Facebook barra fake news sobre vacina fazer virar chipanzé
Foto: Reprodução
O Facebook anunciou nesta terça-feira (10) que derrubou uma rede coordenada de conteúdo antivacina que operava na Rússia e atacava países da América Latina, incluindo o Brasil, além de Índia e Estados Unidos com informações falsas. O grupo disseminava supostos relatórios científicos, petições e memes por meio de influenciadores em várias redes sociais ao mesmo tempo.
As chamadas “redes de comportamento inautêntico coordenado” são eliminadas pela empresa devido à forma como se articulam, não necessariamente ao conteúdo. A rede social as define como “campanhas domésticas não governamentais que incluem grupos e páginas que procuram enganar as pessoas” atuando por meio de contas falsas e autênticas. Nesse caso, tratava-se de uma rede com interferência estrangeira.
O conteúdo falso relativo às vacinas da AstraZeneca e da Pfizer era operado por uma rede com 65 contas do Facebook e 243 contas do Instagram, que também atuou em uma dúzia de plataformas e fóruns na internet. Os principais alvos da ação eram a Índia, a América Latina e, em extensão menor, os Estados Unidos, diz a empresa.
A investigação interna do Facebook encontrou relação entre essa campanha russa e uma empresa de marketing chamada Fazze, registrada no Reino Unido, cujas contas foram banidas da plataforma.
Um dos memes que circulavam em novembro e dezembro afirmava que o imunizante da AstraZeneca transformava as pessoas em chimpanzés. Esse tipo de comparação foi usada pelo presidente Jair Bolsonaro —no fim do ano passado, ao ser questionado sobre não ter fechado acordo com a fabricante Pfizer, ele disse que não era sua responsabilidade se as pessoas virassem jacarés.
“Se você virar um chip… um jacaré, é problema de você, pô! Não vou falar outro bicho porque vão pensar que eu vou falar besteira aqui, né?”, afirmou.
“Em novembro e dezembro de 2020, a rede postou memes e comentários afirmando que a vacina da AstraZeneca contra a Covid-19 transformaria as pessoas em chimpanzés. Cinco meses depois, em maio de 2021, ela questionou a segurança da vacina da Pfizer ao postar um suposto documento da AstraZeneca que teria sido hackeado e vazado”, disse o Facebook em encontro com jornalistas.
A empresa ressaltou que “ambas as fases coincidiram com períodos em que vários governos, incluindo da América Latina, Índia e Estados Unidos, estavam discutindo as autorizações de emergência para essas respectivas vacinas”.
A rede teria criado artigos e petições enganosas em vários fóruns, como Reddit, Medium e Change Org. Depois, usava contas falsas nas redes sociais para plantar e amplificar esse conteúdo, “usando táticas rudimentares de spam”.
O ponto mais importante da campanha, segundo a empresa, era engajar influenciadores com públicos já consolidados nessas redes, no TikTok e no YouTube. Em seus serviços, a empresa de marketing anunciava que tinha acesso a uma grande lista de blogueiros.
O relatório do Facebook diz que parte dessa campanha falhou e que não atingiu o público-alvo, com quase todas as postagens no Instagram recebendo zero curtidas. A petição em inglês no Change Org conseguiu cerca de 550 assinaturas.
Foram gastos apenas US$ 200 (R$ 1.044) com anúncios no Facebook e Instagram.
Em maio deste ano, a mesma rede de operação foi retomada para disseminar mentiras sobre a Pfizer, como a de que teria causado “taxa de mortalidade” muito maior que a de outras vacinas.
“A atividade da operação na plataforma parecia limitada a algumas dezenas de postagens em inglês no Facebook que tinham como alvo primordial páginas e grupos nos Estados Unidos que recebiam quase nenhuma reação, e um único post feito por um influenciador no Brasil”, disse o Facebook. Questionada, a empresa não divulgou o nome do influenciador.
Essa fase coincidiu com o período em que a Agência Europeia de Medicamentos e o Brasil discutiam a aprovação da vacina da Pfizer para adolescentes.
Segundo o Facebook, a tentativa de alcançar influenciadores desfez a operação. Dois deles, um alemão e um francês, teriam exposto a campanha e negado o recebimento da Fazze, que pagaria 2.000 euros (cerca de R$ 12 mil).
A empresa de marketing deletou a maior parte de seus artigos falsos, e os funcionários apagaram as referências à Fazze em seus perfis em redes sociais.
Desde o início da pandemia, as redes sociais foram alvo de governos e legisladores devido à circulação de conteúdos falsos em suas plataformas. Facebook, Twitter e outras redes passaram a marcar ou eliminar publicações baseadas em uma política de proteção à saúde pública, que dá mais visibilidade a conteúdos da OMS (Organização Mundial da Saúde), de órgãos oficiais e de veículos jornalísticos.
A mudança foi insuficiente contra as críticas. A CPI da Covid não estipulou data, mas disse que convocaria as big techs para prestar depoimento sobre a manutenção de informações enganosas em relação à Covid. Em julho, o YouTube deletou 14 lives de Bolsonaro por confrontarem sua política de informações médicas corretas sobre a doença.
O presidente americano, Joe Biden, afirmou recentemente que as plataformas “estão matando as pessoas”, sugerindo que as empresas tinham responsabilidade pela recusa à vacina. Depois, recuou e disse que se referia às pessoas que disseminam mentira nessas redes.
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