PDT do Rio dará palanque a Lula
Foto: Reprodução/ Valor Econômico
No páreo para a corrida a governador do Rio, o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) articula abrir seu palanque ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário do pré-candidato ao Planalto de seu partido, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Neves encontrou-se com Lula em São Paulo, no início do mês, num movimento que reflete o interesse do PT de ir além do apoio do deputado federal Marcelo Freixo, cujo PSB deve integrar a aliança nacional dos petistas na eleição de 2022.
Desse modo, Lula pode ter um palanque triplo no Rio, caso receba também a adesão do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, lançado ao Palácio Guanabara pelo prefeito da capital Eduardo Paes (PSD). Enquanto isso, Ciro contaria com um único palanque, ainda assim dividido com Lula.
Por uma questão de “liturgia” e para não melindrar o presidenciável de seu partido, o ex-prefeito de Niterói, antes de se reunir com Lula, conversou com Ciro Gomes e o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, para explicar “a circunstância eleitoral” do Rio. “A estratégia de palanque duplo é fundamental e temos convicção de que podemos vencer a eleição a governador”, diz Neves, cuja reunião com Lula durou quase três horas.
A aproximação tira de Ciro um palanque exclusivo e competitivo no Estado que é o terceiro maior colégio eleitoral do país. Pesquisa divulgada nessa terça-feira pelo Instituto Gerp mostra que Rodrigo Neves ganharia hoje no primeiro turno a disputa a governador, com 53% das preferências, em São Gonçalo, município com maior eleitorado depois da capital. Na vizinha Niterói, que administrou por oito anos, Neves obtém índice maior, de 66% dos votos válidos, segundo levantamento divulgado na semana passada. Há um ano, o ex-prefeito elegeu o sucessor, Axel Grael (PDT), no primeiro turno, com 62,6% dos votos válidos.
O argumento para franquear o palanque a Lula, conta Neves, baseia-se em precedentes abertos no próprio Estado de Ciro Gomes, o Ceará, onde petistas e pedetistas formam uma aliança histórica – embora estremecida pelos atuais ataques de Ciro a Lula -, e no Maranhão, onde o pré-candidato do PDT à sucessão do governador Flávio Dino (PSB), senador Weverton Rocha, tem apoio do PT estadual. O ex-prefeito diz ter o aval de Lupi e compreensão de Ciro.
“Assim como foi feito no Ceará, é possível que seja feito no Maranhão e fazermos a mesma composição no Rio. Isso é muito importante, porque maior do que nossas divergências pontuais é o compromisso que nós temos de lutar contra esses retrocessos sociais, econômicos e democráticos e manter o diálogo e as pontes para reconstruir o Rio e o Brasil”, afirma.
Neves está filiado ao PDT desde o fim de 2017, mas pertenceu por 18 anos, até 2015, ao PT, sigla pela qual se elegeu vereador, deputado estadual e conquistou o primeiro mandato de prefeito. Teve uma breve passagem pelo PV, por onde conquistou o segundo mandato, em 2016. “Temos uma aliança entre trabalhistas e petistas, aqui no Leste Fluminense, que não é de véspera de eleição, é sólida, de muitos anos: em Niterói, Maricá, Cabo Frio, São Gonçalo, onde a esquerda e a centro-esquerda sempre tiveram seus melhores resultados no Rio”, afirma.
O pedetista diz que, apesar de registrar entre 10% e 12% das intenções de voto, considerando todo o Estado, as pesquisas indicam que a pré-candidatura tem muito a avançar pois seu nome é desconhecido por 75% dos eleitores fluminenses. Entre os principais adversários está Freixo, que lidera os levantamentos, e o governador Cláudio Castro, do PL, legenda com a qual o presidente Jair Bolsonaro negocia filiação.
Neves lembra ainda que por estar cursando um ano do programa de doutorado do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, onde é pesquisador convidado desde janeiro, não teve tempo ainda de deslanchar uma pré-campanha como Freixo e Castro. Mas aproveitou a vinda para o encontro com Lula para realizar agendas na zona oeste da capital e em municípios da Baixada Fluminense.
A reunião com o ex-presidente foi intermediada pelo PT estadual, que tem como líder o ex-prefeito de Maricá, Washington Quaquá, e seu sucessor da direção partidária, João Maurício de Freitas, além do presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano.
Além do apoio a Lula, a eleição ao Senado de Ceciliano – que tem espaços no governo estadual, como a secretaria de Infraestrutura – é a prioridade do PT no Rio. O objetivo é que o partido não se coligue formalmente a nenhuma chapa a governador, num acordo para que os aliados abram mão de lançar um concorrente contra Ceciliano. “O que eles ganham é que o PT não fecha com um só. De todos, o único que topou [não lançar ao Senado] veementemente foi o Rodrigo [Neves]”, afirma Quaquá. “A minha defesa é que o PT não feche com nenhuma candidatura, que o Lula tenha dois, três palanques e que a nossa candidatura majoritária seja a do André Ceciliano”, completa.
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