
Bolsonaro insiste em Braga Netto como vice para chantagear o país
Foto: Cristiano Mariz/O Globo – 27/1/2022
Avançaram nos bastidores as articulações da ala militar do governo para emplacar o ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto, na vaga de candidato a vice do presidente Jair Bolsonaro na campanha à reeleição. Aliados do Centrão ainda tentam convencê-lo a escolher um político como companheiro de chapa, mas Bolsonaro prefere um perfil militar.
Se Bolsonaro decidir que Braga Netto poderá ajudá-lo mais na campanha mantendo-se à frente do ministério, considerado um cargo de difícil substituição – pela interlocução com as Forças Armadas -, o outro nome mais cotado para a vaga é o do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
O Valor ouviu de duas fontes do governo que Bolsonaro está convencido de que, apesar dos percalços com o atual vice-presidente, general Hamilton Mourão (que assina hoje a ficha de filiação ao Republicanos), a configuração da chapa com um militar foi estratégica e bem sucedida.
Bolsonaro está convicto de que um general quatro estrelas na Vice-Presidência foi um fator decisivo para blindá-lo de um eventual impeachment, possibilidade que circulou entre lideranças do Congresso no primeiro ano de governo. A governabilidade somente se viabilizou após a aliança com o Centrão.
O companheiro de chapa de Bolsonaro não será definido antes de junho, até porque o Centrão quer ganhar tempo para tentar persuadir o presidente a mudar de ideia. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, defende uma mulher na vaga de vice, para atrair o voto feminino. O nome favorito é o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que vai se filiar ao Progressistas – legenda de Nogueira – nos próximos dias.
Entretanto, não se descarta uma antecipação do anúncio, já que até o fim de abril seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, formalizará a pré-candidatura, tendo o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como candidato a vice.
Nos bastidores, é dada como certa a desincompatibilização de Braga Netto do cargo de ministro até o fim de março, quando ele também terá de assinar a ficha de filiação a uma das siglas aliadas ao governo. Ele ficará à disposição de Bolsonaro: se ao fim, não se tornar vice, poderá reforçar a coordenação da campanha, segundo uma das fontes ouvidas pelo Valor.
Braga Netto ostenta um perfil ainda mais adequado que o de Mourão para a vaga de vice pela notória discrição. Mais de uma vez, Bolsonaro irritou-se com declarações de Mourão à imprensa, chegando a desautorizar publicamente o vice. Em contrapartida, Braga Netto não dá entrevistas e é avesso aos holofotes.
O afastamento de Braga Netto, entretanto, tem sido um dilema para Bolsonaro, porque o comando da Defesa é considerado um cargo ultrassensível. O Valor confirmou a sondagem ao comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, para a missão.
Essa possibilidade, entretanto, gera desconforto em setores da força terrestre. Seria a terceira sucessão no comando do Exército sob um mesmo presidente. E novamente, um quadro da ativa assumiria um cargo do primeiro escalão, dificultando a separação institucional entre Exército e governo.
Assim como Braga Netto, o general Heleno é um aliado insuspeito de Bolsonaro e também mantém-se distante da imprensa. O ministro tornou-se um “pop star” nas redes sociais e é prestigiado junto às bases bolsonaristas. Procuradas pelo Valor, as assessorias de Heleno e Braga Netto não deram retorno.