Barroso fragiliza STF “explicando” fala sobre militares

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Foto: Nelson Jr./SCO/STF/Reprodução

Luís Roberto Barroso passou esta segunda combatendo a desinformação propagada por seguidores de Jair Bolsonaro — e amplificada por manifestações de ministros do governo — sobre sua fala num evento acadêmico internacional. A alguns interlocutores, ele deixou claro sua fala sobre os militares e as eleições. Barroso citou as pressões do Planalto para politizar as Forças Armadas e usar as instituições da caserna para legitimar um discurso de suspeição contra o processo eleitoral.

Barroso, segundo interlocutores, destacou a “tentativa”, mas não disse, em nenhum momento, que a ação política encontrou respaldo no meio militar. Ao contrário, Barroso elogiou as forças armadas, como é possível constatar em seu discurso:

“Um fenômeno em alguma medida preocupante, mas que até aqui não tem ocorrido, mas é preciso estar atento, é um esforço de politização das Forcas Armadas. Esse é um risco real para a democracia. E aqui gostaria de dizer, por um dever de justiça, e eu que fui um crítico severo do regime militar e militante contra a ditadura militar. Porém, nesses 33 anos de democracia, se teve uma instituição de onde não veio notícia ruim e que teve um comportamento exemplar foram as Forcas Armadas. Eu gosto de trabalhar com fatos e de fazer justiça.

O país atravessou momentos de turbulência, impeachment do presidente Collor, casos gravíssimos de corrupção, impeachment da presidente Dilma Rousseff, turbulências variadas no mundo, e ninguém cogitou de uma solução que não fosse o respeito à legalidade constitucional. Portanto, nós percorremos todos os ciclos do atraso nessas três décadas de democracia. E o desejável é que continue a ser assim. Mas todos nós assistimos repetidos movimentos para jogar as Forças Armadas no varejo da política. Isso seria uma tragédia para a democracia e seria uma tragédia para as Forcas Armadas, que levaram três décadas para se recuperarem do desprestigio do regime militar e se tornarem instituições valorizadas e prestigiadas pela sociedade brasileira. E, portanto, eu tenho a firme expectativa de que elas não se deixem seduzir por esse esforço que eu vejo, e muitos outros vêem, de jogá-las nesse universo indesejável para uma instituição de Estado que é a fogueira das paixões politicas.

E até agora o profissionalismo e o respeito à Constituição têm prevalecido. Mas não deve passar despercebido que militares profissionais, admirados e respeitadores da Constituição foram afastados, como o General Santos Cruz, um herói brasileiro que combateu no Congo; o General Maynard Santa Rosa, um homem de maior integridade – eu mesmo convivi com ele quando ambos estudamos nos Estados Unidos numa mesma época, corretíssimo; o próprio general Fernando Azevedo, foi ministro da Defesa, uma pessoa de imensa integridade, grande liderança. Os três comandantes das Forças, todos foram afastados. Não é comum isso, nunca havia acontecido isso dessa forma. Portanto, é preciso ter atenção para o retrocesso cucaracha de voltar à tradição latino-americana de botar Exército envolvido com politica. É péssima mistura para a democracia, é uma péssima mistura para as Forças Armadas, e eu tenho fé de que as lideranças militares saberão conter esse risco de contaminação indesejável, que levou à ruína da Venezuela. Aconteceu na Venezuela de jogar as Forças Armadas no varejo da política e contaminá-las com todas as vicissitudes do varejo da política, da corrupção ao empreguismo, e hoje a Venezuela é uma ruína, é um desastre humanitário.”

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