Lira e Pacheco querem seguir comandando o Congresso

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Foto: CRISTIANO MARIZ

Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), darão a largada de suas campanhas à reeleição em situações opostas. O primeiro deverá compor com o futuro governo do PT, mas vai enfrentar a resistência de parlamentares conservadores para se manter no posto. Já o deputado do centrão hoje está do lado oposto e não tem qualquer garantia de apoio dos petistas. Em comum, porém, ambos chegam para a disputa com chances reais de vencer.

A eleição às presidências das duas Casas ocorrerá em fevereiro. Até lá, o presidente da República eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, trabalhará para ampliar sua base no Congresso e conquistar, sobretudo, os partidos do Centrão, grupo político do qual Lira faz parte e que atualmente está fechado com Bolsonaro.

Nessa missão, Lula mandou emissários avisarem ao deputado que ele gostaria de uma reunião, que pode ocorrer na semana que vem. Os petistas esperam que Lira emita sinais de que está disposto a dialogar com o futuro governo. Seu primeiro discurso, no domingo, reconhecendo o resultado das eleições, foi visto positivamente. O Centrão, conhecido pelo pragmatismo político, integrou todas as gestões petistas.

Na Câmara, a avaliação de líderes ouvidos pelo GLOBO é de que Lira chegará fortalecido para disputar a reeleição. Independentemente da eventual composição com o governo, só os três principais partidos do Centrão — PP, PL e Republicanos — terão 187 dos 513 deputados na próxima legislatura.

A possível aproximação com Lira enfrenta resistências de parte do PT. Nesse cenário, líderes de partidos com quem Lula já negocia, principalmente do MDB, avaliam alternativas a Lira. Um dos cotados seria Eunicio Oliveira (MDB-CE), ex-presidente do Senado e eleito deputado na nova legislatura. Procurado, ele se coloca no jogo e diz que está “disponível para cumprir qualquer missão” durante o próximo governo. Outro citado, ainda que embrionariamente, é o atual líder da sigla, Isnaldo Bulhões (AL), conterrâneo de Lira. Qualquer nome nesse campo, porém, precisará do aval de Lula para se viabilizar.

A movimentação para a escolha de um candidato na Câmara será precedida da articulação de partidos para a formação de blocos. Antes da eleição, as siglas se juntam para poder ter preferência para o comando de colegiados importantes, como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O bloco com mais deputados sai na frente para ocupar postos importantes.

No Senado, Rodrigo Pacheco está cada vez mais próximo dos petistas. O líder do PT na Casa, Paulo Rocha (PA), diz que o partido está fechado com o Pacheco, caso ele mantenha o plano de reeleição. Rocha aposta que PSD, União Brasil e MDB, além dos petistas, devem se unir em torno de um nome.

Pacheco também espera contar com o apoio de Rede, PSB e PDT. Logo na primeira semana após a eleição, ele sinalizou disposição para trabalhar com a esquerda e marcou uma reunião com parlamentares petistas, alguns recém-eleitos, como o senador Wellington Dias (PT-PI), que atuou na campanha petista. Também deverá estar presente o relator do Orçamento de 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), também próximo a Lula.

A ideia do encontro é debater as políticas públicas prioritárias para o futuro governo que precisarão passar pelo Congresso. Na prática, trata-se de um aceno de Pacheco aos petistas, para demonstrar que ele quer ouvi-los desde já. Deve ser discutido, por exemplo, o tamanho das emendas de relator, além de programas de habitação e saúde.

Pacheco terá como desafio vencer a eleição no primeiro ano de uma legislatura marcada pelo aumento do número de personagens conservadores na Casa. O PL, legenda ao qual o presidente Jair Bolsonaro é filiado, fez a maior bancada, com 14 senadores. Aliados próximos de Bolsonaro, como a recém-eleita Damares Alves (Republicanos-DF) já deixaram claro que pretendem disputar a presidência do Senado, assim como o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que também se elegeu. Ele, a princípio, pretende concorrer ao posto apenas daqui a dois anos.

Se Pacheco conseguir unir a esquerda em torno de si e atrair o MDB, poderá largar com o apoio de aproximadamente 35 dos 81 senadores, número que lhe torna um nome altamente competitivo.

Renan Calheiros (MDB-AL), que já comandou o Senado quatro vezes, também é apontado como possível nome apoiado por Lula, mas como um “plano B”.

O Globo