Mourão nega que militares não aceitarão vitória de Lula
Foto: Romério Cunha/VPR
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, avaliou, em entrevista à coluna, como “totalmente desproposital” a tese levantada por alguns setores da sociedade de que as Forças Armadas não aceitarão eventual vitória do ex-presidente Lula nas eleições deste ano.
General da reserva, Mourão argumentou que, desde o fim da ditadura militar, as Forças Armadas “não se meteram em nenhum processo eleitoral”. Lembrou também que os militares foram liderados por governos do PT durante vários anos, “sem problema nenhum”.
“Isso é algo totalmente desproposital. As Forças Armadas têm se mantido dentro dos limites dos deveres constitucionais dela, têm agido dessa forma ao longo de todo esse período, desde o término do período de presidentes militares. As Forças Armadas não se meteram em nenhum processo eleitoral. Fomos aí, ao longo de 12 anos, 13 anos, governados pela esquerda, pelo PT, sem problema nenhum.”
Na entrevista, Mourão também disse chegar ao último ano de mandato com uma “relação protocolar” com o presidente Jair Bolsonaro. E confidenciou uma “preocupação” do ministro da Defesa, Braga Netto, com especulações de que poderia estar “passando a perna” em Mourão para ser escolhido o candidato a vice em 2022.
A seguir, alguns dos principais trechos da entrevista:
O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula lideram as pesquisas. Acredita que ainda há espaço para algum candidato da chamada terceira via?
Hoje, o que se indica é que os dois candidatos são os que estão com mais capacidade de se apresentarem para o hipotético segundo turno. O presidente Bolsonaro vem recuperando terreno nessas últimas pesquisas, mas, face ao número de pessoas que dizem não votar nem em um nem no outro, sempre existe a possibilidade de aparecer alguém que empolgue esse eleitorado e, consequentemente, seja um terceiro candidato capaz de mudar o cenário. Mas hoje acho difícil.
As Forças Armadas vão respeitar eventual vitória do ex-presidente Lula? Há quem aposte na tese de que os militares não aceitarão.
Isso é algo totalmente desproposital. As Forças Armadas têm se mantido dentro dos limites dos deveres constitucionais dela, têm agido dessa forma ao longo de todo esse período, desde o término do período de presidentes militares. As Forças Armadas não se meteram em nenhum processo eleitoral. Fomos aí, ao longo de 12 anos, 13 anos, governados pela esquerda, pelo PT, sem problema nenhum.
Alguém do PT ou próximo do ex-presidente Lula já o procurou para tentar um diálogo?
Não, comigo não. Nada. Zero.
Bolsonaro já o comunicou oficialmente que o senhor não será o vice dele neste ano?
Eu subentendi. Porque preto no branco, ele nunca chegou, sentou comigo, como nós estamos conversando aqui, olho no olho e disse: não vai ser você, por isso, por isso, por isso. Subentendi pelas manifestações dele, por alguns comentários que ele me mandou algumas vezes pelo ‘zap’ (sic) e, na última vez, quando vieram aqui o Ciro Nogueira e o Flávio Bolsonaro, para que eu me definisse se iria pelo Rio. Quando o cara vem me dizer que é para eu me definir se é pelo Rio, é porque eu estou fora do… A mensagem estava bem clara.
Quem o senhor aposta que será o candidato a vice neste ano?
Os indícios mais fortes são que o candidato a vice junto do presidente Jair Bolsonaro seria o Braga Netto.
Já conversou com o Braga Netto sobre o assunto?
Não. Nunca toquei nesse assunto. Ele já esteve aqui algumas vezes assim meio preocupado, por causa das, vamos dizer assim, notícias que são publicadas. De eu achar que ele estaria me passando a perna, alguma coisa do gênero. Eu disse para ele: olha Braguinha, fica tranquilo aí, pô. Não esquenta a cabeça com isso. Quem o Bolsonaro escolher, está bem escolhido. Segue o baile, pô.
Acredita que Braga Netto o substituirá à altura?
Até melhor. (Risos)
Há quem diga que o Braga Netto não tem traquejo político…
Isso tudo a gente aprende.
Como o senhor define sua relação com o presidente Jair Bolsonaro neste último ano de mandato?
Uma relação, vamos dizer assim, protocolar. Nossa relação é protocolar. Ele é presidente, eu sou vice-presidente. Procuro executar as tarefas que ele me dá, como essa tarefa que ele me deu de ir ao Chile (para a posse do novo presidente eleito, Gabriel Boric, nesta semana). Ele tem meu apoio no projeto de reeleição dele, e eu também espero contar com o apoio dele no meu projeto de ser eleito senador.
Já pediu esse apoio a ele?
Falei, falei com ele. Ele disse que vai. Vai posar na foto. Está combinado isso aí.
Com qual candidato a governador do Rio Grande do Sul o senhor comporá chapa: o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) ou o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni?
Estamos tendo conversas necessárias. Vamos lembrar que, a partir do momento em que vou ingressar num partido, não vai ser coisa que vai depender única e exclusivamente do meu desejo. Vamos ter de ver a política partidária e a quem o partido irá se aliar.
O senhor tem alguma preferência entre os dois?
Não é questão de ter preferência. O que vejo hoje é o seguinte: os dois candidatos têm que se acertar. Porque, se nós queremos vencer a eleição no Rio Grande do Sul, é necessário que haja apenas um candidato. Se ficarem os dois, vamos dividir os votos, e vai favorecer a oposição.