PF vai acelerar investigação de corrupção para pressionar Bolsonaro
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Em meio a uma nova onda de protestos contra o presidente Jair Bolsonaro, com a cobrança de promessa sobre a reestruturação das carreiras das Polícias da União, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal está sugerindo que a classe priorize atividades de investigação – combate à corrupção, tráfico, pedofilia e outros crimes – em detrimento de atividades administrativas, em especial uma sensível à base aliada do chefe do Executivo: a análise de aquisição, registro e porte de arma de fogo.
Caso a orientação seja acatada pelos associados, a entidade indica que o prazo para que a corporação analise pedidos de registros de armas, que é de 30 e 60 dias, pode ser impactado ‘com atrasos ou mesmo suspensão temporária’. Além disso, diz esperar, ‘ao menos num primeiro momento’, que outras atividades administrativas, como o controle e fiscalização de segurança privada, controle de produtos químicos, emissão de passaportes e atividades migratórias, ‘sejam preservadas, com mínimo impacto para a população’.
Segundo a ADPF, a inciativa foi aprovada em Assembleia Geral Extraordinária da entidade e está ligada à ‘enorme carência de pessoal, o que impacta diretamente no exercício das inúmeras atribuições do órgão’. A associação destacou mais uma vez, o clima de ‘de instabilidade, revolta e insatisfação’ em meio à classe, em razão da propagação de ‘informações conflitantes, equivocadas, com mudanças frequentes de posicionamento’ do governo federal sobre as promessas feitas aos policiais.
“Essas medidas visam assegurar a prioridade às investigações realizadas pela Polícia Federal, que fizeram com que ela fosse reconhecida como uma das instituições mais confiáveis e respeitadas do país e indispensável para o combate à criminalidade organizada e aos desmandos daqueles que tentam se apropriar do Estado e interferir em instituições. A Polícia Federal é uma polícia de Estado e não de governo. Vale destacar que a PF não protege e nem persegue ninguém. Não existe qualquer indivíduo ou autoridade que esteja acima da lei”, registrou a entidade em nota.
No início do mês, a associação indicou que iria pedir a renúncia do ministro da Justiça, Anderson Torres, pelo ‘desprestígio e desrespeitoso tratamento’ do chefe do Executivo para com a corporação. A classe também indicou que realizaria paralisações parciais e progressivas e que os servidores ligados à Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal poderão entregar cargos de chefia e recusar convites para assumir novos postos.
Dentro da PF, as últimas semanas têm sido marcadas por mobilizações em torno das cobranças às promessas feitas por Bolsonaro. No final de abril, entidades que representam as diferentes categorias que compõem a corporação organizaram atos em frente às superintendências de vários Estados, com faixas e manifestações de ordem pedindo a ‘valorização das forças de segurança federais’.
Em abril, o presidente Jair Bolsonaro decidiu pelo reajuste de 5% para todos os servidores públicos do Executivo federal a partir de julho. O custo de oferecer esse aumento para todo o funcionalismo é R$ 6,3 bilhões em 2022, ano em que o presidente tenta a reeleição.
Como mostrou o Estadão, a necessidade de bloqueio de recursos do atual Orçamento para bancar novas despesas – como aumento salarial a servidores federais e subsídio a financiamentos do próximo Plano Safra – já se aproxima do valor de R$ 10 bilhões, mas o montante deve ficar ainda maior caso o chefe do Executivo opte por conceder um reajuste diferenciado a carreiras da segurança pública federal.