Aliados de Bolsonaro atribuem sua baixa aprovação a “piora da economia”
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atribuem o aumento da reprovação do mandatário à crise econômica. Resultado de pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (16) mostra que a reprovação chegou a 53%, pior índice do mandato de Bolsonaro.
Apesar de o discurso oficial ser de descredibilizar pesquisas, interlocutores do presidente
demonstram preocupação com a queda de sua popularidade.
Após a semana mais tensa de seu mandato, na qual pregou golpismo para multidões no 7 de Setembro e depois recuou, o presidente segue com sua reprovação em tendência de alta.
Aliados do presidente também creditam o resultado do levantamento à crise institucional entre os Poderes, mas a leitura deles é de que o principal fator é a economia.
Nesta quinta, por exemplo, o Ministério da Economia revisou a projeção para a inflação deste ano de
5,9% para 7,9%. O aumento nos preços e, em especial, da gasolina tem sido uma preocupação central de Bolsonaro nos últimos meses.
Pesquisa feita pelo Datafolha e divulgada nesta sexta-feira (17) mostra que a corrida eleitoral para a Presidência em 2022 está estagnada, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantendo larga vantagem sobre Bolsonaro. No segundo turno, o petista tem 56% das intenções de voto contra 31% do atual presidente.
Aliados de Bolsonaro minimizam os dados. O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), por exemplo, compartilhou em seu grupo no Telegram imagem minimizando os resultados das pesquisas.
A imagem mostra atos pró-Bolsonaro lotados e diz: “Segundo Datafolha, Bolsonaro bate recorde de reprovação”. “Segue a saga”, escreveu o filho do presidente.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), afirma que o resultado da pesquisa mostra um retrato do momento, ainda fortemente impactado pelos efeitos da pandemia e pela crise política. Não fornece, segundo ele, uma radiografia correta para as eleições de 2022.
“Acho que, sendo divulgada nesse momento, que é muito diferente de quando as pessoas precisarem tomar as decisões, não vai levar em conta um balanço completo do governo”, afirmou.
“Por tudo o que passamos nesses mais de dois anos, o quadro é de confiança na reeleição do presidente Bolsonaro. A pesquisa foi feita ainda com os efeitos da pandemia, da crise política, que não retrata o ambiente da corrida eleitoral. Quem vê tudo o que o presidente tem feito nos últimos dois anos confia no trabalho”, completa.
Assessor especial do presidente, Max Guilherme escreveu no Twitter que só acredita no “Data Povo” e que a “Globo lixo” está “tentando ajudar o maior bandido da história”. Ele compartilhou publicação de O Globo sobre a pesquisa Datafolha.
Já o vice-líder do governo na Câmara Evair de Melo (PP-ES) disse que Bolsonaro não está preocupado com eleições e trabalha para melhorar a economia. “Eleição é só em 2022. A agenda não é essa. O governo não é movido por pesquisas”, afirmou.
Os resultados da pesquisa aumentam a pressão para o governo encontrar solução para tirar o Auxílio Brasil do papel, sucessor do Bolsa Família.
O presidente convocou o ministro João Roma (Cidadania) e representantes de outras pastas
para uma reunião de emergência sobre o programa de transferência de renda na quinta-feira (16), antes da divulgação do Datafolha.
Interlocutores de Bolsonaro acreditam que a entrada em vigor do Auxílio Brasil é decisiva para uma melhora na popularidade do presidente.
Para eles, a tendência de rejeição demonstrada no Datafolha, constante neste ano, pode
ser revertida. Há ainda expectativa de alívio da crise sanitária com o avanço da vacinação, o que pode permitir retorno quase normal das atividades.
O governo espera até desobrigar o uso de máscaras nos próximos meses, medida tida como precipitada por especialistas.
Por outro lado, nomes da oposição comemoraram a queda de popularidade de Bolsonaro e cobraram que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), paute pedidos de impeachment.
A oposição do Congresso acredita que o índice de intenção de voto reflete o verdadeiro sentimento da população brasileira, atingida por uma administração falha.
“O Datafolha expressa o Brasil real, que vai ao supermercado, o Brasil da classe média que tem que abastecer o carro, dos desempregados, dos desalentados, o Brasil da pandemia, das empresas quebrando. E não o país do mundo da fantasia de Bolsonaro e de uma minoria de apoiadores”, afirma o líder da oposição no Senado e vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que ainda lembra a possibilidade de abertura de um processo de impeachment.
“Espero que o deputado Arthur Lira reflita sobre esses números”, completa, em referência ao presidente da Câmara, que decide sobre a abertura do processo.
Posição semelhante tem o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que lembrou que o próprio Lira fez uma relação entre popularidade e o impeachment.
“Para pautar o voto impresso, Lira justificou dizendo que uma parcela expressiva da sociedade era favorável. Hoje a pesquisa Datafolha mostra 53% da população rejeitando Bolsonaro. Isso não seria uma justificativa para Lira acatar um entre os vários pedidos de impeachment?”, escreveu o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) no Twitter.
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), destaca a continuidade do movimento de queda da popularidade do presidente.
“A desaprovação a Bolsonaro continua crescendo, enquanto que a aprovação continua caindo. Com as insanidades de Bolsonaro na forma de lidar com a pandemia e nos ataques à democracia, o apoio a seu governo continua se deteriorando”, avalia.
“Mesmo assim, o quadro eleitoral mais provável ainda é o de polarização, o que continua dificultando a viabilidade de uma terceira via.”
Aliado e correligionário do ex-presidente Lula, o senador Humberto Costa (PT-PE) acredita que o desempenho do petista na pesquisa ainda não reflete o seu teto de intenção de voto, apesar da estabilidade do resultado, em relação à última rodada.
Costa, no entanto, reflete que ainda falta um ano para o pleito e que muitas coisas podem variar.
Assim como Randolfe, o senador petista atribui o índice alcançado por Bolsonaro a uma série de “erros e equívocos” do governo, que afetaram o nível econômico e social do país.
Sobre a possibilidade de uma terceira via ganhar força, com base nos dados apontados pelo instituto de pesquisa, Costa acredita que ela será viável caso Bolsonaro siga caindo nas intenções de voto.
“Possibilidade há, mas depende de um processo de maior fragilização de Bolsonaro e depende de uma unidade mínima, possibilidade de criação de um consenso, que parece não existir”, completa.
Para financiar a ampliação do novo Bolsa Família até o fim do ano, Bolsonaro editou na quinta-feira (16) um decreto em que aumenta o IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários).
A ideia é passar de 14,6 milhões para 17 milhões de famílias atendidas no Auxílio Brasil, que deve entrar em vigor em novembro, com o aumento do imposto, segundo o Palácio do Planalto. O governo informou que o aumento na alíquota do IOF resultará numa arrecadação estimada em R$ 2,14 bilhões.
A medida provisória que cria o Auxílio Brasil foi enviada no mês passado ao Congresso, mas segue parada. Membros da equipe econômica, do Planalto e do Ministério da Cidadania tentam encontrar uma solução para aumentar o valor do benefício, hoje em R$ 190. Bolsonaro prometeu elevar o benefício médio a pelo menos R$ 300.
O levantamento feito pelo Datafolha ouviu 3.667 pessoas maiores de 16 anos em 190 cidades do país. Feita nos dias 13 a 15 de setembro, a pesquisa tem uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Não faltaram crises desde o mais recente levantamento do Datafolha. Bolsonaro fez desfilar tanques e blindados em Brasília, sem sucesso na tentativa de intimidar o Congresso, que não aceitou a volta do voto impresso.
A economia registra problemas em série, a começar pela alta da inflação e da ameaça de crise energética no horizonte próximo.
O estouro do teto de gastos é uma hipótese cada vez mais comentada, e há pouca margem de manobra orçamentária para apostar numa recuperação de popularidade amparada em pacotes populistas.
Isso tem levado ao desembarque de setores usualmente simpáticos ao Planalto, como parte do agronegócio e do mercado financeiro. Fora a contínua crise sanitária que já levou quase 590 mil vidas no país e a percepção de corrupção federal evidenciada na CPI da Covid.
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