Lula diz ao agro que restabelecerá relação com China

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Palácio do Planalto, faz um movimento para afagar ao mesmo tempo os representantes do mercado financeiro e do agronegócio, dois segmentos em que ele enfrenta resistências. O presidenciável afirmou que vai reestabelecer as boas relações com a China, o maior parceiro comercial do Brasil, nos primeiros seis meses de governo. Durante a gestão de Jair Bolsonaro, houve episódios de desgaste diplomático com a China.

A declaração de Lula foi dada durante a sabatina do Canal Rural, programa gravado na noite deste terça-feira e que deveria ir ao ar na noite desta quarta. O petista também afirmou que vai melhorar as relações comerciais com a Europa. Assim como ocorreu com a China, Bolsonaro protagonizou embates públicos com líderes de nações europeias, como a França e a Alemanha.

Por uma hora, Lula respondeu perguntas de três entrevistadores e se comprometeu a investir nas relações internacionais. Ele usou o termo “mascate” (mercador ambulante) para sintetizar como pretende vender o Brasil para o mundo e estabeleceu prazo de seis meses para colher resultados. Com isso, ele pretende dar segurança a produtores rurais.

As rusgas criadas por Bolsonaro e seus aliados com autoridades chinesas geraram preocupação entre empresários do agronegócio, que exportam grande parte de suas produções ao país asiático. Os chineses compram bilhões por ano em soja, minério de ferro, petróleo, carnes e celulose produzidos no Brasil.

Lula também tem centrado esforços para vencer as desconfianças do mercado financeiro. Um dia após anunciar o apoio do ex-ministro Henrique Meirelles à sua candidatura, ele disse durante a entrevista ao Canal Rural que não será irresponsável com as contas públicas. Alegou que suas gestões cumpriram metas fiscais e lembrou que o seu governo pagou a dívida do Brasil com o Fundo Monetário Internacional. Ele também afirmou que não fará dívidas para honrar com custeio e que, se o fizer, será para investimentos de obras de infraestrutura. Lula tem dito que vai devolver o crescimento da economia ao país retomando uma série de obras atrasadas.

Durante a sabatina, Lula prometeu que, se eleito, irá conversar com todos os setores do agro. O candidato disse que pretende estabelecer uma relação de diálogo com a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), hoje comandada pelo deputado bolsonarista Sergio Souza (MDB-PR). Conforme O GLOBO adiantou, aliados de Lula já trabalham por uma aproximação do petista com integrantes da FPA. Embora admitam que o petista dificilmente irá virar voto entre apoiadores de Bolsonaro no agro, enxergam nesta entrevista como a possibilidade de Lula abrir pontes de diálogo para um novo governo e quebrar resistências com produtores indecisos.

Lula decidiu falar ao Canal Rural para corrigir os danos causados com os produtores rurais por uma frase dita durante entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Na ocasião, ele afirmou que alguns dos integrantes do agronegócio são “fascistas” e “direitistas”. Ontem, ele tentou se explicar e disse que não generalizou o setor e, sim, criticou aquelas que desrespeitam regras ambientais.

Lula também tentou pegar carona numa das atrações de maior sucesso da TV Globo no momento, ao abordar seu plano para a universalização da internet no campo, outra proposta cara ao agro. Ele citou novela “Pantanal” e lembrou que personagem Zé Leôncio, interpretado por Marcos Palmeira, tem acesso à internet no meio da lavoura. Levar conexão às plantações é vista como um instrumento importante para aumentar a competitividade do produtor brasileiro, já que facilitaria a automatização da produção com tecnologia de ponta.

Lula esteve no canal acompanhado de Aloizio Mercadante, coordenador do plano de governo, do senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT), do deputado federal Neri Geller (PP-MT) e do produtor de sementes Carlos Augustin. O grupo, inclusive, participou de uma preparação prévia com o petista, na segunda-feira. Lula citou uma das propostas sugeridas pelos Geller e Fávaro ao plano de governo petista: a conversão de áreas de pastagem em territórios de cultivo para a agricultura, tirando a pressão de novos desmatamentos em áreas virgens.

A gravação ocorreu em meio a uma ofensiva do seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), junto ao setor em estados bolsonaristas. Nesta quarta-feira, o ex-governador vai a Goiânia (GO) e Cuiabá (MT) e na quinta, a Porto Velho (RO) — único estado onde Bolsonaro ganhou em todos os municípios em 2018. Antes, Alckmin já havia se reunido com representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) e da Associação Brasileira de Agricultura Familiar, Orgânica, Agroecológica e Agroextrativista (Abrabio). Um dia depois, teve um encontro com produtores de Uberlândia (MG)

— É menos uma estratégia pensando no voto, e mais de demonstrar que haverá diálogo com todos os setores — afirma Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha petista, sobre as conversas da campanha com o agronegócio.

O Globo