Faculdade de medicina cria “curso do Reino de Deus”

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Foto: Reprodução

O Departamento de Medicina Clínica da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) está com as inscrições ainda abertas para um curso de extensão intitulado “A Construção do Reino de Deus”. Com carga horária de 30 horas, as atividades são feitas em seminários e tiveram início em junho deste ano.

A oferta do curso, com 220 vagas, está sendo feita no portal da UFRN, na plataforma Sigaa, que traz a “Lista de Cursos e Eventos de Extensão com Períodos de Inscrição Abertos”. Foi o terceiro curso, desde 2019, que trata do “reino de Deus” como um dos temas (veja mais abaixo).

Segundo a plataforma, os seminários do curso foram conduzidos quinzenalmente, às segundas e quartas de cada mês. O início do curso ocorreu em junho e a previsão de encerramento é para o dia 15 de dezembro.

A extensão universitária é uma das das funções sociais da universidade, e o objetivo é realizar projetos, eventos e cursos, por exemplo, que levem o conhecimento da academia às pessoas. Como qualquer atividade acadêmica, os cursos de extensão valem como carga horária para os participantes.

Em nota ao UOL, a UFRN alegou que o curso atenderia ao “pluralismo de ideias”. Veja a resposta completa:

“1. A Constituição Federal, no seu artigo 206, estabelece que o ensino será ministrado com base nos princípios da ‘liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, além do “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas’.

2. O evento foi aprovado pelo Departamento de Medicina Clínica (DMC) do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e está inserido no contexto da disciplina optativa ‘Medicina, Saúde e Espiritualidade'”.

Segundo a ementa do curso de extensão, como a universidade tem “vocação institucional da busca do conhecimento em qualquer vertente”, a ideia é que um dos “conhecimentos mais significativos para a humanidade, foi aquele trazido por Jesus”.

“[Ele] se dizia filho de Deus e comprovava isso com a produção de fenômenos que estavam acima da capacidade humana do seu tempo e até os dias atuais, conforme relatos aceitos majoritariamente pela maioria das pessoas que é informada”, diz a descrição.

Ainda de acordo com a ementa, a ideia faz parte de um conceito da “disciplina opcional, ‘Medicina, Saúde e Espiritualidade (MSE)’, oferecida pelo Departamento de Medicina Clínica (DMC), do Centro de Ciências da Saúde (CCS), de aprofundar o conhecimento da proposta da construção do Reino de Deus, para verificar sua aplicabilidade no meio social, com a contribuição de várias fontes de saber que sintonizam com a proposta”.

Ele explicava que veio ao mundo a pedido do Pai (Deus), assumir a personalidade do Cristo (Messias, Salvador) para ensinar a humanidade sobre o Amor, e a partir daí construir a família universal que seria a base para a construção do Reino de Deus, uma sociedade civil harmônica e sintonizada com a vontade de Deus.”
Ementa do curso

Outros cursos
O coordenador do curso de extensão é o professor Francisco das Chagas Rodrigues, psiquiatra e doutor em psicofarmacologia pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Esse não foi o primeiro curso dentro da UFRN que tratou sobre o reino de Deus comandado por ele. Em 2019, Rodrigues coordenou o curso “Reino de Deus – Construção Possível?”. No ano passado, foi a vez do “Reino de Deus, uma Utopia Social?”.

Ainda em 2019, liderou o projeto “Foco de Luz”, também dentro da academia, para “promover educação cristã aos moradores da Praia do Meio, através de reuniões e eventos”.

Rodrigues também foi responsável pelo projeto “Medicina, Saúde e Espiritualidade e Reforma Íntima”, de 2020, que buscou “a conscientização do dependente químico e de seus familiares como elementos importantes para manter a doença sob controle”.

O UOL conversou com Rodrigues, que defendeu os cursos dados na UFRN. “Na minha condição de acadêmico e de psiquiatra, vejo a importância dos ensinamentos de Jesus para a construção de uma sociedade justa como de alternativa terapêutica na reestruturação dos pensamentos, contribuindo para o controle de transtornos mentais, como ansiedade e depressão”, disse ele, que segue a religião espírita.

Da mesma forma que sou instigado a ir em busca dos mecanismos de ação dos psicofarmacos e da melhor forma de conduzir uma psicoterapia, também tenho a obrigação de investigar se os conceitos que Jesus ensina tem aplicabilidade prática, tanto no social como no individual. Isso não implica em convocar ninguém para nenhum tipo de igreja, mas clarear a mente para ver o que mais interessa a pessoa e a sociedade
Francisco das Chagas Rodrigues

Ainda segundo o professor, nos cursos não há “proselitismo religioso.” “No evento procuro fazer comentários de natureza livre sobre os ensinamentos de Jesus, colocando o meu raciocínio acadêmico para ver se há incoerência nos enunciados; e depois deixo a liberdade para os participantes também colocarem suas críticas de forma livre. Não faço juízo de valor, apenas procuro a coerência da fala, do comportamento e dos ensinamentos”, garante.

Estado laico?
A ideia de ter um curso de religioso na grade oficial gerou debate nas redes sociais, com internautas criticando e outros defendendo a ideia.

Para Manoel Galdino, coordenador da ONG Transparência Brasil, “um dos fundamentos consagrados da Constituição é que o Estado é laico”, e atividades como as da UFRN não deveriam ser fornecidas em universidades. “Não se pode utilizar as instalações do Estado brasileiro para fazer proselitismo de uma religião específica”, diz.

Não haveria problema em estudar, tanto dos pontos de vista histórico ou mesmo do ponto de vista clínico –com avaliação dos efeitos de uma crença, ou qual eram os ensinamentos. Mas não se pode utilizar uma universidade pública para defender e propagar os valores de uma religião específica, qualquer que seja ela.”
Manoel Galdino, coordenador da Transparência Brasil

Ele ainda ressalta que, mesmo o cristianismo sendo a base religiosa da maioria da população brasileira, verba pública não deveria ser destinada a essa finalidade. “Os recursos são para financiar o trabalho na universidade pública, como instalações, funcionários e equipamentos. Não podem ser usados para propagar valores desejados específicos”, finaliza.

Uol

 

 

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