Conheça Janones, o influenciador digital que ultrapassou Doria e outros

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Foto: Reprodução

Um dos primeiros vídeos que André Janones publicou em seu canal no YouTube, há quase oito anos, mostrava uma senhora idosa no leito de um hospital enquanto seus parentes reclamavam de abandono. A família contava que tivera de dar banho e vestir a paciente, porque nenhum enfermeiro havia aparecido por horas. Logo em seguida, um Janones indignado passou a citar as verbas públicas que o local teria recebido. Essa era parte da rotina do jovem advogado de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro: ingressava com ações na Justiça para garantir remédios e tratamentos no SUS e ia às redes sociais denunciar quando as decisões não eram cumpridas, ainda que seu alcance fosse limitado — o vídeo citado teve 3 500 visualizações. Tudo mudou de patamar com a greve dos caminhoneiros em 2018: Janones gravou vídeos de apoio, reuniu-se com lideranças e tornou-se porta-voz informal do movimento nas redes. E foi um sucesso: um vídeo no Facebook alcançou 6 milhões de visualizações. Como resultado, foi eleito deputado federal com 180 000 votos, a terceira maior votação em Minas Gerais. Menos de quatro anos após estrear na política, ele se dedica agora a um projeto mais ousado: disputar a Presidência.

Mesmo que as chances de vitória sejam consideradas improváveis, ele já conseguiu a façanha de pontuar em quase todas as pesquisas mais recentes, às vezes numericamente à frente de nomes tradicionais da política, como João Doria e Eduardo Leite, do PSDB, e Simone Tebet, do MDB. Janones tem desempenho melhor no Nordeste e entre quem ganha até dois salários mínimos, segundo a Genial/Quaest, que lhe deu 3 pontos. De acordo com o Datafolha, um em cada três eleitores (34%) sabe quem é Janones, mas só 4% o conhecem muito bem. Filiado ao PT por quase dez anos, passou pelo PSC antes de chegar ao Avante. Hoje diz que não é “nem de direita nem de esquerda”.

Enquanto os nomes da terceira via tentam criar uma alternativa entre o populismo de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o populismo de direita de Jair Bolsonaro (PL), Janones adota outra postura ao menos desde 2021, quando disputou a eleição para a presidência da Câmara com o slogan “A pauta é o povo”. Nascido em família pobre, ex-cobrador de ônibus e filho de empregada doméstica, ele é “populista de centro”. Faz uma campanha focada no direito a saúde, emprego e assistência social. Sua principal proposta é a criação de um programa de renda básica permanente, que pretende custear com ajuste fiscal e corte de privilégios do funcionalismo. Fala em uma reforma tributária que alivie a carga para quem ganha menos e critica a política de preços da Petrobras. Sobre privatizações, já mudou de ideia sobre os Correios depois que uma enquete no seu Facebook deu 79% contra a proposta. “Não me incomodo de ser tachado de populista, até porque, se for procurar a origem da palavra, o populista era aquele que fazia política diretamente com o povo”, disse a VEJA.

Janones, de 37 anos (o mais jovem pré-candidato na disputa), é um político fruto do seu tempo: o das lideranças que atingem um grande público na internet com um discurso eleitoral calcado em assuntos da vida real, algo que já ocorreu com força em 2018. “Ele é o candidato que hoje, entre esses nomes menos conhecidos, mais discute temas que são relevantes para as pessoas, como o auxílio emergencial. O eleitor está atento a quem oferece soluções reais a seus problemas”, analisa Felipe Nunes, cientista político da UFMG e diretor da Quaest.

Os obstáculos de Janones, porém, são grandes. A bordo de um partido pequeno (o Avante tem sete deputados), ele terá pouquíssimo tempo de TV e valor baixo de Fundo Eleitoral. Contra a enorme desvantagem, aposta no alcance formidável que tem na internet: 11,3 milhões de seguidores no Facebook, Instagram e YouTube, mais do que Lula (9,6 milhões). Seu vídeo sobre a aprovação do auxílio emergencial de 600 reais em 2020 fez com que ele tivesse mais de 3 milhões de visualizações e 177 000 comentários — foi considerada, à época, a transmissão em vídeo com a maior interação no Facebook no Ocidente.

Agora, ele quer aproveitar a onda das pesquisas para profissionalizar a campanha. Quem acaba de entrar para o time é o empresário Paulo Marinho, apoiador de primeira hora de Bolsonaro em 2018. O candidato daquela época, aliás, tinha muitas semelhanças com Janones: pouco dinheiro, escasso tempo de TV e um partido pequeno (o PSL). Em contrapartida, acertou em apostar alto no poder das redes sociais. “Essa campanha nós temos de fazer com leveza, não temos compromisso com nada em termos de ganhar a eleição, então vamos mostrar um cara bem-humorado, que tem consistência”, diz Marinho. Como há quatro anos, a disputa de 2022 já tem o seu azarão digital.

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