Bolsonaro diz que vai “impor” transparência
Foto: Crusoé
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou ontem que busca “impor via Forças Armadas” transparência nas eleições brasileiras pois há ministros do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) que “acreditam piamente nas pesquisas do Datafolha”. A líderes evangélicos, Bolsonaro também voltou a expressar preocupação com uma possível prisão caso não se reeleja.
Ele relacionou os processos dos quais é alvo ao caso da ex-presidente da Bolívia Jeanine Añez, presa pelo crime de golpe de Estado. Sem citar nomes, disse ainda que tem sido chantageado e ameaçado com uma possível prisão durante o processo de escolha de ministros para tribunais superiores.
O instituto Datafolha tem mostrado, em seguidos levantamentos de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente de Bolsonaro na disputa pela Presidência. A metodologia do Datafolha, de pesquisa com entrevistas por ponto de fluxo, é usada por outros institutos, com resultado convergente dentro das margens de erro. No segundo turno da eleição presidencial de 2018, a última pesquisa Datafolha apontou uma vantagem de oito pontos percentuais de Bolsonaro em relação a Fernando Haddad (PT). A diferença na urna foi de dez pontos.
Mais uma vez sem apresentar provas de fraudes no sistema eleitoral, Bolsonaro defendeu que o pleito, para ser confiável, precisa do aval dos militares. “Três [ministros] do TSE acreditam piamente nas pesquisas do Datafolha. Estou fazendo minha parte no tocante a isso. Estou buscando impor, via Forças Armadas, que foram convidadas, a nós termos eleições transparentes”, afirmou, em evento da Assembleia de Deus no Brasil, em Guarulhos (SP).
As Forças Armadas estão entre as instituições convidadas pelo TSE em todos os pleitos eleitorais para acompanhamento do processo. Nesta semana, técnicos da instituição conferiram os códigos-fonte da urna, atendendo a um chamado feito ainda no ano passado.
Bolsonaro exige, no entanto, que haja uma apuração paralela pelos militares, além de mudanças de procedimento na auditoria já existente, como a gravação em vídeo do voto de parte dos eleitores. Segundo especialistas, isso poderia ferir o sigilo do voto, cláusula pétrea da Constituição. As urnas eletrônicas são utilizadas no Brasil desde 1996, sem qualquer comprovação de fraude desde então.
Estes ataques ao sistema eleitoral, somados a tentativas de desestabilizar as instituições, levaram à elaboração de uma carta em defesa da democracia, que já reuniu 744 mil assinaturas, incluindo de ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), intelectuais, artistas e empresários.
Para Bolsonaro, quem hoje é signatário do manifesto se omitiu durante restrições impostas por governadores e prefeitos durante a pandemia. As medidas, porém, foram recomendadas pela comunidade científica e adotada na maior parte do mundo.
“Naquela época, ninguém assinou cartinha defendendo a democracia. Agora, tem pessoas com cartinhas pela democracia para dizer que eu não sou democrata. Eu não me omiti em nenhum momento durante a pandemia, até o fato de andar sem máscara é para mostrar que devemos nos preocupar com o vírus, mas não podemos nos acovardar”, disse o presidente, no evento evangélico.
O uso de máscara durante a pandemia foi apontado por cientistas como uma das formas mais eficazes de evitar a propagação do vírus, que matou até agora quase 680 mil pessoas no Brasil.
A carta pela democracia já foi criticada outras vezes pelo chefe do Poder Executivo, que chamou os signatários de “mamíferos”, sugerindo que eles sugam o Estado, além de “caras de pau” e “sem caráter”. O documento, de iniciativa da faculdade de Direito da USP, será lido no dia 11 deste mês em um ato em defesa da democracia.
O discurso teve espaço também para novas críticas à Petrobras. “É complicado dizer que nos orgulhamos da Petrobras” diante do lucro “exagerado” da estatal, disse Bolsonaro. No entanto, o governo recentemente mudou a política de distribuição de dividendos, fazendo uma antecipação dos pagamentos, de modo a reforçar seu caixa em ano eleitoral.