Rio tem vários candidatos envolvidos com crime organizado

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Foto: Ana Branco

A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio (PRE-RJ) abriu procedimentos preparatórios eleitorais para investigar a campanha de seis candidatos a deputado estadual e federal com ligações com organizações criminosas. Um dos objetivos é cruzar a votação dos seis com relatórios da Polícia Federal (PF) e do setor de inteligência do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) para verificar a possível concentração de votos em áreas dominadas por essas organizações e a baixa votação dos concorrentes na mesma região.

Com base em relatórios internos da PF e do MP-RJ, O GLOBO mostrou, nesta terça-feira, que pelo menos oito candidatos têm relação com grupos envolvidos com milícia, jogo do bicho e narcotráfico. Dois deles foram impugnados pela Justiça Eleitoral. Os outros seis são alvo dos procedimentos abertos pela Procuradoria após a publicação da reportagem.

O objetivo da medida, uma vez comprovada a conexão das campanhas com grupos criminosos, é ajuizar ações de impugnação da diplomação dos candidatos que se elegerem.

Dados dos relatórios da PF e do MP-RJ alertam que esses candidatos podem levar vantagem no domingo sobre os concorrentes por fazer campanha com livre acesso a áreas dominadas por milícias e narcotraficantes, além de usar o poderio econômico relacionado às atividades ilícitas das organizações.

Com base em resultados de duas investigações, a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio apuraram que dois candidatos a deputado estadual — os empresários Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias (MDB), e Cristiano Santos Hermógenes (PL) — e uma candidata a federal, a advogada Flávia Pinheiro Fróes (União Brasil), são suspeitos de terem ligação com organizações do narcotráfico. Um — o candidato a federal Sérgio Porto (PROS), o coronel Porto, seria relacionado a milícias. Outros dois — os candidatos a federal Ricardo Abrão (União Brasil) e Allan Turnowski (PL) — são suspeitos de vinculação com o bicho.

A lista de oito é completada por Vandro Lopes Gonçalves, o Vandro Família (estadual, do Solidariedade) e por Sérgio Roberto Egger de Moura, o Egger, (estadual, DC), que aparecem nos relatórios ligados a milícias e tiveram as candidaturas impugnadas.

Procurados pelo GLOBO, os investigados negaram no início da semana a ligação com o crime. Cristiano Santos Hermógenes, irmão de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, afirmou que o parentesco com um dos líderes de uma facção criminosa não atrapalha sua candidatura. Ele nega relação com os crimes pelos quais o irmão foi preso:

— Somos irmãos e eu o amo, mas não tenho orgulho dos crimes cometidos por ele.

Flávia Fróes, suspeita de ligação com traficantes como Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar, diz que apenas representa e luta pelos direitos dos familiares de presos.

O advogado do delegado Allan Turnowski, Daniel Bialski, afirmou ter esperança de seu cliente ser solto em breve para que possa continuar sua campanha, já que diz não haver prova da ligação dele com a contravenção ou que represente risco à segurança pública. Ricardo Abrão, sobrinho do bicheiro Anísio Abrão David diz respeitar o tio, mas sustenta que ele não participa de sua campanha. No entanto, se diz defensor da legalização do jogo do bicho como uma forma de gerar empregos e impostos.

A defesa de Sergio Egger atribui a acusação de ligação com milícias a adversários políticos e diz que já teve investigações nesse sentido encerradas sem comprovar nada. Coronel Porto e Vandro Família não foram localizados.

Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias — Candidato a deputado estadual pelo MDB. Foi preso pela Polícia Civil, acusado de integrar uma quadrilha de traficantes, além de ser responsável pela lavagem do dinheiro com o uso de empresas do ramo de joias. Tiego também foi acusado de pagar propina para PMs, em troca de informações privilegiadas. Na Justiça, responde por tráfico, formação de quadrilha, organização criminosa, comércio ilegal de arma de fogo, receptação de veículo roubado, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Em foto nas redes sociais, aparece com o filho de Elias Maluco.

Cristiano Santos Hermógenes — Com nome na urna Cristiano Santos, é candidato a deputado estadual pelo PL. Já foi vereador em Belford Roxo em 2016. Disputou o cargo de prefeito em 2020, não sendo eleito. É irmão de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, um dos líderes de facção do narcotráfico. Teria obtido autorização da cúpula da facção para fazer campanha no interior das comunidades.

Flávia Pinheiro Fróes — Candidata a deputada federal pelo União. Advogada, atua para a cúpula de uma facção do narcotráfico, tendo no portfólio nomes como Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-­Mar, e Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka. Se autointitula-se advogada do tráfico. Já foi acusada de ter repassado ordem 59 para compras de fuzis no Paraguai e ataques à ordem pública na cidade do Rio de Janeiro, incluindo morte a agente públicos.Vem fazendo sua campanha política em área sob domínio das facções, onde outros candidatos não têm autorização para entrar, como demonstrado em suas redes sociais.

Sérgio Porto — Coronel da PM, é candidato a deputado federal pelo PROS. O ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, um dos responsáveis pela milícia Liga da Justiça, dias antes de ser assassinado, no dia 4 de agosto, anunciou seu apoio às pré-candidaturas do coronel Porto e do vereador Jalmir Júnior, do PRTB de São Gonçalo, como deputado estadual. Em uma publicação nas redes sociais no dia 31 de julho, Jerominho escreveu que a população “estará bem representada” por Porto, ex- comandante do 15º BPM (Duque de Caxias) e do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv).

Vandro Lopes Gonçalves, o Vandro Família — Tenta recurso para disputar a eleição a deputado estadual pelo Solidariedade, impugnada pela Justiça Eleitoral. Militar reformado, ex-deputado estadual (cassado), foi vereador, vice-prefeito e secretário de obras em Magé/RJ. Foi preso em abril de 2012, quando ainda era sargento da PM, acusado de chefiar grupo miliciano em Magé. O bando criminoso fora denunciado pelo MP pela autoria de seis homicídios. Vandro Família foi alvo de operação policial em maio de 2019, contra suspeitos de integrarem grupo de extermínio. É acusado de ser mandante do assassinato de suplente de vereador.

Sérgio Roberto Egger de Moura — Com nome na urna Egger, é candidato a deputado estadual pelo Democracia Cristã. Ex-sargento da PM, foi vereador em Araruama em 2009, quando foi preso acusado de comandar uma milícia na Região dos Lagos e da . Em 2011, foi transferido para presídio federal após descoberta de plano de atentados contra policiais, promotores, magistrados e testemunhas.

Ricardo Abrão, filho de Farid Abraão David e sobrinho de Anísio — Candidato a deputado federal pelo União Brasil, já foi deputado estadual. Desde os anos 1970, a família do bicheiro Anísio comanda a política em Nilópolis e tem representantes no parlamento. No ano passado, morreu Simão Sessim, primo do bicheiro, que cumpriu dez mandatos de deputado federal. A candidatura de Ricardo, lançada com a presença no governador Cláudio Castro, teria o objetivo de preencher essa lacuna.

Allan Turnowski — Candidato a deputado federal pelo PL, é ex-secretário de Polícia Civil. Está preso desde o dia 9 e se tornou réu em processo de organização criminosa que tramita na 1º Vara Criminal Especializada da Capital e o aponta como braço de chefões do jogo do bicho dentro da estrutura da Polícia Civil.

O Globo