
Agronegócio está furioso com Bolsonaro por apoio a Putin
Foto: Carl Court/Getty Images
Reflexos da guerra de Vladimir Putin se espraiam pela paisagem econômica brasileira. Principalmente no agronegócio, onde Jair Bolsonaro espera obter apoio eleitoral igual ou maior ao que conseguiu na campanha de 2018.
Cerca de 80 mil sacas de café solúvel foram vendidas à Rússia e à Ucrânia, entre janeiro e fevereiro. E as empresas exportadoras não sabem se, quando e como receberão pagamento.
De imediato, há risco de perda de 15 milhões de dólares (R$ 75 milhões) em negócios feitos na sofisticação de um mundo interconectado, agora atônito com a súbita ameaça de regresso à lei da selva.
Vai ficar pior. Líder mundial de produção e exportação de café solúvel, o Brasil acaba de perder 13% do seu mercado externo com a guerra de Putin.
Rússia e Ucrânia gastam 100 milhões de dólares (R$ 500 milhões) por ano em compras no país. Foram 540 mil sacas em 2021, volume inferior apenas às aquisições dos Estados Unidos e do conjunto de países da União Europeia. Não há chance de substituí-los, dizem exportadores.
No mapa-múndi da economia a cidade de Odessa, habitada por um milhão de ucranianos até três semanas atrás, era ponto de conexão vital ao agronegócio brasileiro.
Pelos terminais petrolíferos locais fluía um quarto dos derivados de amônia que adubavam as lavouras do país. Fecharam com o desembarque de paraquedistas russos e, para o Brasil, não há fonte alternativa de abastecimento no curto prazo. Os preços da amônia quase triplicaram.
Mais crítico é o suprimento de potássio. O Brasil é totalmente dependente — importa cerca de 90% do que consome. Rússia e Bielorrússia, juntas, forneciam metade disso. Deveriam entregar cerca de cinco milhões de toneladas de potássio neste ano, para adubar a safra brasileira de 2022/2023, a partir de outubro.
Isso acabou, com guerra de Putin e as sanções financeiras dos Estados Unidos e da União Europeia. Não há comércio, os portos fecharam e os navios mercantes desapareceram, porque as rotas marítimas mudaram depois de cinco cargueiros bombardeados.
O governo Bolsonaro tenta o socorro do Canadá, maior produtor mundial de potássio, mas as dificuldades ultrapassam a lógica dos mercados arrebatados na voragem da guerra.
A questão é essencialmente política. O Canadá faz parte da coalizão de países que, sob liderança dos EUA e da União Europeia, estão empenhados em derreter as bases econômicas do projeto de restauração do império russo. E Jair Bolsonaro apostou que, para sua campanha de reeleição, o melhor seria ficar na outra margem, à sombra de Putin.