Extrema-direita se divide no RS

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Foto: Alan Santo e Roque de Sá/PR e Agência Senado

Se o presidente Jair Bolsonaro (PL) se mostra confortável com dois palanques na disputa para o Governo do Rio Grande do Sul, o mesmo não pode se dizer dos dois pré-candidatos que disputam o voto bolsonarista, o ex-ministro e deputado federal Onyx Lorenzoni (PL) e o senador Luis Carlos Heinze (PP).

A visita do presidente ao estado, no início deste mês, com passagens por Pelotas, Bagé e Passo Fundo, foi emblemática sobre isso.

Em Pelotas, por exemplo, Onyx foi o nome celebrado com mais ênfase pela plateia ao ser anunciado ao microfone, enquanto Heinze acompanhou Bolsonaro no giro pelo cercadinho, cumprimentando e fazendo selfies com o público.

No palco, os dois se evitaram. Ocuparam assentos distantes enquanto assessores contabilizam na minúcia gestos como a ordem em que eram mencionados pelo presidente em seus discursos –nos três municípios, Heinze foi citado antes, e Onyx logo em seguida.

Apoiadores de Onyx enfatizam que só há espaço para uma candidatura neste campo ideológico e sugerem a saída de cena do mais fraco.

O ex-ministro teve a sua candidatura anabolizada desde a migração para o PL na janela partidária, tendo vencido em seguida a disputa pelo apoio do Republicanos —que indicará o vice-presidente Hamilton Mourão ao Senado.

“Se vencer o governo do estado já é difícil com a direita unida, imagina separada. Quem estiver pior daqui a no máximo dois meses tem o dever patriótico de desistir”, diz o deputado federal Bibo Nunes, um dos que migrou do PSL para o PL e apoia Onyx.

Embora o ex-ministro do PL esteja em um momento melhor, o temor no entorno da sua candidatura é que ele receba um “abraço do afogado” de Heinze. Ou seja, que perca para o senador votos suficientes para deixá-lo de fora de um segundo turno.

Isso poderia ocorrer sobretudo se a esquerda lançar um candidato único e o agora ex-governador Eduardo Leite (PSDB) eventualmente decida voltar à disputa estadual.

Ao analisar méritos e fraquezas de um e de outro, colegas de ambos em Brasília apontam Onyx como um ex-ministro aguerrido ao microfone, mas com poucas entregas a mostrar em comparação com outros pré-candidatos que ocuparam a Esplanada, como Tarcísio de Freitas, Tereza Cristina e Rogério Marinho.

Já contra Heinze pesa a dificuldade de falar sobre temas que interessam aos eleitores das grandes cidades.

Um dos desafios para Heinze, segundo um parlamentar gaúcho ouvido pela reportagem, será o de fugir do tema agronegócio, que tem sido sua tônica, e poder falar de outros assuntos que atingem a população, como transporte público, assistência social e segurança.

Heinze comemora ter conseguido o apoio recente do PTB e confia na megaestrutura do PP no interior gaúcho, que ocupa 143 das 497 prefeituras gaúchas (o PL tem 9).

Dentro do partido, porém, há os que citam a preferência por manter a aliança com Leite em uma candidatura de centro. O PP ocupou a liderança do governo na Assembleia Legislativa até sua renúncia.

Heinze não se mostra disposto a repetir o sacrifício de 2018, quando topou concorrer ao Senado para fortalecer a chapa que elegeu Leite. Tem convicção até hoje de que teria sido eleito governador se tivesse surfado a onda bolsonarista.

Agora, há o temor de que o bolsonarismo se volte contra ele. Parlamentares do PP acusam aliados de Onyx de já ter em funcionamento uma “máquina de ódio e fake news” direcionada ao partido.

Atribuem a ela o rumor espalhado na semana passada de que Heinze desistiria para assumir o Ministério da Agricultura.

Em busca de contra-ataques mais incisivos, Heinze decidiu pela troca do seu marqueteiro de campanha, Zeca Honorato, na semana passada.

Há relatos ainda de mensagens circulando pelo WhatsApp contra nomes do PP cogitados ao Senado e de vídeos jocosos de Heinze enfrentando saias justas na CPI da Covid, encerrada em outubro de 2021.

Sobre os efeitos da participação de Heinze na comissão, o PP gaúcho é lacônico. Resume sua posição mandando recado a Bolsonaro.

“Espero que reciprocidade e gratidão façam parte do vocabulário do presidente”, diz o presidente estadual da sigla, Celso Bernardi.

Folha