Presidente do PDT diz que só Ciro tem projeto de governo
Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press
A terceira via da corrida presidencial, nas eleições de 2022, ganhará mais um concorrente de peso: Ciro Gomes. Em entrevista ao Correio, Carlos Lupi, presidente do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ex-ministro do Trabalho e Emprego dos governos Lula e Dilma Rousseff, confirmou a candidatura na pré-convenção nacional do partido, que será oficializada em 21 de janeiro. Esta será a terceira tentativa de o ex-ministro dos governos Itamar Franco e Lula se tornar presidente da República — em 2018, Ciro ficou em terceiro lugar no primeiro turno.
Para Lupi, a grande vantagem de Ciro sobre os demais concorrentes da terceira via é sua bagagem política, que acumula prefeitura, governo estadual, mandatos de deputado estadual e federal e duas passagens por ministérios. O presidente do PDT avalia que o currículo na vida pública pesará na corrida eleitoral de 2022, ao contrário do pleito presidencial anterior. Lupi, dessa forma, insinua que não haverá espaço para “novidades” ou candidaturas que se apresentem como antipolítica, como foi o caso de Bolsonaro, em 2018. Tais características se encaixariam em Sergio Moro, que, nas pesquisas de opinião, tem ficado com o terceiro lugar, à frente de Ciro.
Aliás, de acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha, publicada na última quinta-feira, Ciro tem 7% das intenções de voto, que o coloca em quarto lugar. Mas Lupi não se deixa impactar pelo percentual nem a posição na corrida. “Pesquisa é que nem nuvem, cada hora está em um canto”, diz.
O presidente do PDT também não vê empecilhos em relação à operação da Polícia Federal que, na última terça-feira, esteve na casa de Ciro recolhendo documentos por supostas irregularidades cometidas pelo pré-candidato e o irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), nas obras da Arena Castelão, quando da reforma do estádio para a disputa da Copa do Mundo de 2014. Com base até mesmo nas demonstrações de solidariedade que Ciro recebeu — uma delas do ex-presidente Lula —, Lupi tem certeza de que não atrapalhará a campanha ou será problema nos debates com os adversários. E lembra o trecho de uma música cantada pela sambista Alcione: “Quem fala a verdade não jura, nem tem medo de errar”. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Há unanimidade e vontade de o PDT apresentar Ciro como candidato?
O partido está unido. No dia 21 de janeiro, realizaremos uma pré-convenção nacional na qual confirmaremos a candidatura do Ciro. Em 22 de janeiro, que seria a data na qual Leonel Brizola completaria 100 anos, faremos uma série de atos, em comemoração ao centenário. Haverá a inauguração de uma estátua dele, na sede do partido, com painel de exposição da sua biografia na Câmara dos Deputados e uma sessão solene.
Por que Ciro Gomes e o que ele tem a oferecer?
Em 2016, quando o Ciro se filiou ao PDT, começamos a construir um projeto nacional para salvar o desenvolvimento. Ele foi candidato em 2018 já na construção desse plano. Durante a campanha, ele consolidou o programa e lançou, em 2020, um livro (Projeto Nacional: O dever da esperança) sobre esse projeto com todas as causas e efeitos, todos os problemas do sistema macroeconômico das áreas energética, social, saúde, educação e meio ambiente. Ele fez a radiografia e apresentou as soluções. A candidatura do Ciro representa um projeto nacional de desenvolvimento que começa na década de 1930, ainda com Getúlio Vargas, quando quebrou a hegemonia da Política do Café com Leite e começou a criar um projeto para o Brasil. Ciro representa a modernização desse projeto. Nós estamos convictos de que esse é o melhor caminho para o Brasil.
Como esse projeto se encaixa em um Brasil pós-pandemia?
Todo projeto que tenha boa fé e seja democrático, sempre está em processo de construção. Nós apresentamos parâmetros e bases. Estamos sempre abertos a contribuições, à evolução.
Qual foi a reação dentro do partido quando Ciro anunciou que retiraria a candidatura se o PDT votasse a favor da PEC dos Precatórios no segundo turno? A reagir contra a proposta de emenda constitucional, ele definiu que trava-se de “um ato de luta”. O PDT, depois disso, de fato se colocou contra o texto que tramitava no Congresso.
Se, na primeira eleição, primeiro turno da votação dos precatórios, tínhamos 15 deputados que votaram a favor dos precatórios, na segunda votação apenas um votou. Nós revertemos a votação. É por isso que tem dois turnos. No primeiro, você vota de uma maneira mais livre, no segundo, você amadurece e segue a orientação do partido. Dos 21 deputados, 20 seguiram a orientação. A fala de Ciro teve repercussão, mas teve uma repercussão maior sobre o que isso representava: uma espécie de carta branca, um protesto contra um governo despreparado, que está aumentando a inflação — a maior inflação que o Brasil já teve em anos. Tudo isso pesou na hora de decidir.
O fato de Ciro ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal, na última terça-feira, pode atrapalhar a campanha ao Palácio do Planalto? Ele recebeu alguma sugestão de, por causa da ação, desistir da candidatura? Como o PDT está lidando com esse episódio?
Ele não está envolvido em nada. Teve uma investigação da Polícia Federal determinada por um juiz, anos depois do fato, para fazer busca e apreensão na residência de Ciro. Primeiramente, é muito estranho que de oito a 10 anos depois do fato acontecido, da denúncia apresentada, a Justiça só apareça agora, às vésperas das eleições, dando claramente uma conotação político-eleitoral. Segundo: a denúncia que se apresenta é de um delator. O que o delator é? Ele sempre ganha algum benefício por conseguir entregar alguém. Eles têm que provar. A Justiça é clara! Todo mundo é inocente até que se prove o contrário. Qual a prova que eles têm? Qual é o fato? O Ciro não estava no poder, não era secretário, não era assessor, não estava em nenhuma função pública. Que poder o Ciro tinha de favorecer A ou B? A obra do Castelão, foco da denúncia que foi apresentada, saiu R$ 100 milhões mais barata e foi o primeiro estádio a ser finalizado para a Copa no Brasil. Então, o que se apresenta? Na minha opinião é uma questão direcionada para prejudicar a candidatura do Ciro. Se for isso, nós vamos fazer um enfrentamento com muita tranquilidade, com muita firmeza. Eu afirmo que a candidatura do Ciro vai até o final, doa a quem doer.
Mas esse episódio não se tornará munição para os adversários usarem contra ele?
Você sabe que a música é uma terapia. E tem uma que a Alcione canta que fala assim: “Quem fala a verdade não jura, nem tem medo de errar”. Nenhum de nós tem medo da verdade, ela é libertadora. Não temos nenhuma preocupação, Ciro não tem comprometimento algum na sua vida pública. Foram 40 anos de gestão como prefeito, governador, deputado, ministro — nunca teve uma mácula na vida. E não será agora, com base em uma denúncia vazia, que vão manchá-la.
As pesquisas que vêm sendo divulgadas mostram que, em 2022, a corrida presidencial estará, mais uma vez, polarizada. Além disso, o campo de ação da terceira via se mostra congestionado com várias candidaturas. O que o leva a acreditar que Ciro romperá essas barreiras e ganhará musculatura na disputa?
Quem escala candidato é a população, não é a pesquisa. A sondagem traz a fotografia daquele momento. O Bolsonaro perdeu 60% dos seus eleitores. Nesses 20% a 23% (que o presidente da República ainda tem), é óbvio que na hora que se inclui temas como inflação, desemprego, desrespeito à medicina, pandemia de covid-19 que matou mais de 600 mil pessoas, Bolsonaro é corresponsável por tudo, inclusive está sendo denunciado pela atuação que teve nesse período. Não se pode colocar e resumir a inteligência do povo brasileiro em um ringue entre o passado e o presente. Nós queremos olhar o futuro, e o futuro não pode ser ligado nem ao passado nem ao presente. O futuro é o amanhã, e nós somos o único partido que apresenta um projeto consolidado com começo, meio e fim, com proposta para cada setor — e mais, com a coragem de tocar no sistema financeiro. Nós somos tão democráticos que queremos copiar a democracia americana. Nos Estados Unidos tem cinco mil bancos, no Brasil, há cinco que detém 85% do dinheiro nacional — e desses cinco, três são privados. A democracia brasileira é fraca, é frágil. Nós queremos começar pelo sistema financeiro para ter uma oferta de vias mais baratas para pequenos e médios empreendedores poderem gerar empregos.
Ciro trilha uma via eleitoral que, hoje, está marcada pelo excesso de candidaturas. Mas tem uma em particular que vem avançando, o que é confirmado pelas pesquisas: a do ex-juiz Sergio Moro. O senhor acredita que Ciro e Moro disputam o mesmo eleitor, que teoricamente seria crítico a Lula e a Bolsonaro e não votaria nesses dois em hipótese alguma?
É tipo matriz e filial. O Bolsonaro virou matriz de um segmento da sociedade raivoso, homofóbico, racista e que representa esse percentual que está tendo aí, de 20% a 23%. E o Moro é uma filial que tenta buscar esse mesmo campo. Nessa briga entre matriz e filial, a gente não tem que se meter. Temos que sentar em uma cadeira e ver essa competição. Acho que o Brasil tem que apostar na inteligência do povo. Temos que discutir projetos. Não é sobre liderança mais popular, mais carismática, mais simpática. Temos que buscar quem tem mais experiência, quem já foi testado e aprovado, quem tem uma vida com honra. Isso não é uma escolha de síndico, de chefe de torcida organizada; a Presidência da República no Brasil é a mais alta e importante esfera de poder. Não podemos apostar novamente em um ignorante na Presidência, para fazer essas coisas erradas que o Bolsonaro está fazendo. Por isso, eu acredito que o projeto que o Ciro representa é a melhor saída possível para o povo brasileiro. E nós vamos trabalhar para isso.
O PDT se interessaria em fazer parte de uma federação?
Federação é apenas uma estratégia de sobrevivência eleitoral. Somos um partido de princípio e qualquer legenda que precisar da nossa ajuda para sobreviver, daremos contribuição. Mas não quebraremos nenhuma regra eleitoral. Estamos confiantes que, em 2022, vamos eleger mais de 35 deputados federais e alcançar mais de 5% do eleitorado. Conversa sempre tem, o diálogo é aberto com todo mundo que queira participar de um projeto de reconstrução do Brasil.
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