Getúlio Vargas, a sigla foi a casa das duas primeiras gerações trabalhistas, inclusive do presidente João Goulart, mas está cada vez mais radicalizado à direita.
Seu presidente, o ex-deputado Roberto Jefferson, preso no mensalão, passou a personificar o bolsonarismo-raiz: tem discurso armamentista, religioso e anticomunista. A atitude contrasta com posições dos anos 80, 90 e 2000. Na época, os petebistas sinalizavam se importar menos com ideologia e priorizavam cargos e verbas.
Um dos marcos da direitização do partido que o regime militar considerou reduto de esquerdistas – e voltou, em 1979, em encarnação ultrapragmática – é a recepção, em suas fileiras, de grupos declaradamente fascistas. No último mês, integrantes da Frente Integralista Brasileira (FIB), inclusive o presidente Moisés José Lima, filiaram-se ao PTB em São Paulo. O grupo, continuidade dos primeiros fascistas brasileiros, afirmou em comunicado que a sigla se converteu numa casa para os integralistas que quiserem disputar eleições no ano que vem e em 2024.
Fundado em 1932 pelo jornalista Plínio Salgado, o integralismo imitava o fascismo italiano, de Benito Mussolini. O brasileiro, inclusive, havia se encontrado pouco antes com o Duce. Em 1938, o movimento tentou um putsch para derrubar o Estado Novo de Vargas. O regime começara um ano antes, com um golpe, e fora recebido com entusiasmo pelos integralistas. Logo, porém, se desiludiram por não integrar o governo. Atacaram o Palácio Guanabara, no Rio, onde o ditador dormia com a família. Não conseguiram vencer a resistência e foram presos. Salgado se exilou no Portugal salazarista.
Mais de 80 anos depois, a FIB aponta na guinada petebista do pragmatismo para a direita extremista para explicar sua entrada no PTB.
“Por mais contraditório que pareça a alguns, o fato (o PTB) de ter certa ligação no passado com Getúlio Vargas, a realidade é que a única ligação é histórica: desde sua refundação nos anos 80 até recentemente, o partido seguiu certo pragmatismo que já era observado no PTB de décadas anteriores”, disse em seu site a Frente Integralista. “Tendo no último ano uma revisão doutrinária intensa, assumiram-se como bandeiras estatutárias a defesa da vida, o patriotismo, a família tradicional e os valores cristãos.”
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Autor do livro ‘O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo’ em parceria com Leandro Pereira Gonçalves, o historiador Odilon Caldeira Neto diz que os grupos neointegralistas sempre buscam aproximação com algum partido político estabelecido. Essa prática começou, afirma, com o antigo Prona, de Enéas Carneiro, passou pelo PRTB de Levy Fidelix e agora dá sinais de que tentará o mesmo com o PTB.
“Parece que, nesse sentido, o Roberto Jefferson virou o novo Levy. Foi Levy, na eleição de 2010, quem ajudou a popularizar certas ideias radicais. Com a emergência das chamadas novas direitas, ele e o PRTB fizeram um grande esforço em prol da sua radicalização”, afirmou Neto.
O historiador estima que a FIB não tenha mais que algumas centenas de militantes, o que também é uma característica de grupos neofascistas de outros países. Eles não tentam ser uma organização de massa – diferentemente do passado, quando protagonizavam desfiles de massa, militarizados, uniformizados de verde e com braçadeiras com o sigma. Preferem se aproximar de grupos mais amplos, que tenham poder. Nos anos 50 e 60, chegaram a se reorganizar no Partido de Representação Popular, sem expressão.
Espécie de guia e interlocutor da FIB com a institucionalidade, o advogado Paulo Fernando Melo da Costa foi secretário especial da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos). Ele atuou pela soltura dos militantes bolsonaristas Sara Giromini e Oswaldo Eustáquio, acusados de atentar contra a democracia. Foi Costa quem articulou as filiações de integralistas ao PTB.
O historiador explica que os valores morais defendidos pelos neointegralistas são os mesmos de segmentos maiores do conservadorismo brasileiro, o que os aproxima do bolsonarismo. Mas vão além da defesa um tanto quanto genérica da “família”. Cultivam visões de Estado inspiradas no fascismo.
“Defendem um certo tipo de organização da sociedade: integral, antidemocrática, antiparlamentarista; a extinção dos partidos políticos, o controle da imprensa e assim por diante. Inspiram-se de forma muito afeiçoada no modelo de sociedade integral do tempo do fascismo.”
Acusado do atentado contra a produtora Porta dos Fundos em 2019 – após a veiculação do especial de Natal em que Jesus é retratado como homossexual – , Eduardo Fauzi era integrante da FIB. A Frente, contudo, repudiou oficialmente o ataque e o expulsou da organização. Fauzi fugiu para a Rússia e teve sua extradição pedida pelo Brasil,
PTB que recebeu integralistas nasceu de racha do trabalhismo
Quando o Brasil caminhava para o fim da ditadura, os trabalhistas exilados – tendo como principal líder o ex-governador gaúcho Leonel Brizola – tentaram refundar o PTB. Inspiravam-se na social-democracia europeia e contavam com a ajuda da Internacional Socialista. O ano era 1979, e as conversas se deram em Lisboa, cinco anos após a Revolução dos Cravos derrubar a ditadura portuguesa.
Uma sobrinha de Getúlio, Ivete Vargas, contudo, com apoio velado do regime militar, discordou da articulação. Ganhou na Justiça o direito de ficar com a sigla PTB. A derrota levou à fundação do atual Partido Democrático Trabalhista (PDT) por Brizola e seus aliados.
Um símbolo do escasso compromisso do novo PTB com qualquer orientação foi a filiação a seus quadros do ex-presidente Jânio Quadros. Estrela do conservadorismo que se opunha ao PTB pré-64, ele venceu a disputa para a prefeitura de São Paulo, em 1985. Durante a Nova República, o partido ficou mais conhecido pelo o apetite por cargos e verbas públicas. Dava, em troca, seu apoio aos governos, não importando a ideologia.
Em novembro de 2012, Jefferson foi condenado a 7 anos e 14 dias de prisão pela venda de votos no Mensalão. Ganhou a liberdade condicional em 2015. Em 2008, em audiência na Justiça, confessara ter recebido R$ 4 milhões. Nos últimos anos, o ex-deputado aderiu ao bolsonarismo. Tem defendido suas causas mais radicais, como o ataque a instituições, como o Supremo Tribunal Federal. Também vem demonstrando simpatia por armas de fogo.
Além dos neointegralistas, Jefferson busca filiar nomes de peso do bolsonarismo. Também mantém as portas abertas para o próprio presidente Jair Bolsonaro, que foi do partido de 2003 a 2005, mas dificilmente retornaria. Em entrevista ao Estadão publicada nesta quarta-feira, 28, o ex-deputado manifestou a intenção de ter nos quadros do partido o general Braga Netto, atual ministro da Defesa.
“Se o presidente resolver ir para outro partido e botar na vice o general Braga Netto, será uma honra para nós. Se o presidente disser ‘Ele vai para o PTB para a gente fazer a coligação’, vai ser um orgulho para mim”, disse.
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