Mídia desperdiça tempo e dinheiro com terceira via

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Foto: O Antagonista/Reprodução

Será que alguém já se deu conta de quantas horas de televisão e quilômetros de noticiário nos jornais e portais foram gastos desde o ano passado com essa conversalhada sem fim sobre a Terceira Via? É muito tempo e dinheiro jogados fora para quê? Para nada. Só serviu para mostrar a pobreza do debate político no país e a falta de novas lideranças capazes de despertar o interesse dos eleitores.

Criado e cevado nas redações e nas conversas dos senhores do mercado, este trambolho de mula sem cabeça não conseguiu produzir um único candidato viável, nem uma única proposta original para tirar o país do buraco, e romper a polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro.

Prometo que esta é a última vez que toco nesse assunto para não abusar da paciência dos leitores.

Entraram e saíram de cena os mais diferentes “pré-candidatos” da Terceira Via, do renitente Ciro Gomes de tantas campanhas fracassadas, cada vez com menos votos, a nulidades que não têm condições de governar nem um carrinho de pipoca, quanto mais um país destroçado pelo bolsonarismo furioso que só pensa na reeleição.

Vimos desfilar no palco desta ópera bufa figuras sem história, sem vínculo partidário, pulando de uma sigla para outra, com dificuldades até para se expressar, as traições rolando soltas e nenhum compromisso com o futuro do país.

Qualquer que seja o resultado desta corrida eleitoral, após o troca-troca partidário, quem mais uma vez saiu ganhando foi o Centrão, que vai ter mais recursos e tempo de TV, e quem mais perdeu foi o PSDB, que continua com dois candidatos, mesmo após as prévias, e não tem nenhum.

A apenas cinco meses e meio da abertura das urnas, o quadro partidário de alianças e federações ainda está indefinido, mas vai se afunilando.

Com Sergio Moro escanteado da disputa presidencial, Ciro agora busca aliança com o União Brasil para se tornar o candidato único da terceira via, o que é tão improvável de acontecer como alguém deste grupo passar para o segundo turno.

Ainda hoje, o jornal Valor publicou relatório da Eurásia, a maior consultoria mundial na análise de cenários eleitorais, indicando as chances de vitória de cada um: Lula ficou com 70%, Bolsonaro com 25% e a terceira via com apenas 5%, caso consiga se unir em torno de um nome.

Daqui até o início oficial da campanha, em agosto, só um fato novo, poderoso e inesperado, pode alterar este quadro que parece consolidado desde as primeiras pesquisas para 2022.

Mas isso não impede que se continue fazendo análises e mais análises sobre a viabilidade da Terceira Via. Enquanto Eduardo Leite continua borboleteando de sigla em sigla, do alto do seu 1% nas pesquisas, sem dar bola para as prévias tucanas, João Doria tenta juntar os cacos do que sobrou do PSDB de Fernando Henrique Cardoso e Mario Covas.

Nos últimos dias, estes analistas tentaram levantar a bola da senadora Simone Tebet, que não passa de 2%, e não consegue unir nem o seu partido, o MDB, rachado ao meio entre as alas lulistas e bolsonaristas.

O que sobra? Gilberto Kassab, o dono do PSD, continua sem candidato, depois de lançar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que entrou e saiu da campanha sem ser notado, e namorar com Eduardo Leite, que acabou refugando.

Legendas menores continuam orbitando em torno de Lula ou Bolsonaro em busca apenas da sobrevivência para atingir o quociente eleitoral mínimo.

A única novidade surpreendente desta campanha até agora foi a entronização do ex-tucano Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula, apesar da oposição da “esquerda do PT”, que não se conformou até agora.

Fora isso, é a velha disputa esquerda X direita, com Lula e o PT caminhando para o centro e Bolsonaro cada vez mais fechado na extrema-direita, com um outro general de vice, exatamente como foi a campanha de 2018.

Projetos para o Brasil, quem quer discutir? Vamos ter debates e sabatinas com os dois que ponteiam as pesquisas? Comícios, carreatas, campanhas nas ruas? Por enquanto, tudo transcorre em reuniões fechadas e na arena belicosa das torcidas nas redes sociais, sem despertar o interesse da maioria da população, que a tudo assiste bestificada, como na Proclamação da República.

Vai ver que é por isso que ainda se fala tanto na Terceira Via. Só pode ser por falta de assunto e de vontade para tratar dos nossos reais problemas, que não são poucos nem pequenos.

Os primeiros programas de propaganda partidária exibidos na TV não foram muito animadores sobre o que nos espera quando a campanha começar para valer. Pareciam coisas antigas, gravadas com um olho no retrovisor, repetindo velhos bordões, com imagens esmaecidas.

Com medo do futuro, é perigoso até discutir o passado, como mostra esta declaração dada hoje pelo general Luís Carlos Gomes Mattos, presidente do Superior Tribunal Militar, na primeira sessão após a divulgação dos áudios que comprovam a prática de torturas durante a ditadura.

“Não estragou a Páscoa de ninguém. Não temos resposta nenhuma pra dar, simplesmente ignoramos.”

Vida que segue.

Uol