Presidente do PT deve voltar à Casa Civil

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Foto: Nelson Almeida/AFP

A rigor, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva só deve começar a negociar a composição de seu ministério nesta segunda-feira. Mas alguns de seus parceiros na campanha são considerados figuras certas no primeiro escalão, segundo as apostas de quatro auxiliares do petista ouvidos pela equipe da coluna nos últimos dias.

Nessa bolsa de apostas seleta, Gleisi Hoffmann, Alexandre Padilha, Aloizio Mercadante, Fernando Haddad e Marina Silva possuem lugar garantido no primeiro time do governo Lula 3.0. Simone Tebet também só não vai para o ministério se não quiser.

Por ora, Haddad é um dos campeões das projeções de lulistas, nos bastidores. O ex-prefeito de São Paulo foi derrotado na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes no segundo turno, mas saiu da disputa com a maior votação já recebida por um candidato do PT ao governo paulista – 10,9 milhões de votos (44,73% dos votos válidos).

A equipe da coluna apurou que, hoje, duas pastas são as mais cotadas para Haddad: o Ministério das Relações Exteriores e o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Em comum, os dois ministérios têm forte projeção, visibilidade midiática e exigem do seu titular habilidade política na costura de acordos e negociações.

Combinam, ainda, com duas prioridades de Lula em seu terceiro mandato: fazer um governo de projeção global, reinserindo o Brasil na diplomacia internacional, e trabalhar pelo que o petista chama de “reindustrialização” do país.

Dentro do QG lulista, a avaliação é a de que Haddad errou na estratégia adotada no primeiro turno da disputa pelo governo de São Paulo, quando concentrou os ataques nas administrações tucanas, ao invés de reproduzir a nível estadual a polarização PT-Bolsonaro da corrida presidencial. Mesmo assim, o ex-prefeito deverá ser “compensado” com alguma pasta de envergadura.

Só que Haddad não pretende retornar para a antiga pasta que comandou de 2005 (governos Lula 1.0 e 2.0) até 2012 (governo Dilma), tornando-se o mais longevo ministro da Educação da história.

Durante os acertos da aliança petista, Lula sinalizou que o MEC poderia ficar com o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), que abriu mão de disputar uma vaga no Senado em prol do acordo entre PT e PSD em Minas. Mas para garantir a governabilidade e acomodar novas forças políticas, talvez Lula tenha de mudar os planos.

Considera-se que, nesse arranjo, o cargo pode acabar sendo ocupado por Izolda Cela, do PDT, governadora do Ceará que foi preterida por Ciro Gomes para disputar o cargo nesta eleição.

O ex-ministro Aloizio Mercadante também é outro nome dado como certo no terceiro governo lulista, ou para o Itamaraty ou para a pasta do Planejamento, que foi fundida à Economia no governo Bolsonaro e deve ser desmembrada novamente.

Já a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, é cotada para assumir outro cargo estratégico: a chefia da Casa Civil, que já ocupou nos primeiros anos do governo Dilma, quando assumiu o posto após a queda de Antonio Palocci – e ficou conhecida como “dama de ferro” e “Dilma da Dilma”.

Lula quer um nome de perfil político para o cargo, que é uma espécie de posto-chave na articulação com os outros ministérios.

Quem também pode voltar para o posto que já ocupou no passado é a ambientalista Marina Silva, eleita deputada federal por SP e um dos nomes favoritos para assumir o Ministério do Meio Ambiente.

Outra pessoa que pode ocupar essa pasta é Izabella Teixeira, que já foi ministra durante o governo Dilma. Mas, de acordo com a equipe de Lula, Marina tem mais chances por ser uma figura de projeção internacional.

Lula pretende resgatar o protagonismo da pasta e colocar a pauta ambiental como uma das prioridades de sua gestão, até como forma de se contrapor à gestão de Bolsonaro, marcada pelo negacionismo científico e o aumento do desmatamento na região amazônica.

Nos últimos dias, também voltou a ganhar força entre os petistas o nome do deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) para chefiar o Ministério da Economia.

O parlamentar vem sendo lembrado porque, durante a campanha, teve uma série de conversas com empresários, investidores e banqueiros, a pedido de Lula, para diminuir a resistência e as desconfianças com a falta de propostas concretas do petista na área econômica.

Também crescem as menções a seu nome porque Lula já sinalizou que pretende colocar um político no cargo, para negociar com o Congresso. Outro motivo para as apostas é o fato de que o presidente eleito não quer tirar muitos dos novos senadores eleitos de seus cargos para não desfalcar a defesa do governo no Senado, onde o PL de Jair Bolsonaro tem a maior bancada, com 15 integrantes.

Mas quem disser que sabe com certeza quem o presidente eleito vai colocar na pasta mais importante do governo estará mentindo. Se Lula já decidiu o que fará, fez desse o segredo mais bem guardado do petismo.

Enquanto alguns nomes são dados como certos, outros permanecem em aberto. Para o Ministério da Defesa, por exemplo, Lula quer um civil, mas o nome de quem deve assumir a pasta ainda é um mistério. “Será um civil? Quem? Ninguém sabe”, disse um próximo interlocutor do presidente eleito.

Em conversas reservadas, os generais de quatro estrelas dizem que o mais bem aceito seria Geraldo Alckmin, justamente por não ser petista e ter perfil considerado um moderado.

Mas as chances de o vice-presidente ocupar um ministério não parecem muito grandes, segundo os lulistas mais próximos. Até porque é complicado nomear como ministro alguém que não se pode demitir.

Por enquanto, o que se diz é que Alckmin terá um papel de coordenação das ações de governo.

O Globo