Campanha contra doc de produtora bolsonarista gera polêmica

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Foto: Divulgação/UFPR

O anúncio da exibição de um documentário lançado pela produtora conservadora Brasil Paralelo, marcada para a noite desta quinta-feira na Universidade Federal do Paraná (UFPR), provocou críticas de setores progressistas. Uma campanha nas redes sociais quer impedir a transmissão do conteúdo naquele espaço público.

O protesto foi puxado pelo perfil no Twitter “Brasil para lerdos”, uma paródia com a própria produtora que tem se engajado em “denunciar o discurso supremacista da Brasil Paralelo”. Segundo o perfil, a produtora tem um projeto “fascista” e quer usar de instituições públicas para promover seu conteúdo.

O documentário “O fim da beleza” trata, na visão de seus produtores, como “desde o iluminismo, o ser humano vem se afastando das ideias e valores que sustentavam a cultura ocidental”. A tese aborda uma suposta decadência da sociedade, ideia presente em outras críticas do estúdio, como àquelas a respeito da diversidade de princesas da Disney, por exemplo. Nas produções mais recentes, as personagens deixaram de ser apenas mulheres brancas, loiras e de olhos azuis para adquirirem tonalidades de pele e traços étnicos mais variados.

Nas redes sociais, críticos à Brasil Paralelo resgataram trechos de um episódio de seu podcast, o Redpill (metáfora da pílula vermelha do filme “Matrix”, símbolo apropriado pela extrema direita internacional), em que o apresentador Guilherme Freire e as convidadas Mariana Brito e Pietra Bertolazzi desaprovam as “princesas feias” da Disney, como a polinésia Moana e a nova Cinderela da cubana Camila Cabello. Segundo os críticos, a produtora defende uma visão segundo a qual existe uma beleza superior ligada à raça branca.

“A gente está sendo induzido agora a querer achar que ser gordo é bonito, que pode ser bonito você ser feio. Você não pode relativizar a beleza”, opinou Bertolazzi na ocasião.

Enquanto a campanha contra a exibição do documentário circulava nesta quinta, usuários nas redes sociais condenaram a iniciativa sob o argumento de que a censura, segundo eles, geralmente funciona como um tiro pela culatra. Isto é, catalisando a divulgação do objeto que se pretende suprimir em vez de coibi-lo.

 

“Entrei na Universidade em 1981, nunca saí dela. Pela minha experiência, a melhor maneira de promover um livro, um filme, um autor ou uma ideia é dizer aos estudantes ‘não pode’. Mas se acham eficiente impedir que um documentário seja apresentado na Universidade, boa sorte aí”, escreveu Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia, em seu Twitter.

A conta do “Brasil para lerdos” rebateu as críticas de que a proibição poderia somente ampliar o alcance do anúncio do filme e afirmou que “questionar a @UFPR sobre a exibição do documentário de uma produtora de extrema direita não é censura” e que “censura é o que faz a Brasil Paralelo aos assediar juridicamente pesquisadores e jornalistas”.

A produtora reagiu à campanha contra si e compartilhou a repercussão em suas redes sociais. Também aproveitou a polêmica para disponibilizar a trilogia do documentário gratuitamente em seu canal no YouTube.

“O ‘Fim da Beleza’ segue incomodando quem estava acostumado a um discurso único, hegemônico, nas universidades. Bastou confirmarmos a exibição do filme na UFPR e os censores de Twitter já começaram a se mobilizar. Ironicamente, um filme que critica o autoritarismo está sofrendo tentativa de censura”, publicou a produtora em seu Instagram.

A Brasil Paralelo fundada em 2016 em Porto Alegre, que já produziu releituras da ditadura militar brasileira e produtos voltados a um público conservador e antifeminista, tem tentado se expandir para além de seu público cativo. Ela firmou um convênio no ano passado com o G10 das Favelas, uma entidade que representa algumas das maiores comunidades periféricas do Brasil. O acordo previa a concessão de centenas de assinaturas gratuitas a moradores de Paraisópolis, favela da Zona Sul de São Paulo.

O Globo