Palácio do Planalto vira comitê de campanha de Bolsonaro
Foto: Myke Sena/ especial para o Metrópoles
Fez-se um escândalo quando a presidente Dilma, acuada com a abertura do processo de impeachment que cassou seu mandato, começou a recepcionar no Palácio do Planalto grupos formados por dezenas de partidários para lhe prestar solidariedade.
Cada visita dessas se transformou em um pequeno comício. Oradores vociferavam contra a tentativa de derrubada de uma presidente legitimamente reeleita, e Dilma respondia com discursos onde manifestava sua indignação com o “golpe”.
No Congresso e na mídia, Dilma apanhou muito por causa disso. O Palácio do Planalto é onde despacha o primeiro escalão do governo. No terceiro andar, fica o gabinete do presidente. É uma repartição pública. Não cabe usá-lo como palanque.
Bolsonaro deve saber disso, mas não liga, como Dilma não ligou. A diferença é que o comportamento de Dilma provocou grande barulho, o de Bolsonaro quase nenhum quando ele recebeu na última segunda-feira um grupo de empresários do agronegócio.
Em pauta, o que os empresários fariam para reeleger o presidente, e a ajuda em dinheiro que poderiam lhe dar. Naturalmente, o encontro foi fechado à imprensa, mas uma foto da ocasião acabou sendo postada nas redes sociais bolsonaristas.
Do lado esquerdo de Bolsonaro estava Bruno Scheid, administrador de fazendas de gado em Ji-Paraná (RO). À direita, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Recém-filiado ao PL, partido do presidente, Scheid é pré-candidato a deputado federal.
Entre os dias 5 e 21 de fevereiro, Scheid trocou mensagens de WhatsApp com ruralistas e pediu dinheiro para a campanha de Bolsonaro. O jornal O Estado de S. Paulo revelou que ele e outros, em nome do senador Flávio, pedem dinheiro para o pai dele.
Para obtê-lo, dizem que os empresários dispostos a financiar a campanha do presidente à reeleição seriam convidados para um encontro tête-à-tête com Bolsonaro, Flávio e Valdemar Costa Neto, o poderoso chefão do PL e ex-mensaleiro do PT.
A reunião de segunda-feira no palácio não constava da agenda pública do presidente. Como não poderia ser escondida, entrou na agenda como “Encontro com o Movimento Ação Voluntária Amigos da Pecuária”. Amigos de Bolsonaro…
No início do governo de Fernando Collor (outro que não concluiu o mandato, mas no seu caso por corrupção), houve quem ganhasse dinheiro escalando pessoas desejosas de descer com ele a rampa do Palácio do Planalto, o que acontecia uma vez por semana.
Bolsonaro está usando o palácio para atos de campanha com empresários, mulheres e evangélicos. Tais atos ferem a lei eleitoral, mas a Justiça faz de conta que não vê.