Empresário testemunha contra filho 4 de Bolsonaro
Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
O empresário Luís Felipe Belmonte confirmou à Polícia Federal que pagou R$ 9,5 mil para reformar um escritório em Brasília usado por Renan Bolsonaro, filho “Zero Quatro” do presidente Jair Bolsonaro. O depoimento foi prestado no inquérito que apura suspeita de tráfico de influência de Renan Bolsonaro junto ao governo federal. O filho do presidente nega ter praticado qualquer irregularidade.
Luís Felipe Belmonte ficou conhecido por atuar na montagem do partido Aliança para o Brasil, que abrigaria Bolsonaro. O projeto de criação da legenda, contudo, naufragou. Depois disso, o empresário se tornou dirigente do PSC no Distrito Federal. Em depoimento, ele disse à PF que o pedido de contribuição financeira para uma obra de melhoria em uma sala comercial ocupada pelo filho do presidente foi feito pelo próprio Renan Bolsonaro e pelo personal trainer e então parceiro de negócio Allan Lucena.
Como revelou O GLOBO, a PF teve acesso a mensagens de celular trocadas entre o educador físico e uma arquiteta. Os diálogos indicavam que a dupla buscou empresários para obter pagamentos destinados à montagem do escritório usado por Jair Renan, localizado em um camarote do estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Procurado, o advogado Frederick Wassef, defensor de Renan Bolsonaro, disse em nota que o filho do presidente “não solicitou dinheiro a ninguém, não recebeu um único real de quem quer que seja, não recebeu carro de presente, não atuou para nenhuma empresa, não solicitou que ninguém pagasse nada a ninguém e seu nome foi usado indevidamente” e que “não marcou reunião em nenhum ministerio”. Allan Lucena não se manifestou.
Responsável pela reforma na sala comercial utilizada por Renan Bolsonaro, a arquiteta Tânia Fernandes confirmou AO GLOBO o recebimento dos recursos de Belmonte.
— Mas foi isso mesmo. Eu fiz o contrato de reforma do camarote, com o que seria feito, e ele fez a transferência, depois gerei o recibo de pagamento e executei a obra conforme estava planejado. Foi uma reforma simples e rápida. Foi mais pintura geral, um pedaço de parede de gesso, ajustes de elétrica, polimento da pedra que já tinha, instalação de iluminação simples e instalação de um piso flutuante de compensado imitando madeira. Neste orçamento, foi feito o pagamento de materiais e mão de obra. É mais uma maquiagem do local, pois obra mesmo do tipo estrutural, ou alterações não ocorreu. No final, prestei contas e gerei o recibo de pagamento, como todo profissional faz. O resto de materais, como mobilias, moveis, paineis, plantas e placa da logo deles, foi de patrocinadores de outras empresas, que foram passadas para mim e eu só defini o tipo, cor e tamanho, mas a tratativa ou acordos ou sei lá não foi comigo. Só defini mesmo mediante catálogos o que ficava bom lá dentro.
Questionado pela PF sobre o pagamento para Renan Bolsonaro, Belmonte afirmou que “já patrocinou diversos atletas e atividades nessa área (esportiva)”, que faz isso desde 2016, porque possui uma empresa do setor. “O fato de ser filho do presidente da República é irrelevante”, disse.
O comprovante de transferência bancária obtido pela PF atesta que o pagamento foi feito à arquiteta Tânia Fernandes. A polícia teve acesso a um áudio enviado por Belmonte. Na gravação, o empresário deixa claro que preferiria que não houvesse geração de nota fiscal para o pagamento.
— Então, a nota fiscal não precisa. Porém, se ela desejar passar, pode passar, sim. Fica a critério dela. Mas não precisa. Tendo o contrato certinho, fica tudo ok — disse Belmonte, de acordo com a transcrição da PF.
A PF quis saber se o empresário solicitou a Jair Renan a intermediação junto ao governo federal de seus interesses comerciais. Ele respondeu negativamente. Afirmou que não tem nenhum negócio que envolva o poder público e que não houve nenhuma contrapartida ao pagamento. “Não tem nenhum relacionamento com o poder público”, disse. Belmonte ainda disse que, se precisasse falar com Bolsonaro, “trataria diretamente, não seria por intermédio do sr. Jair Renan”.
Mensagens obtidas pela Polícia Federal indicam que empresários foram procurados para pagar obras de reforma em uma sala comercial ocupada por Renan Bolsonaro. Nessas conversas, a arquiteta responsável pela obra chegou a ironizar a busca por patrocinadores e disse que pediriam “bolsa móveis e bolsa reforma”.
Em uma conversa do dia 22 de maio de 2020, Allan disse a Tânia: “Estamos indo já em um patrocinador”. Em seguida, ela respondeu: “Oba, preciso de todos os patrocinadores. Veja as cotas para patrocinar a execução”.
No diálogo, o personal trainer disse que, quando o orçamento da reforma estivesse finalizado, seria mais fácil montar as cotas de patrocínio para oferecer aos empresários. “Cota eletrônicos. Cota móveis. Cota reforma. Kkkkkk”, escreveu ele.
Em tom de deboche, Allan afirmou que esses pedidos poderiam vazar para a imprensa e gerar manchetes a respeito do assunto: “Já já sai na mídia. Filho de presidente pede Bolsa Móveis”.