
Lula aposta em rejeição de Bolsonaro entre adversários
Foto: AFP/Miguel Schincariol
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai pisar no acelerador com o objetivo de ampliar a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro (PL), sobretudo entre eleitores de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Com isso, planeja atrair o chamado voto útil para o petista, nome com mais chances de vencer o candidato à reeleição, segundo as pesquisas. O plano é colar no chefe do Executivo as pechas de “incompetente”, “mentiroso” e “insensível”.
Lula tem como prioridade manter a rejeição a Bolsonaro acima dos 50%, patamar em que ele se encontra hoje (51%), de acordo com a pesquisa do Datafolha divulgada no dia 18 de agosto. O mesmo levantamento aponta que 37% rejeitam Lula. Um dado, entretanto, chama a atenção dos lulistas: a redução, embora ainda dentro da margem de erro, do percentual de cidadãos que se recusam a votar em Bolsonaro, que era de 53% na pesquisa Datafolha de julho.
O ex-presidente vai bater na tecla de que o atual titular do Planalto mentiu ao prometer, e não cumprir, isentar de Imposto de Renda os trabalhadores que ganham até cinco salários mínimos. O tema é caro à classe média, setor que vem sendo disputado pelos dois candidatos e pode ser decisivo no rumo do pleito.
Foi falando sobre o assunto que Lula encerrou seu discurso no primeiro ato de campanha, em 16 de agosto, na porta da fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), no ABC paulista.
— A primeira medida que eu vou tomar quando ganhar as eleições é vir aqui dizer a vocês que eu vou reajustar a tabela do Imposto de Renda — afirmou, sem detalhar como pretende fazê-lo.
Com o mesmo intuito, Lula reforçará que Bolsonaro tem afirmado que vai manter o Auxílio Brasil num eventual segundo mandato, embora a lei que garante o benefício só preveja o pagamento dele até 31 de dezembro deste ano. A limitação temporal foi defendida pelo próprio governo quando a proposta foi votada pelo Congresso.
Para propagar esse discurso, o deputado André Janones (Avante-MG), aliado de Lula, fez uma live ao lado do candidato do PT. A transmissão foi reproduzida 1,7 milhão de vezes até a última sexta-feira.
— Como atual presidente, Bolsonaro teria o poder de optar para que o auxílio continuasse após 31 de dezembro, mas não o fez — disse Janones.
Em outra frente, com foco no Nordeste, Lula venderá a tese de que Bolsonaro é incompetente. Para tal, lembrará a seca na região e o recuo no programa de entrega de cisternas, política pública que ganhou fôlego durante as gestões petistas. Em 2014, quando Dilma Rousseff estava no Palácio do Planalto, foram entregues 150 mil unidades, frente a apenas quatro mil no ano passado. Como contraponto às falhas da gestão atual, a campanha apresentará o ex-presidente e seu vice, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), como gestores experientes.
A estratégia de aumentar a rejeição ao atual presidente da República também tem como um dos focos comover o eleitor. Lula baterá nos episódios em que Bolsonaro foi acusado de não demonstrar empatia com os brasileiros submetidos a situações dramáticas, sobretudo durante a pandemia de Covid-19, que deixou 683 mil mortos no país até agora. Nesse sentido, um dos trunfos dos petistas são as imagens em que o chefe do Executivo aparece imitando pessoas com falta de ar. Além disso, será lembrada a demora do governo federal em comprar e disponibilizar à população vacinas contra o coronavírus.
Embora não estejam entre os pilares de apoio do discurso que será usado para ampliar a reprovação a Bolsonaro, os ataques ao sistema eleitoral feitos pelo presidente da República também serão explorados pelo candidato petista. A campanha de Lula tentará vender a imagem do ex-presidente como o gestor público empático e que manteve sólidos canais de diálogo com os principais personagens da comunidade internacional.
Os aliados acreditam que Lula terá tempo de sobra para mesclar propostas com ataques que podem render prejuízos para Bolsonaro. A propaganda eleitoral do petista tem 3 minutos e 39 segundos por dia. O titular do Planalto dispõe de 2 minutos e 38 segundos de exposição em rede nacional de rádio e TV.
O número de inserções na televisão (peças de publicidade mais curtas e avaliadas por estrategistas como mais efetivas do que a propaganda veiculada no horário eleitoral, por chegar ao eleitor no intervalo da programação das emissoras) também será usado dentro dessa estratégia. Lula tem 286 inserções de 30 segundos para 35 dias de campanha, contra 207 de Bolsonaro.
Além disso, os petistas apostam na superioridade numérica de suas tropas nos estados, às quais cabem levar à ponta o discurso elaborado pelo comando da campanha. O arco de alianças em torno do ex-presidente tem mais do que o dobro de candidatos a deputados federais. Os dez partidos da coligação de Lula (PT, PC do B, PV, Solidariedade, PSOL, Rede, PSB, Agir, Avante e Pros) registaram 3.124 postulantes à Câmara, enquanto as três siglas aliadas a Bolsonaro (PL, PP e Republicanos) contam com 1.532 candidatos a deputado federal.