Bolsonaro vira jacaré no Anhembi

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Foto: Rubens Cavallari/Folhapress

O desfile da madrugada deste domingo (24) no Sambódromo do Anhembi teve uma provocação política já quase no seu final. O último carro da Rosas de Ouro, penúltima escola a desfilar no Carnaval em São Paulo, surpreendeu o público ao mostrar um sósia do presidente Jair Bolsonaro (PL) na alegoria que se “transformou” em um jacaré.

Quando uma enfermeira aplicou uma injeção no “presidente”, um efeito de fumaça foi feito sobre ele, uma porta secreta girou, e um jacaré apareceu. Parte do público aplaudiu e passou a gritar “fora Bolsonaro”.

A encenação foi uma alusão a Bolsonaro, que em dezembro de 2020 disse que não havia garantias no contrato com a farmacêutica Pfizer sobre efeitos colaterais da vacina contra Covid-19 e que “se você virar um jacaré o problema é seu”.

Mas a política sambou em outros desfiles e também do lado de fora das passarelas de São Paulo e Rio de Janeiro na noite de sábado (23) e na madrugada de domingo.

O cabeleireiro Neandro Ferreira, que causou polêmica nesta semana ao dizer em entrevista à Folha que entraria na avenida como um “Bolsonaro bem gay, dando pinta, bichíssima”, decidiu ir direto para casa após desfilar na Gaviões da Fiel vestido de presidente na noite deste sábado, em São Paulo. “Não sei se é uma boa ideia ficar circulando, vai que aparece algum bolsominion maluco”, afirmou, entre risos.

Em nota, logo após a publicação da reportagem da Folha, a escola desmentiu Neandro e afirmou que as declarações dele foram equivocadas. Segundo a Gaviões, o personagem interpretado pelo cabeleireiro é um “governante fascista qualquer”, e não a Bolsonaro.

Neandro desfilou com uma faixa presidencial, sem nenhuma menção direta ao presidente da República, acompanhado pela cabeleireira Gisele Porto, interpretando uma primeira-dama. Ele desistiu da surpresa que tinha preparado: levantar uma faixa escrito “Fora Bolsonaro” durante o desfile.

Segunda escola a desfilar no Anhembi, na madrugada deste domingo, a Gaviões da Fiel levantou a arquibancada entoando o samba enredo “Basta”, que trata sobre a luta contra o racismo, o fascismo e as opressões.

Na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, o último carro da Unidos da Tijuca tinha indígenas entre seus componentes. Um deles era o cacique Urutau Guajajara, que segurava um cartaz contra o PL 191, projeto de lei que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas, medida polêmica no governo Bolsonaro. A escola contou os mistérios do guaraná e homenageou os povos originários. O enredo foi Waranã – A Reexistência Vermelha.

Nos camarotes e arquibancadas também houve manifestação política. No Rio, ao ser questionada sobre o ano eleitoral, a atriz Andrea Beltrão, 58, afirmou que preferia não falar desse assunto para não ficar nervosa. Mas, na hora da foto, ela fez um L de Lula e disse: “Fora, Bolsonaro”.

Na sexta, primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio, já havia ocorrido protestos contra Bolsonaro e a favor do ex-presidente Lula nas arquibancadas. ​

Presente em um camarote no Anhembi, o cantor Zeca Pagodinho afirmou na madrugada deste domingo (24) que os brasileiros têm que se manifestar para que o país não continue “do jeito que está”.

“Eu não quero ir embora daqui, mas, do jeito que está, eu penso em ir embora”, disse no intervalo de seu show no Camarote Bar Brahma, no sambódromo, em São Paulo.

Folha