Gerente da Anvisa diz a Bolsonaro que seu nome está na resolução

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Foto: Reprodução

O gerente geral de Medicamentos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Gustavo Mendes, disse, no UOL News desta manhã, não ver preocupação sobre a possível divulgação dos nomes dos responsáveis pela aprovação da vacina da Pfizer contra o novo coronavírus para crianças de cinco a 11 anos.

Horas depois da Anvisa anunciar a aprovação da aplicação do imunizante nesta faixa etária, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, em sua tradicional live de quinta-feira, que iria pedir a agência os nomes dos responsáveis pela decisão para divulgá-los publicamente.

“Meu nome sai na resolução que aprova (o uso da vacina da Pfizer em crianças), já está publico isso, é de fácil acesso. Me sinto muito tranquilo, porque quando aceitei o desafio de ser gerente geral de Medicamentos sabia que esse tipo de decisão era parte do meu trabalho. Como tenho respaldo da equipe técnica, a segurança de que fizemos um trabalho que foi amplamente discutido, me sinto muito tranquilo sobre essa situação”, disse Gustavo, em entrevista à apresentadora do Canal UOL Fabíola Cidral.

O farmacêutico explicou que a medida foi tomada por um grupo formado por diversos especialistas da gerência do qual é responsável, que tem cerca de 200 profissionais. De acordo com ele, a análise feita pela agência levou em conta como a questão foi adotada em outros países, através de suas agências reguladoras.

Essa decisão é tomada com base em critérios técnicos, são estudos científicos, randomizados, controlados, que precisam ser avaliados com rigor de rastreabilidade, confiabilidade das informações. Por isso, este trabalho que fizemos, que culminou na aprovação de uma vacina para crianças, foi um trabalho que não existe questionamento técnico
Gustavo Mendes

O gerente da Anvisa detalhou ainda que a agência ouviu grupos que têm relação com a questão no Brasil, como as sociedades médicas de pediatria, de infectologia, de imunologia, e de pneumologia. Sobre as expertises dos técnicos da gerência que fizeram parte da decisão, ele conta que houve, por exemplo, estatísticos, biólogos, farmacêuticos, biomédicos e médicos.

“São olhares distintos. A gente tem que olhar segurança, eficácia e estatística que levam a essas conclusões. É uma avaliação multidisciplinar, por isso que são diferentes especialistas envolvidos, e cada um emite um parecer sobre a sua parte, que pode, claro, ser avaliado por pares. A gente sempre busca ter uma revisão, um olhar duplo, um duplo check para conferir se as informações fazem sentido”, disse Gustavo.

Incorporação ao PNI
A aprovação pela Anvisa do uso da vacina da Pfizer em crianças de cinco a 11 anos não faz com que ela passe a ser aplicada automaticamente nessa faixa etária no país. O trabalho da agência, como explica, Gustavo, foi de respaldar a eficiência do imunizante. Agora, cabe ao Ministério da Saúde fazer sua inclusão no PNI (Programa Nacional de Imunizações) para que, aí sim, seja disponibilizado nos postos de saúde.

Ontem, ao ser questionado sobre quando as crianças começariam a ser vacinadas, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que é necessário fazer outra avaliação sobre o tema junto da sociedade. O gerente da Anvisa concorda com um amplo debate, mas faz ressalvas sobre como ele deve ser feito.

É importante ouvir a sociedade no sentido da sensibilidade que o tema traz, mas, claro, sem colocar nenhum viés que for ideológico e que possa atrapalhar essa decisão técnica. Tem que ter uma decisão técnica. É preciso separar essas questões, porque se não a gente não consegue ter uma decisão de saúde pública
Gustavo Mendes

O gerente da Anvisa disse que, durante a análise feita pela agência, avaliou-se a relação entre risco e benefício na aplicação da vacina em crianças. Ele cita o risco de miocardite e pericardite, que têm sido usada por grupos antivacinas para criticar o uso de imunizantes, principalmente em crianças e jovens.

“Vimos que os casos são raríssimos. Estamos falando de 0,007% e de casos que são facilmente manejáveis. Alguns poucos casos geram internação, acabam sendo tratados e não resultam em danos maiores ou frequentes para os indivíduos, e têm se concentrado em uma faixa de adolescentes do sexo masculino, que já é mais suscetível”, disse Gustavo.

Gustavo ainda disse que durante a análise feita pela Anvisa não foi encontrada reação grave nas crianças que foram vacinadas em outros países.

CoronaVac
Além da Pfizer, o Brasil também pode ter liberado o uso da CoronaVac, vacina contra a covid-19 produzida no país pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, para crianças e jovens. Depois de ter um primeiro pedido negado, o Butantan enviou à Anvisa, na quarta-feira (15), uma nova solicitação para aplicação da vacina em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos.

O gerente da Anvisa explica que o primeiro pedido foi negado porque não houve a comprovação da segurança da aplicação da CoronaVac na respectiva faixa etária, além de uma confirmação de que o imunizante iria produzir anticorpos contra o novo coronavírus nas crianças e adolescentes.

Ficou parecendo, muitas vezes no discurso, que era falta apenas de documentos, apenas de certidões, certificados. Mas, na verdade, os dados eram insuficientes e foi ali que a gente disse ‘neste momento ainda não temos condição de aprovar’
Gustavo Mendes

A Anvisa tem até 30 dias para analisar o novo pedido. Gustavo, no entanto, disse que essa avaliação está tendo prioridade na agência, por causa da necessidade de haver mais vacinas contra a covid-19 para aplicação na população brasileira.

“Acredito que nos próximos dias ou na semana que vem possamos ter uma caracterização melhor de que esses dados estão completos ou se vai precisar de mais alguns esclarecimentos para tomar essa decisão”, disse Gustavo.

Uol

 

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