Ataque de Bolsonaro às vítimas de seu capanga foi um presente
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Quem é próximo de Jair Bolsonaro passou os últimos dias repetindo que não tem cabimento fazer qualquer tipo de associação entre o presidente e a morte do guarda civil e dirigente petista Marcelo Arruda, morto a tiros por um bolsonarista no Paraná. Nas conversas reservadas, aliados do presidente criticam a cobertura dada pela imprensa e dizem que o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva querem tirar proveito do caso. Mas circula também no entorno de Bolsonaro a avaliação de que ele errou no cálculo e deu munição ao adversário.
O escorregão, na visão desses mesmos aliados, ficou evidente no forte ataque feito pelo presidente um dia depois do crime, quando foi às redes sociais para se manifestar pela primeira vez sobre o caso. A tese é que ele poderia ter se limitado a rejeitar o apoio de quem comete atos de violência. Em vez disso, Bolsonaro engatou uma crítica à esquerda como um todo, que, segundo ele, é que tem esse histórico.
Postagens irônicas dos filhos do presidente nas redes sociais também alimentaram o incômodo. Mas, como ocorre com frequência, aliados de Bolsonaro dizem que o presidente e sua família se comunicam do seu jeito e não há quem os faça mudar de ideia. Bolsonaro, diz uma pessoa próxima, é “incontrolável”, “não tem filtro” e “fala o que pensa”.
O crime e a reação da família Bolsonaro ajudaram a pavimentar uma virada no discurso de campanha do PT. O partido do ex-presidente Lula passou o dia de ontem reavaliando a estratégia eleitoral e fazendo ajustes no discurso. Pela manhã, a reunião que já estava agendada com partidos aliados serviu para que o time lulista encapasse uma defesa da federalização da investigação e defendesse o combate à violência na eleição.
Essa sucessão de acontecimentos desembocou em nada menos que uma declaração de voto da cantora Anitta, que rendeu a Lula exatamente o que o ex-presidente queria: fazer chegar ao eleitor a mensagem de que até mesmo quem nunca votou no PT pode fazê-lo nesta eleição, se o objetivo é derrotar Bolsonaro. É a base de toda a estratégia de campanha idealizada por Lula.