Moro e Bolsonaro disputam o eleitorado fascista

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Foto: Jorge William / Agência O Globo

Movimentações recentes no cenário eleitoral esquentaram a disputa entre o ex-ministro Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência, e o presidente Jair Bolsonaro, em busca da reeleição, por apoio dentro de grupos que tiveram peso decisivo em 2018. Ambos competem para cativar o eleitorado da direita e centro-direita, o que os obriga a direcionar esforços aos mesmos setores.

O partido de Moro filiou ontem o general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria-Geral do atual governo. Ele foi demitido em junho de 2019 após desavenças públicas com Bolsonaro. A aquisição passa pela estratégia do Podemos de tentar atrair a ala militar, um dos pilares de sustentação do presidente da República ao longo de toda a sua trajetória política no Legislativo. No fim da tarde, o ex-juiz publicou nas redes uma foto de uma reunião em que estava outro general, o ex-porta-voz de Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros: “Na pauta, a transparência das contas públicas”, escreveu.

Quando oficializou seu ingresso no Podemos, no início do mês, Moro afagou a categoria fardada:

— Vamos valorizar as Forças Armadas. Devemos respeitá-las como instituição de Estado e jamais utilizá-las para promover ambições pessoais ou interesses eleitorais. As Forças Armadas pertencem aos brasileiros e não ao governo.

Para não perder um dos seus eleitorados mais fiéis, Bolsonaro tem intensificado as agendas em eventos das Forças. Hoje, ele vai a uma formatura no Rio da brigada de infantaria paraquedista do Exército e, amanhã, tem presença confirmada numa cerimônia de com cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, instituição em que o próprio presidente estudou e na qual conheceu Santos Cruz.

Presidente e ex-ministro também têm trabalhado para conquistar o União Brasil, partido resultante da junção entre DEM e PSL, que contará com tempo de televisão e fundo eleitoral significativos. Como revelou a colunista do GLOBO Bela Megale, a cúpula da futura sigla está dividida entre os dois candidatos. O vice-presidente do PSL, Antonio Rueda, por exemplo, tem a preferência por Bolsonaro. Outros do partido, contudo, como o presidente do PSL em São Paulo, o deputado federal Junior Bozella, prega apoio a Moro, assim como o ex-deputado bolsonarista Julian Lemos (PSL-PB). De acordo com a coluna de Lauro Jardim, do GLOBO, numa reunião do União Brasil, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, pretenso postulante ao Palácio do Planalto, afirmou que os correligionários deveriam começar a considerar a hipótese (Sergio) Moro.

Ainda na busca por musculatura eleitoral, Moro avançou em direção a um parceiro de Bolsonaro: o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), o chefe de Executivo mais importante da lista de apoiadores do presidente da República. O ex-juiz se encontrou com ele anteontem, em Belo Horizonte, com o objetivo de atrai-lo ao seu projeto. A reunião ocorre num momento de desgaste da relação entre o titular do Planalto e o político mineiro, em virtude das recorrentes críticas de Bolsonaro à postura dos governadores diante do aumento do preço dos combustíveis.

A seara econômica também movimenta a corrida entre os dois ex-aliados. O pré-candidato do Podemos articula para tirar de Bolsonaro um dos selos que o ajudou a vencer em 2018, a de um defensor de políticas liberais. Moro anunciou como seu guru na área o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, cujo perfil tende a agradar o mercado financeiro, junto ao qual Bolsonaro conquistou votos e credibilidade quando anunciou que entregaria a chave do cofre a Paulo Guedes, seu ministro da Economia desde o primeiro dia de governo. De lá para cá, contudo, a dificuldade de cumprir parte das promessas, como um amplo processo de privatização de estatais, vem minando a relação do presidente com essa ala da sociedade.

Na trincheira política, Bolsonaro vai se filiar ao PL para tentar garantir em seu palanque os partidos do Centrão, o motor de sua base de sustentação no Congresso. Antes crítico às práticas adotadas por legendas do bloco, embora já tenha sido filiado a uma delas, o PP, por mais de uma década, Bolsonaro abriu as portas do governo ao grupo. A Casa Civil é comandada por Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP. Moro e seus aliados também vêm fazendo gestos ao Centrão, que abriga personagens condenados pela Operação Lava-Jato, em que Moro atuou como juiz. Durante seu cerimônia de filiação, o general Santos Cruz defendeu que a política “não pode ser criminalizada”, argumento comumente pregado por integrantes das legendas de centro acusadas de práticas fisiológicas.

Militares: foco na caserna
Moro tem a simpatia de um grupo influente nas Forças e que demonstrou adesão ao seu projeto político comparecendo ao evento de filiação do ex-juiz ao Podemos, legenda que ontem também filiou o general Santos Cruz (foto), ex-ministro de Bolsonaro. O presidente, por sua vez, retomou a agenda com foco na caserna: hoje e amanhã vai a formatura de militares.

União Brasil: apoio indefinido
No partido que será formado a partir da união do PSL com o DEM há defensores tanto de uma candidatura de Moro quanto de Bolsonaro. Antonio Rueda, que será vice-presidente da legenda, dona de um gordo fundo eleitoral, apoia a reeleição do atual chefe do Planalto. Já o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que também se coloca como pré-candidato à Presidência, afirmou em reunião com a cúpula da futura sigla na quarta-feira que é preciso considerar a hipótese de apoiar Moro.

O governador do Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que viajou a Dubai com Bolsonaro e, recentemente, recebeu elogios públicos do presidente, almoçou com Moro na quarta-feira, quando ouviu um convite do Podemos para se juntar ao projeto do ex-juiz da Lava-Jato. Zema é aliado de Bolsonaro, mas tenta descolar a imagem do mandatário.

Liberais: aceno de ambos os lados
Com o anúncio de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, como seu conselheiro na área econômica, Moro sinaliza para os liberais. A ala foi o alvo da campanha de Bolsonaro em 2018, mas o seu ministro da Economia, Paulo Guedes, embora continue no cargo, ainda não conseguiu implementar a agenda. Moro tem participado de eventos do mercado financeiro enquanto Guedes tenta manter a adesão do grupo bolsonarista para 2022, mesmo sob constantes críticas do grupo político ligado ao presidente.

Centrão: bloco ganha peso
De mudança para o PL, Bolsonaro agora não só contará com o Centrão na base do governo como fará parte do grupo, integrado também por PP e Republicanos. Este, de Marcos Pereira (foto), já foi sondado pelo Podemos, que acena com pautas conservadoras. Algoz do grupo na época da Lava-Jato, Moro agora diz que há “boas pessoas” no bloco.

O Globo

 

 

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