Após SP, Lula terá que “acalmar” PSB no Rio
Foto: O Globo
Enquanto vê o acordo entre PT e PSB avançar em São Paulo, onde intensificou os gestos por uma solução durante um almoço no domingo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegará ao Rio, amanhã, no ápice da crise envolvendo os dois partidos no estado.
Na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, após meses de impasse, a tendência é que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) seja o candidato da aliança, com o ex-governador Márcio França concorrendo ao Senado — Lula reuniu-se com os dois, na casa de França, há dois dias. Já na disputa pelo Palácio Guanabara, a temperatura ficou elevada: ontem, o pré-candidato do PSB ao Senado, Alessandro Molon, reagiu ao postulante da legenda ao governo, Marcelo Freixo, e se disse “perplexo” com a cobrança para que desista da candidatura majoritária.
No domingo, Freixo reivindicou que Molon “cumpra o acordo” entre eles e abdique da eleição ao Senado. Segundo Freixo, o correligionário se comprometeu a abrir mão da disputa, caso fosse formada uma aliança ampla ao governo — a chapa inclui o PT, que indicou o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano, para a vaga ao Senado.
Em reação, Molon, em entrevista ao colunista Bernardo Mello Franco, do GLOBO, negou a existência do acordo e afirmou que não há hipótese de abdicar da eleição ao Senado (leia mais abaixo).
A legislação permite que haja mais de um concorrente ao Senado na mesma coligação, mas a possibilidade não é admitida pelo PT, que já chegou a ameaçar retirar o endosso a Freixo se Molon seguir na corrida. A crise alcançou o estágio mais agudo justamente às vésperas do evento planejado para marcar o lançamento do palanque de Lula no Rio. O ex-presidente chegará amanhã à capital fluminense e, na quinta-feira, vai participar de um ato na Cinelândia. Organizadores do evento chegaram a cogitar travar a ida de Molon, mas o veto não foi adiante, e ele, ontem, assegurou que estará no local.
Conforme o embaraço se alonga, entusiastas da chapa de esquerda no Rio se manifestam em sentidos opostos. Em reação ao posicionamento de Freixo, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) defendeu, nas redes sociais, Molon como o nome mais viável para enfrentar o senador Romário (PL-RJ), pré-candidato à reeleição pelo partido do presidente Jair Bolsonaro. Uma pesquisa Ipec divulgada em maio mostra Romário na frente, com 29% das intenções de voto, seguido por Cabo Daciolo (PDT), com 10%; Molon e Daniel Silveira (PTB), ambos com 8%; Ceciliano, com 6%; e Luciana Boiteux (PSOL), com 4%. Molon usa os levantamentos como argumentos para seguir concorrendo — Freixo também cita pesquisas, nas quais ele aparece em primeiro, em empate técnico com o governador Cláudio Castro, para citar a importância de uma “frente ampla”.
A produtora cultural Paula Lavigne, que articulou um manifesto a favor de Molon, reclamou da postura de Freixo:
— Estou constrangida com o papel que Freixo está fazendo. Por que ele não deixa essa pressão sobre candidatura do Molon para o PT fazer, já que eles têm o maior interesse nisso? O Molon o recebeu de braços abertos no partido, e ele age assim?
Do outro lado, em uma carta aberta, intelectuais como Luiz Eduardo Soares e Heloísa Buarque de Hollanda pediram ontem que Molon desista da candidatura. O documento diz que a decisão dele será ainda mais indispensável ante as “ameaças do bolsonarismo ao que resta da democracia”. O manifesto é um contraponto a um documento assinado anteriormente e que teve a adesão de artistas como Fernanda Montenegro e Caetano Veloso.
Os autores do novo apelo pela frente ampla em torno de Freixo ressaltam que ele é um candidato da esquerda “efetivamente competitivo” pela primeira vez em décadas. Para esse grupo, nada justifica colocar em risco “a oportunidade de alcançar uma vitória histórica”, elegendo Lula e Freixo. A campanha de Molon, por sua vez, diz que os apoios que ele coleciona entre artistas, intelectuais, cientistas e professores reúnem em torno de 700 assinaturas.
Em São Paulo, PT e PSB, bem próximos de um acordo, intensificaram agora uma articulação para o atrair o PSD e convidaram o presidente do partido, Gilberto Kassab, para ser suplente de França em uma eventual candidatura ao Senado. O dirigente também avalia a possibilidade de caminhar ao lado do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome de Bolsonaro ao governo.
Depois de se encontrar no fim de semana com lideranças que organizam a campanha de Tarcísio, Kassab se reuniu ontem com aliados de França. O presidente do PSD afirma que a única certeza que tem no momento é a de que baterá o martelo na sexta-feira. Até lá, pretende promover reuniões com as alas do PSD favoráveis a adesões a cada um dos candidatos.
Kassab despista quando indagado por pessoas próximas sobre a possibilidade de ser suplente de França. O entorno do ex-governador, porém, afirma que ele resiste ao convite para a suplência para não ter que apoiar a chapa de Haddad ao governo estadual, já que há uma ala antipetista no PSD paulista. Outra hipótese em análise é a legenda indicar o ex-prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth (PSD) para vice de Tarcísio.