PSDB prefere que Doria abandone candidatura espontaneamente
Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Diferentes grupos do PSDB se reuniram ontem em Brasília, expuseram discordância com a candidatura presidencial do ex-governador João Doria (PSDB) pelas dificuldades criadas para os demais candidatos do partido nos Estados e decidiram chama-lo para uma reunião para tentar convencê-lo a desistir. À espera dessa conversa, o presidente da legenda, Bruno Araújo, disse que não será mais hoje que será batido o martelo sobre quem representará o grupo da “terceira via” na eleição de outubro.
A reunião confirmou, porém, a intenção de seguir negociando com o MDB e Cidadania um nome único. Também está mantida a divulgação interna de pesquisa contratada com o Instituto Guimarães Pesquisa e Planejamento para medir o potencial de votos de Doria e da senadora Simone Tebet (MDB-MS), nome defendido pelos emedebistas – e preferido também pelo Cidadania e por Araújo, segundo tucanos.
O encontro de ontem entre a direção Executiva, deputados federais, senadores e pré-candidatos ao governo foi convocado após Doria divulgar carta no fim de semana criticando a contratação da pesquisa e ameaçando entrar na Justiça se não for confirmado candidato à Presidência, com o argumento de que foi escolhido pelas prévias.
Outros grupos do PSDB, como o liderado pelo deputado Aécio Neves (MG) e pelo senador Tasso Jereissati (CE), querem um nome próprio, de preferência o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. Como pano de fundo está a briga por recursos do fundo eleitoral, os palanques nos Estados e quem dará as cartas no PSDB após a eleição.
Políticos do PSDB contrários a candidatura de Doria tentaram marcar a reunião com ele para esta manhã, antes da divulgação da pesquisa, mas aliados dele tentam ganhar tempo. “Propus que a reunião não ocorresse amanhã [hoje]. Precisamos ter o mesmo público qualificado dessa reunião e muitos já tinham viagem para os seus Estados. Podemos marcar com calma, não precisa ser no afogadilho”, disse a vice-presidente do PSDB Mulher, Thelma de Oliveira.
O encontro desejado não ocorrerá hoje. Ao Valor, o ex-governador paulista disse que já tinha compromissos marcados. “Não poderei. Mas [estou] sempre aberto ao diálogo”, disse. Não ficou marcada uma nova data.
Há divergências até sobre quem participaria da reunião. Araújo defendeu que seja um grupo menor porque com “30 ou 40 pessoas na sala não se decide nada”. Já aliados do ex-governador paulista cobraram “campo neutro”. Aécio pediu uma reunião ampliada, com todos os pré-candidatos aos governos estaduais, “para mostrar ao Doria a realidade”. “Minha sugestão foi uma reunião para que o candidato João Doria ouça dos companheiros o que ouvimos aqui, que a candidatura dele está colocando dificuldades para eles”, afirmou.
No encontro de ontem, Doria recebeu apoio dos segmentos da Mulher, Tucanafro e da Diversidade, mas foi atacado por quase todos os políticos com mandato do partido, inclusive ex-aliados que o apoiaram nas prévias do PSDB, como parte dos deputados de São Paulo, que estão preocupados que a rejeição do tucano contamine as chances de reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB). “Acho muito difícil que ele se viabilize, mas precisa vir mostrar os argumentos dele”, disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). “Quando se busca a via jurídica, se interdita a via política. E o argumento é frágil, a convenção é superior às prévias.”
Entre os pré-candidatos a governos estaduais presentes ontem, e que criticaram a manutenção da candidatura de Doria, estavam Eduardo Riedel, que concorrerá no Mato Grosso do Sul e já declarou apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado Pedro Cunha Lima, que disputará na Paraíba, e Raquel Lyra, Pernambuco. Mesmo aliados muito próximos, como o senador Izalci Lucas (DF), pré-candidato ao governo do Distrito Federal, foram mais reticentes.