
Devaneio da 3a via inclui mais um nanico, Eduardo Leite
Foto: Maicon Hinrichsen/Palácio Piratini
A desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de concorrer à Presidência da República abre caminho para a entrada na corrida presidencial do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Seu nome é defendido abertamente por empresários preocupados com a polarização entre o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro. Parte da elite empresarial aposta na chamada terceira via como alternativa às urnas em outubro e considera Leite o nome mais viável para ir ao segundo turno.
Leite recebeu em fevereiro convite do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, para se filiar ao partido. Com a desistência de Pacheco, o governador gaúcho se tornaria a primeira opção da sigla para disputar a Presidência, caso ingresse na legenda.
Ontem, ele procurou ganhar tempo. “Estou discutindo a possibilidade de candidatura, mas isso não deve ser uma decisão pessoal. Uma candidatura presidencial precisa ter mais condições para ser apoiada”,afirmou Leite em entrevista concedida após participar de evento promovido pelo “think tank” Atlantic Council, em Washington. “Estaremos discutindo isso nas próximas semanas também porque a lei eleitoral no Brasil demanda que eu renuncie ao mandato de governador até o fim de março [na hipótese de decidir concorrer]”, afirmou
Leite deverá decidir seu futuro político quando voltar dos Estados Unidos, no dia 15 de março, onde cumpre agenda do governo do Estado no exterior. O nome do governador, que perdeu as prévias do seu partido no ano passado para o governador de São Paulo, João Doria, voltou a ganhar força depois do convite para concorrer ao Planalto feito pelo PSD.
O empresário mais assertivo na defesa do nome do governador gaúcho é Ricardo Lacerda, sócio-presidente do banco de investimento BR Partners “Vejo o Leite como o único nome viável para a terceira via neste momento”, diz. Na visão do banqueiro, no entanto, as chances de um candidato de terceira via emplacar são baixas, diante do cenário polarizado.
“Acredito honestamente numa candidatura alternativa aos polos, que não é fácil, mas se souber se constituir numa aliança una, tem espaço dos indecisos, além dos descontentes que estão instavelmente com Lula ou Bolsonaro. Leite me parece mais resoluto, e há muita gente falando nele”, afirma o empresário Horácio Piva. “Não se deve negar seu impacto. Leite é um candidato tão legítimo e consistente quanto Doria e Simone [Tebet, do MDB]. A desqualificação que alguns fazem de que ele vai abandonar o partido vale tanto quanto o argumento de outros de que o PSDB o abandonou”, acrescentou.
O plano B de Kassab de lançar um nome do partido para concorrer à Presidência dependerá do governador gaúcho. Leite já deixou claro que não vai concorrer à reeleição ao governo do Estado. “Leite está em viagem e ainda não tomou sua decisão. Claro que o Leite é um excelente quadro. Ele será bem recebido para se filiar ao PSD e concorrer à Presidência pelo nosso partido”, disse Kassab ao Valor, horas antes da desistência do presidente do Senado, anunciada na quarta-feira à noite.
Desde o início do ano passado, parte da elite empresarial começou a se articular em busca de um nome que possa fazer frente ao atual presidente e a Lula. Com as recentes pesquisas eleitorais reforçando a polarização, elevou-se a inquietação para encontrar o político da terceira via com mais chances de ir ao segundo turno.
“Estamos esperando uma melhor definição do que vai acontecer nos próximos dias”, afirmou Pedro Passos, acionista do grupo Natura. “Em março teremos algumas definições de partidos e coligações. A gente busca alternativa que seja melhor que os dois nomes hoje fortes na disputa”, diz Fabio Barbosa, sócio da Gávea Investimentos. “Não é um jogo jogado”, afirma. “O nome de Leite para a terceira via poderá dar mais gás à disputa”, avalia Barbosa.
Para Daniel Wainstein, sócio-fundador da casa de assessoria de fusões e aquisições Seneca Evercore, “uma parte do mercado financeiro já vê chances de Lula assumir a Presidência. O convite ao ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin [que se filiou ao PSB], é uma espécie de carta ao povo brasileiro [de 2002]. O nome de Leite seria o mais viável [à terceira via]. O desafio seria ganhar projeção nacional”.
Wainstein considera boa a gestão de Leite no Rio Grande do Sul e acredita que isso contribua com sua eventual candidatura. “Em 1989, [o então ex-governador de Alagoas Fernando] Collor também não tinha projeção nacional”, compara. Para o executivo, Leite traz agenda positiva também voltada para a diversidade.
Na conversa com o Atlantic Council, Leite fez uma defesa enfática da necessidade de uma terceira via nas eleições no Brasil e de reformas no Estado para reduzir impostos. “Muitos eleitores de Lula mais rejeitam Bolsonaro do que querem Lula de volta. E eu diria a mesma coisa sobre Bolsonaro contra Lula. Então, muitas pessoas pensam que o antagonista de Lula é Bolsonaro, mas ainda não sabem que haverá outros nomes na disputa”, afirmou. “Estou trabalhando pessoalmente para que haja uma alternativa nesta eleição, para que o país possa ter um ambiente político mais pacífico.”
Na área econômica, o governador defendeu mais reformas para reduzir impostos e aumentar a competitividade entre as empresas. No entanto, avaliou que o cenário político atual dificulta o avanço de medidas nesse sentido. “Estamos passando por momentos difíceis na democracia pelo mundo, e não é diferente no Brasil. Mas no país, onde temos desigualdades profundas na economia, o populismo da direita e da esquerda se torna ainda mais forte”, criticou.
A viagem do governador aos Estados Unidos nesta semana conta com agenda cheia de eventos com investidores, empresários, centros de pesquisa e universidades, entre outros. Na quarta-feira, ele foi recebido na embaixada do Brasil em Washington pelo embaixador Nestor Forster. Sua agenda na capital também incluiu visitas à Organização dos Estados Americanos (OEA), à associação empresarial US Chamber of Commerce e às empresas AES e Amazon Web Services. Antes, esteve também em Nova York.