Após onda de protestos, extrema-direita pode vencer eleição no Chile

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Foto: IVAN ALVARADO / REUTERS

A seis dias das eleições presidenciais de domingo, os candidatos à Presidência do Chile se viram frente a frente pela última vez no debate organizado pela Associação Nacional de Televisão do Chile (Anatel), na noite de segunda-feira. Em duas horas e 45 minutos, onde foram abordados assuntos importantes como a governabilidade, a segurança pública e o meio ambiente, os cidadãos puderam ver o desempenho de seis dos sete candidatos que disputam o cargo — o sétimo, o populista Franco Parisi, faz campanha virtual nos Estados Unidos, sem pisar no Chile, aproveitando uma lacuna legal. Uma das principais conclusões da noite foi o fraco desempenho de um dos candidatos favoritos, de acordo com as pesquisas, o representante da extrema direita, José Antonio Kast.

Kast não parecia seguro nem sorridente como nos debates anteriores, nos quais não sofria a pressão de liderar várias das últimas pesquisas. Foi justamente essa posição de não ter nada a perder que lhe permitiu subir nas sondagens, até chegar a empatar e inclusive superar seu principal adversário, o deputado Gabriel Boric, candidato da Frente Ampla de esquerda em aliança com o Partido Comunista, outro dos favoritos para disputar o segundo turno, em dezembro.

Na órbita de Donald Trump e de Jair Bolsonaro, mas sem suas estridências, Kast, um advogado de 55 anos, mudou de semblante quando Boric, logo no começo do debate, o recriminou por diversas iniciativas polêmicas contidas em seu programa. O deputado de esquerda segurava esse documento e ia citando as páginas, o que deixou Kast desconcertado:

— Aqui há uma série de atos discriminatórios que põem em risco avanços que foram substantivos em matéria de respeito aos direitos humanos de todos e todas. E aqui o importante é que necessitamos de um presidente de todos os chilenos, que seja capaz de escutar. Viram José Antonio Kast pactuar com alguém que pense diferente? — questionou Boric.

Foi um debate com fortes críticas entre os postulantes ao La Moneda, mas Kast foi o principal alvo do resto dos competidores. Começou suas intervenções com uma bandeira de Cuba e manifestando seu apoio à população que na segunda-feira tentou se mobilizar na ilha contra o regime, mas, numa das primeiras perguntas dos jornalistas, ele teve que explicar uma comparação feita na sexta-feira entre a ditadura do Pinochet e o regime de Daniel Ortega na Nicarágua.

Em referência às primeiras eleições democráticas chilenas de 1989, com o militar ainda no governo, Kast afirmou que “não se prenderam opositores políticos”, ao contrário do que ocorreu no recém-encerrado processo eleitoral nicaraguense. No debate, o candidato do Partido Republicano alegou que foi interpretado de forma errônea ou maliciosa, porque nunca ignorou as violações aos direitos humanos no regime chileno.

Mas houve três tropeços evidentes: quando perguntou a uma das entrevistadoras se era casada, quando disse não estar de acordo com seu próprio programa em uma questão sobre energia, e ao reconhecer que não sabia qual é o PIB do Chile. O candidato conservador — que baseia seu discurso na ordem, no crescimento econômico e no controle da imigração —, mostrou sua fragilidade em temas econômicos, uma frente especialmente conflitiva para o esquerdista Boric, que no debate não cometeu grandes erros, mas tampouco brilhou entre os competidores.

Em meio a um período de proibição das pesquisas — a lei veda sua divulgação nos 15 dias anteriores ao pleito —, não fica claro se o debate chegará a inclinar a balança na reta final da disputa, mas existe consenso de que, numa campanha polarizada e competitiva como a atual, cada acerto e cada erro podem ser determinantes.

Enquanto o postulante da esquerda defendeu a coluna vertebral de seu programa de governo, com mudanças estruturais profundas, também procurou dar certos sinais de moderação no aspecto econômico e na ordem pública. Como ocorreu com Kast, a situação da Nicarágua complicou o deputado de 35 anos, porque seus sócios do Partido Comunista publicaram uma carta de apoio ao regime, embora parte da nova geração dessa formação e o próprio candidato tenham se distanciado da iniciativa.

Um segundo momento de tensão para Boric ocorreu quando ele foi questionado sobre uma denúncia de assédio sexual ocorrido há quase 20 anos, quando ele era líder estudantil, e que voltou à tona nos últimos dias.

— Não há hoje uma acusação apresentada, mas estou totalmente disponível para qualquer tipo de investigação, porque não basta que eu afirme minha inocência. É preciso entregar todas as garantias a quem se sentiu e foi vítima de assédio, abuso ou maus-tratos — afirmou o candidato da esquerda.

Enquanto Kast não mostrou exatamente seu melhor desempenho na última aparição coletiva perante a opinião pública, o candidato governista, Sebastián Sichel, teve uma postura inédita nos debates anteriores, mantendo vivas suas esperanças de passar ao segundo turno. Ganhador das primárias realizadas em julho, ele mostrou as cartas de uma direita moderna, não radical, tentando se diferenciar de Kast, que o foi superando nas pesquisas ao longo das semanas.

Enquanto isso, a única mulher candidata, a democrata-cristã Yasna Provoste, defendeu o legado da Concertação de centro-esquerda que governou o Chile em diversas ocasiões, embora esse não tenha sido um eixo relevante durante sua campanha.

— Somos herdeiros dessa Concertação que conseguiu reduzir a pobreza, que deu estabilidade, que deu governabilidade — disse a senadora, que não conseguiu diferenciar-se de Boric e tem poucas chances de passar ao segundo turno, segundo as últimas pesquisas disponíveis.

O também progressista Marco Enríquez Ominami, candidato pela quarta vez, assumiu o papel de franco-atirador da noite. Com habilidade comunicativa e grande desenvoltura diante das câmeras, ele aposta em convencer a população de que tem melhores possibilidade que Boric de derrotar Kast no segundo turno. Na extrema esquerda, o radical professor Eduardo Artés prometeu que ele próprio encabeçaria os protestos contra seu eventual governo.

Entre os sete candidatos, nenhum ultrapassa 30% das intenções de voto, de acordo com as últimas pesquisas, e 23% dos eleitores ainda estariam indecisos, por isso a participação eleitoral em um sistema de voto voluntário será um fator determinante, que poderia inclinar a balança.

O Globo

 

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