Moro agora quer ser líder da oposição a Lula

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Foto: Adriano Machado-31.mai.22/Reuters

O ex-juiz, ex-ministro e ex-presidenciável Sergio Moro (União Brasil) afirmou haver uma “tentação” para concorrer ao Senado pelo Paraná e que, se eleito, tem o plano de se tornar líder da oposição em eventual governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Espero que isso não aconteça, mas, no caso de uma vitória do ex-presidente Lula, é natural que eu me coloque na oposição para liderar uma resistência necessária a políticas públicas indesejáveis em relação ao país e também ser uma voz no Congresso em favor da integridade e do combate à corrupção”, afirmou em entrevista à Folha.

Após as tentativas fracassadas de se viabilizar como pré-candidato ao Palácio do Planalto e de transferência de domicílio eleitoral para São Paulo, Moro deve anunciar na próxima semana a decisão de qual cargo irá disputar.

Apesar de dizer que as possibilidades ainda estão em análise, aliados do ex-juiz dizem que ele deve mirar no Senado.

Moro não se diz frustrado por ter que mudar de rota ao longo do ano. “A política tem uma dinâmica. Então, o que a gente tem que fazer é se adaptar às mudanças de cenários.”

Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), ele afirmou que não se pode “ser ingênuo e achar que a corrupção acabou no governo federal ou nos estaduais e municipais”.

Para qual cargo o sr. deve concorrer nas eleições de 2022? As perspectivas são boas para qualquer posição. A direção do União Brasil me deixou à vontade para fazer essa escolha. Recentemente saiu uma pesquisa para o Senado me colocando na liderança. Então é uma tentação eventualmente ir para o Senado.

​Outro nome citado na corrida pelo Senado no Paraná é o do senador Alvaro Dias (Podemos-PR), que foi seu padrinho político. Vocês dividem votos? Há um atrito? É só uma situação que tem que ser definida posteriormente porque nem está certo que eu vou ser candidato ao Senado nem está certo que o Alvaro Dias vai ser candidato à reeleição. Se essa situação se apresentar no futuro, aí sim que a gente vai se preocupar com isso.

Se eventualmente eu for para o Senado, o objetivo é me tornar um líder da oposição. Espero que isso não aconteça, mas, no caso de uma vitória do ex-presidente Lula, é natural que eu me coloque na oposição para liderar uma resistência necessária a políticas públicas indesejáveis em relação ao país e também ser uma voz no Congresso em favor da integridade e do combate à corrupção.

Num segundo turno entre Lula e Bolsonaro, como indicam as pesquisas, o sr. então apoiaria o Bolsonaro? A única hipótese que eu considero no momento é apoio ao Luciano Bivar como pré-candidato à Presidência da República pela União Brasil. Eu espero que nem Lula nem Bolsonaro cheguem ao segundo turno.

Houve uma promessa do Bivar para que o sr. fosse o candidato à Presidência do partido? O sr. se sentiu enganado? Sempre fui tratado com muita lealdade por Bivar, mas nunca me foi dada a garantia. Não tendo sido possível isso, a gente vai contribuir evidentemente para a candidatura presidencial da União Brasil e encontrar um outro caminho para mim.

A que o sr. atribui essa mudança de planos ao longo do ano? A política tem uma dinâmica. Então, o que a gente tem que fazer é se adaptar às mudanças de cenários e, onde vê revés, na verdade é uma oportunidade. No Podemos, a percepção foi que precisaríamos ter uma estrutura partidária maior para ter condições de igualdade contra esses dois extremos. Na transferência para União Brasil, não houve consenso dentro do partido para apoiar meu nome para a Presidência da República. Então isso é uma coisa natural dentro do partido.

​O sr. também tentou se candidatar por São Paulo, mas foi barrado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Agora busca uma vaga na disputa no Paraná. Pode ficar a mensagem de que o Paraná foi a última opção? Como contornar isso? Foi um pedido do partido e acabei pedindo a transferência do meu domicílio eleitoral para São Paulo. Nós estávamos bem amparados juridicamente. Eu particularmente discordo da decisão [do TRE], mas também sou uma pessoa institucional e fiz uma avaliação de que para mim seria ótimo não sair do Paraná. Eu fiquei muito feliz com a decisão e com a oportunidade de concorrer aqui no Paraná, que é onde eu nasci, fiz o trabalho da minha vida mais importante, que foi a Operação Lava Jato.

Já é início de julho. O sr. não tem pressa de anunciar a pré-candidatura, já que a eleição ocorrerá em menos de três meses? Eu não creio que haja pressa, porque as convenções são para o final do mês. Em vários estados, a definição de pré-candidatos só vai acontecer mais próximo das convenções. Então, eu não tenho pressa. Sou uma pessoa conhecida aqui no Paraná, no Brasil inteiro na verdade.

Há resistência dentro da União Brasil à sua candidatura por parte da ala bolsonarista? Zero resistência. Nós temos garantias da legenda tanto da direção nacional como da estadual.

O sr. prepara um plano de governo. Isso é comum na corrida para cargos do Executivo, como de governador. Qual o objetivo? Deixar o caminho aberto para concorrer ao governo do estado? Ainda que eu vá ao Congresso, um parlamentar tem um poder político, tem uma influência que se faz a nível nacional, mas também faz a nível local. Isso é mais importante no momento, mais do que definir o cargo.

Todas as possibilidades estão em aberto. Havendo pesquisas apontando a liderança para cargo no Senado, como já tivemos, isso dá um sentimento de agradecimento pela generosidade do povo paranaense em apontar essa preferência. Claro que isso gera natural tentação para uma disputa nessa linha.

Quais as propostas? Elas são das áreas de combate à corrupção, segurança pública, geração de emprego e renda, educação, saúde e uma parte relacionada à liberdade e à dignidade das pessoas e das famílias.

Uma das propostas é o fim do foro privilegiado, que é algo que tem que ser discutido no Congresso. Mas, por outro lado, a gente também defende a criação de delegacias especializadas estruturadas para combater a corrupção nos estados também no âmbito da Polícia Federal com autonomia e com uma proteção aos investigadores. Isso pode ser implementado nacionalmente ou no estado.

Propomos também forças-tarefas especiais para desmantelar quadrilhas do crime organizado, o que ainda é um problema no Brasil.

O sr. já foi ministro da Justiça e Segurança Pública. Algumas dessas propostas podem ser políticas nacionais. Elas não poderiam ter sido executadas quando o sr. comandou a pasta? Quando fui ministro, a gente avançou muito no combate ao crime organizado e também no combate à criminalidade violenta.

Acho que não teve também Ministério da Justiça que atuou mais efetivamente contra o crime organizado do que aquele durante a minha gestão, mas esse é sempre um trabalho permanente e que precisa sempre de novas propostas.

E algumas das propostas são também de quando eu fui ministro, como a volta da execução de segunda instância. Na época, houve muita resistência no Congresso. Agora, indo para o mundo da política, vamos retomar essas bandeiras.

A Operação Lava Jato vem sendo questionada e sofreu uma série de derrotas. Qual a parcela de culpa que o sr. considera ter? Parcela de culpa nenhuma. Os responsáveis por esses reveses foram aqueles que resistiram ao enfrentamento da corrupção. Não é derrota da Lava Jato. Quem é culpado por ter colocado em liberdade gente condenada? São as pessoas que colocaram elas em liberdade, e não quem proferiu a condenação. Os reveses devem estar atribuídos àqueles que impuseram esses reveses, e não a quem fez o trabalho.

Houve alguns erros ou excessos da Operação Lava Jato? Não. A Lava Jato aplicou a lei, e foi punido somente quem pagou suborno ou recebeu suborno. Infelizmente o Brasil é um país acostumado com a impunidade da grande corrupção, e houve um movimento forte para a volta dessa impunidade.

O sr. acredita que há corrupção no governo Bolsonaro? Não tem como você eliminar de todo a corrupção. O principal é a questão da impunidade. Então a gente não pode ser ingênuo e achar que a corrupção acabou no governo federal ou nos governos estaduais ou nos governos municipais, de todas as entidades públicas em geral. O preço da integridade acaba sendo a eterna vigilância, evidentemente, dentro da lei.

A grande questão é que a gente precisa retomar o combate à corrupção com força, como foi durante a época da Lava Jato. Hoje a gente vê poucas pessoas sendo investigadas, principalmente punidas por prática de crime de corrupção.

Folha