Bolsonarismo dissemina pânico via WhatsApp

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Foto: Wilton Junior/Estadão

Mensagens que circulam em grupos bolsonaristas no Telegram e no WhatsApp espalham planos falsos de tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro (PL) e de cassação da chapa à reeleição e convocam o presidente da República e as Forças Armadas a reagir com “o pé na porta” no 7 de Setembro a suposta tentativa de “fraude eleitoral” e à atuação do Supremo Tribunal Federal.

Os conteúdos ganharam tom de ultimato e de chamamento para uma “guerra”. Como mostrou o Estadão, o alerta de que este 7 de Setembro será a “segunda independência” do Brasil também aparece em outdoors em Brasília.

Mensagens identificadas pela reportagem se referem ao Dia da Independência como “bomba atômica”. “Preparem-se para a guerra!”, disse um usuário num grupo bolsonarista com 32 mil pessoas no Telegram. “Nesta guerra do bem contra o mal o bem vence”, publicou uma usuária em outro grupo, com mais de 60 mil membros na mesma rede.

Segundo o Monitor de WhatsApp e de Telegram da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que inspecionou as atividades de grupos de apoiadores do presidente nas duas plataformas entre 1.º de junho e agosto, alguns desses conteúdos ainda dizem que a data será “a última oportunidade de colocar o País no eixo”.

Para o coordenador do monitor e professor do Departamento de Ciência de Computação da UFMG, Fabrício Benevenuto, bolsonaristas usam os aplicativos na disseminação de mensagens e adotam tom alarmista para gerar “apelo” e atrair as pessoas. “As principais motivações para o 7 de Setembro envolvem algum tipo de radicalismo, e o que estamos vendo nesses grupos é isso. Tem de tudo: de fake news a narrativas que estão tentando construir”, afirmou.

A mensagem mais compartilhada no WhatsApp em grupos bolsonaristas, segundo o relatório, diz que pesquisas internas mostram que Bolsonaro venceria a eleição e, por isso, o PT reagiria. Para impedir que isso ocorra, convocam para os atos. “O futuro dos nossos filhos e famílias está nas nossas mãos”, diz o texto.

“As principais motivações para o 7 de Setembro envolvem algum tipo de radicalismo, e o que estamos vendo nesses grupos é isso. Tem de tudo: de fake news a narrativas que estão tentando construir”
Fabrício Benevenuto, coordenador do Monitor de WhatsApp e de Telegram da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

O material foi enviado 297 vezes por 257 diferentes usuários e apareceu em 173 grupos. Isso quer dizer que, apenas nesses grupos, a mensagem pode ter alcançado até 44 mil pessoas, que podem ter ainda compartilhado o texto para amigos, familiares e vizinhos.

A segunda mensagem com maior circulação é uma carta apócrifa atribuída a um jornalista bolsonarista que diz que “desistirá” se o presidente não “colocar o Brasil no eixo” no dia 7. “Te dei autorização para você meter o pé na porta do STF, do Congresso e mais onde [SIC]for preciso. Estou ratificando esta autorização dia 7 de Setembro”, afirma o texto.

Para a cientista política Camila Rocha, essas mensagens podem atingir uma circulação ainda mais ampla, já que usam os aplicativos de trocas de mensagens para impulsionar conteúdos em outras plataformas. “As narrativas em grupos que são fechados acabam recirculando em outros meios. Um deputado ou vereador mais radical pode sinalizar para apoiadores com palavras ou frases que remetem a esses conteúdos.”

O monitor da UFMG acompanha mais de mil grupos públicos de WhatsApp e mais de 200 grupos e canais no Telegram, que funcionam como listas de transmissão. No WhatsApp, 569 grupos enviaram pouco mais de 9 mil mensagens por 2.562 usuários. No Telegram, foram 115 grupos, somando 3.700 mensagens enviadas por 973 usuários distintos.

No Telegram, duas das mensagens mais compartilhadas coincidem com as do WhatsApp: a sobre o plano do PT de impugnar a chapa de Bolsonaro ou de matar o presidente e a que cita a carta apócrifa.

Para o professor de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Viktor Chagas, essas manifestações geralmente são apresentadas com tom de “última cartada”, o que gera um entusiasmo nos grupos de WhatsApp. “É uma estratégia comum desde 2018. Fizemos um levantamento naquela época dos momentos em que as mensagens de caráter anticomunista circulavam mais, e vimos que havia correlação intensa entre momentos em que eram divulgadas pesquisas de opinião pública em que Bolsonaro aparecia relativamente estagnado”, relatou.

A mensagem mais compartilhada no Telegram convida o usuário a ler um manifesto, publicado em outro link. Nesse novo endereço, o “povo patriota” determina que Bolsonaro prenda ou destitua “ministros, agentes e parlamentares em flagrante conluio criminoso contra o estado democrático de direito, a economia popular e a soberania nacional por criar um estado paralelo ditatorial”.

Em nota, o WhatsApp informou que trabalha com autoridades na proteção da integridade do processo eleitoral para coibir abusos e mantém parcerias com o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também destacou que o usuário pode denunciar mensagens diretamente no aplicativo. “O WhatsApp tem um programa de colaboração com as autoridades brasileiras que possibilita o pronto banimento de contas e de grupos.”

A reportagem questionou a Presidência da República se o governo está ciente do teor da mobilização de apoiadores de Bolsonaro, mas não houve resposta. O Telegram não se posicionou sobre o assunto.

Alcance
569 grupos estavam ativos no WhatsApp entre junho a agosto

9.091 mensagens sobre o 7 de Setembro foram enviadas no período

115 grupos estavam ativos no Telegram entre junho a agosto

3.700 mensagens foram enviadas sobre o 7 de Setembro no período

46 mil mensagens sobre o 7 de Setembro circularam no Facebook em agosto

6,1 milhões interações foram geradas por posts no Facebook

515 mil posts sobre 7 de Setembro foram feitos no Twitter

Estadão