Centrão começa a abandonar Bolsonaro

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Foto: Reprodução

Principal força do próximo Congresso – com 200 representantes entre os 540 deputados federais e senadores eleitos – e base do governo de Jair Bolsonaro (PL), o Centrão se mantém distante do segundo turno contra o ex-presidente Lula (PT): 40 parlamentares, o equivalente a um em cada cinco do bloco formado por PL, PP e Republicanos, não tem declarado apoio à reeleição do atual presidente, mesmo integrando sua coligação.

O levantamento realizado pelo GLOBO considerou manifestações nas redes sociais dos parlamentares que ocorreram após o primeiro turno, quando já não tinham mais necessidade de trabalhar por suas próprias candidaturas. No total, 162 deputados e senadores de todos os partidos — ou seja, 30% dos eleitos — ignoraram a campanha presidencial até a última sexta-feira.

O Centrão, embora hoje alinhado a Bolsonaro, se caracteriza como um bloco fisiológico que habitualmente se alinha ao governo da vez, e que já teve composições partidárias distintas. No caso da aliança de Lula, formada pelo PT e por outros sete partidos com representação no Congresso – PCdoB, PV, PSOL, Rede, Solidariedade, Avante e PROS, os três últimos considerados parte do Centrão no governo Michel Temer –, o engajamento no segundo turno é superior ao do apresentado pela aliança de Bolsonaro. Dos 127 parlamentares da coligação petista, só 15, o equivalente a um entre dez, não haviam se manifestado em apoio a Lula até esta semana.

Os parlamentares eleitos alheios à polarização — Foto: Arte

O Nordeste, em cujos estados Lula teve seus melhores desempenhos no primeiro turno, registra o maior índice de parlamentares do Centrão distantes da campanha de Bolsonaro. Por ora, 21 dos 40 deputados e senadores eleitos por PL, PP e Republicanos que não se manifestaram em apoio ao presidente são da região. O número inclui parlamentares que permanecem isentos nas redes neste segundo turno e também dois deputados federais, ambos do Republicanos – Silvio Costa Filho (PE) e Wilson Santiago (PB) – que fizeram manifestações favoráveis a Lula.

Correligionário de Santiago, o deputado federal paraibano Murilo Galdino, um dos “isentões” do Centrão, diz que o diretório local do Republicanos “deixou os integrantes liberados na questão presidencial”. Ele é filho do presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, Adriano Galdino, que é aliado do governador João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição com apoio do PT no segundo turno estadual. Nas redes, os Galdinos pai e filho têm registrado mobilizações e encontros políticos em prol da candidatura de Azevêdo.

— Apesar de algumas manifestações individuais, o partido optou pela neutralidade (presidencial) na Paraíba. Temos uma aliança com o governador desde o primeiro turno e vamos focar na campanha estadual – afirmou o deputado.

O PP é o partido do Centrão que tem maior número de parlamentares alheios à disputa presidencial, com 21. No ranking geral de “isentões”, o PP fica atrás apenas do União Brasil, em que 29 dos seus 64 deputados e senadores eleitos não declaram voto entre Lula e Bolsonaro – a sigla liberou seus diretórios regionais após sua presidenciável, Soraya Thronicke, ser derrotada no primeiro turno. Entre os parlamentares do União Brasil que se manifestaram, apenas a deputada Daniela do Waguinho (RJ), declarou apoio a Lula.

A maior parte dos parlamentares neutros do PP está no Nordeste, região do presidente em exercício da sigla, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Dos 21 eleitos pelo partido na região, 12 evitam se manifestar a favor de Bolsonaro no segundo turno. Lira está na minoria dos que declararam apoio abertamente à reeleição. Cajado, que tem evitado citar o nome de Bolsonaro em suas redes, fez uma publicação na última quinta-feira citando o número do PL ao indicar seu voto para a Presidência.

Deputados do PP no Nordeste, como Mario Negromonte Jr. (PP-BA) evitam fazer campanha para Bolsonaro e têm comemorado suas próprias vitórias, com amigos ou em Brasília — Foto: Reprodução

Há casos no PP como o do deputado federal Mário Negromonte Jr., da Bahia, e o da deputada Amanda Gentil, do Maranhão, que fizeram sinalizações de apoio a Lula no primeiro turno, mas mantêm uma posição atual de neutralidade. Em agosto, na tentativa de sinalizar sua adesão a Bolsonaro e conter dissidências, o PP chegou a vetar coligações com o PT nos estados.

Negromonte evitou citar o nome de Lula mesmo em eventos nos quais discursou em favor do ex-presidente; após o primeiro turno, ele se absteve da campanha e passou a divulgar momentos de lazer nas redes. Amanda, filha do prefeito do município de Caxias (MA), Fábio Gentil, cujo grupo é alinhado ao ex-governador e senador eleito Flávio Dino (PSB), viajou a Brasília para, segundo ela mesma, conhecer seu futuro local de trabalho.

– Estou esperando o posicionamento do meu grupo político. Sou leal, não faço nada individualmente. O PP é da base do governo (estadual) e meu pai é prefeito, e vamos decidir de forma alinhada – disse a deputada eleita.

No Ceará, a deputada federal Fernanda Pessoa (União-CE) fez uma publicação em suas redes, na última semana, para comunicar que era falso um panfleto divulgado nas redes sociais anunciando sua presença no evento “Mulheres com Bolsonaro”, no domingo passado. No post, a parlamentar disse ter ficado “surpresa e bastante indignada”. Ao GLOBO, ela disse que o apoio declarado a Bolsonaro pelo candidato do União Brasil ao governo cearense, Capitão Wagner, é uma “posição individual”, e afirmou que não costuma “ficar em cima do muro”, mas ainda não se decidiu. No estado, o candidato do PT, Elmano de Freitas, se elegeu governador em primeiro turno.

Embora uma ala do partido tenha aberto palanque a Bolsonaro no Ceará, a deputada reeleita  Fernanda Pessoa (União-CE) desmentiu notícia de que participaria de apoio — Foto: Reprodução

– Estou vendo o que é melhor para o meu estado antes de me posicionar. Quando alguém coloca seu nome em um evento sem te avisar, considero isso uma fake news.

No PL, partido de Bolsonaro, há posturas de neutralidade de quatro dos 24 parlamentares eleitos no Nordeste – caso de Josimar Maranhãozinho (PL-MA), alvo de inquérito da Polícia Federal (PF) por um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares – e também de integrantes da velha guarda do partido, mais alinhados ao presidente da sigla, Valdemar Costa Neto. Ex-ministro dos Transportes no governo Dilma Rousseff (PT), Antonio Carlos Rodrigues usou as redes sociais após o segundo turno para celebrar o Dia das Crianças, registrar o apoio de torcidas organizadas do Palmeiras à sua candidatura e para publicar um vídeo explicando a função de um deputado federal.

Sargento Portugal (Podemos-RJ), deputados eleito pelo Rio, ainda não se posicionou no segundo turno, mas pediu opinião de seguidores sobre Lula ou Bolsonaro — Foto: Arte

Entre os partidos que declararam apoio a Lula no segundo turno, o PDT, de Ciro Gomes, é um dos que mais registra posições de neutralidade: 12 dos 17 eleitos pela sigla ignoram o candidato petista até agora. Um desses nomes é o do deputado reeleito Mário Heringer (MG), que foi defensor da candidatura de Ciro e teceu críticas a Lula no primeiro turno. Outro que tem evitado o cenário nacional, o pedetista Josenildo Abrantes, deputado mais votado no Amapá e aliado do governador Waldez Góes (PDT), usou suas redes para destacar que voltou ao cargo de secretário estadual de Fazenda logo após se eleger.

Há também casos de parlamentares que decidiram se posicionar apenas após o primeiro turno, quando já estavam eleitos. Um desses nomes foi Marussa Boldrin (MDB-GO), aliada do governador reeleito Ronaldo Caiado (União), que passou a registrar fotos com Bolsonaro em suas redes na última semana e recebeu críticas e elogios de seguidores.

O Globo