Evangélicos são só o que sustenta Bolsonaro

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Foto: Alan Santos/ divulgação

Com marcas de suor espalhadas pela camisa azul clara — reflexos da umidade e do calor de 32 graus em Manaus —, o presidente Jair Bolsonaro caminhava pela principal avenida da capital do Amazonas cumprimentando apoiadores por volta das 15h do sábado, 28 de maio. Os seguidores, em sua maioria evangélicos participantes da 28ª edição da Marcha para Jesus, tentavam tocar no titular do Palácio do Planalto e segurar a sua mão. A agenda oficial do chefe do Executivo, acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, virou um corpo a corpo típico do período eleitoral.

Com marcas de suor espalhadas pela camisa azul clara — reflexos da umidade e do calor de 32 graus em Manaus —, o presidente Jair Bolsonaro caminhava pela principal avenida da capital do Amazonas cumprimentando apoiadores por volta das 15h do sábado, 28 de maio. Os seguidores, em sua maioria evangélicos participantes da 28ª edição da Marcha para Jesus, tentavam tocar no titular do Palácio do Planalto e segurar a sua mão. A agenda oficial do chefe do Executivo, acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, virou um corpo a corpo típico do período eleitoral.

Ao longo de quase seis quilômetros entre o centro histórico e o sambódromo de Manaus, ponto final do evento, Bolsonaro orou diversas vezes com pastores. Aclamado pela multidão evangélica, uma das únicas parcelas do eleitorado em que ele não perde nas pesquisas para o ex-presidente Lula — os dois têm empate técnico—, o titular do Planalto garantiu no evento imagens para reforçar dois de seus discursos eleitorais: o de que tem apoio majoritário do grupo religioso e mostrar ruas abarrotadas de gente para lançar dúvidas sobre os levantamentos que o colocam atrás de Lula. Na semana anterior, o presidente já havia participado de um ato com evangélicos, em Curitiba.

Na concentração da Marcha para Jesus e no sambódromo, um boneco inflável de Bolsonaro de óculos e fazendo “arminha” chamava a atenção. Várias bandeiras exibiam a imagem do presidente com a frase “Fechado com Bolsonaro”. Ambulantes vendiam, por R$ 40, camisetas com a foto dele e os dizeres: “Bolsonaro presidente 2022”. Canecas com estampas em defesa do armamento da população custavam R$ 30.

— Nessa Marcha, quem brilhou foi só ele (Bolsonaro). Não tenho dúvida que foi o maior comício da vida dele. Queira ou não queira, ele tirou proveito político — disse Robson Tiradentes, dono de uma empresa que alugou seis trios elétricos para o evento.

Em meio ao calor, o veículo reservado ao presidente dispunha de um “luxo”: um camarim com ar-condicionado.

A prefeitura de Manaus informou ter investido R$ 621 mil na contratação de 24 artistas e bandas que se apresentaram no evento. Os recursos têm como fonte emendas parlamentares. Já o governo do Amazonas não respondeu se ajudou a bancar a celebração, embora a Ordem dos Ministros Evangélicos de Manaus, organizadora da marcha, admita que também contou com verbas do caixa estadual. Tanto o governador Wilson Lima (União Brasil) quanto o prefeito David Almeida (Avante) participaram da celebração com Bolsonaro.

— A Marcha para Jesus, que tem dinheiro público, virou um palanque político. Tinha bandeira de Bolsonaro, camisetas e boneco inflável. Isso é um crime eleitoral. Muitos evangélicos também não concordam e estão revoltados — reclamou o vereador Cícero Custódio da Silva, o Sassá da Construção Civil (PT), que protocolou representações contra o presidente por propaganda antecipada.

Considerado um dos pilares da eleição de Bolsonaro em 2018, os evangélicos estão divididos na disputa deste ano. Segundo pesquisa Datafolha de 26 de maio, 39% dos eleitores do segmento religioso dizem votar no presidente, e 36%, em Lula. Ao comentar o resultado, Bolsonaro questionou o dado.

— Não sou unanimidade, o dono da verdade, o último biscoito, mas falar que (evangélicos) estão divididos? — disse o presidente durante uma live no dia seguinte à divulgação da pesquisa.

A participação de Bolsonaro em diversas Marchas para Jesus pelo país havia sido acertada no início de maio em um encontro com pastores no Palácio da Alvorada. Foi lá que Valdiberto Rocha, presidente da Ordem dos Ministérios Evangélicos do Amazonas, fez o convite, argumentando se tratar do maior evento do ramo no Brasil. Dias depois, recebeu uma ligação do gabinete presidencial confirmando a participação do titular do Planalto. Rocha nega o uso político da marcha.

A visita do presidente a Manaus foi organizada por um amigo de longa data, o coronel Alfredo Menezes, pré-candidato ao Senado no Amazonas pelo PL.

— Ele não veio para cá dessa vez para tratar de política, veio como convidado de um evento. Eu até propus fazer uma motociata na chegada, mas ele não aceitou — disse.

Ao chegar à capital pela manhã, Bolsonaro foi recebido por alguns apoiadores no aeroporto. Depois, seguiu para dar uma entrevista ao apresentador Sikêra Junior, um aliado. O presidente não deu declarações para a imprensa local, que tentava questioná-lo sobre a promessa descumprida da conclusão da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus. A obra de mais destaque de Bolsonaro no estado é uma ponte de madeira em São Gabriel da Cachoeira, que custou R$ 255 mil. Já a viagem do presidente ao local para inaugurá-la custou R$ 711 mil.

Na capital amazonense, Bolsonaro também cumpriu compromisso em outro ambiente familiar. Frequentador assíduo de solenidades em quartéis desde a época em que ainda tentava chegar ao Planalto, o presidente visitou o Comando Militar da Amazônia (CMA), onde chegou acompanhado por aliados, entre eles o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, cotado a vice na chapa. No local, Bolsonaro foi recebido com honras militares, mas não teve reuniões. Apenas almoçou um tradicional tambaqui assado.

Outra agenda de Bolsonaro antes de seguir para a marcha foi um encontro com cerca de 250 pastores no Teatro Amazonas. No local, o presidente falou pouco e chamou a primeira-dama para discursar para a plateia de líderes evangélicos. Michelle é considerada um ativo importante para converter o voto do eleitorado feminino e suavizar a imagem do titular do Planalto.

Diferentemente do recorte pelo segmento evangélico, em que Bolsonaro rivaliza com Lula, entre as mulheres o presidente aparece em ampla desvantagem, com 23%, ante 49% do petista, segundo o Datafolha.

Ao acompanhar o marido na marcha, Michelle tentava fazer sua parte ao distribuir sorrisos e corações com a mão de cima do trio. Lá de baixo, a dona de casa Elite Rabelo, bandeira do Brasil na mão, dava mostras de que a estratégia surtia efeito.

— Eu amo o presidente por causa dela — disse Eliete, já quase sem voz depois de tanto gritar para chamar a atenção da primeira-dama.

O Globo