PL quer sacramentar fascismo no país
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O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, espera tê-lo como o presidente de honra da agremiação e o líder que comandará a oposição ao governo do PT e seus aliados nos próximos quatro anos. Essa liderança se estenderá à extrema direita, a versão mais radical do bolsonarismo, que se recusa a reconhecer o resultado das urnas e mantém mobilizações antidemocráticas na porta de quartéis e bloqueios nas estradas. O presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, disse ao Correio que Bolsonaro ajudará a manter essa ala abrigada no PL, sob controle do atual presidente.
“Esse é um dos principais motivos que eu vejo da entrada do Bolsonaro (no PL), dele poder trabalhar pelo partido, que ele tenha o controle desse pessoal”, disse Costa Neto. O político também declarou não ter medo dos radicais: “Sempre convivi com eles, eles podem ficar, com o maior prazer”. Costa Neto prometeu ao presidente, além do cargo honorífico, toda a estrutura administrativa da agremiação para que ele possa trabalhar nos próximos quatro anos.
Mesmo após o Ministério da Defesa divulgar o relatório sobre a auditoria das urnas eletrônicas, em que nada de irregular foi constatado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) segue sem se pronunciar. O parecer das Forças Armadas era visto por Bolsonaro e aliados como argumento para contestar o resultado das urnas. Entretanto, a expectativa de colisão entre as Forças Armadas e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não se concretizou. Mas o presidente alimenta, com seu silêncio sobre o resultado das eleições, a base de apoiadores mais radicais que ainda estão em clima de confronto com o Estado Democrático.
Um dos objetivos do presidente é se manter como líder da extrema direita bolsonarista que financia, articula e mobiliza os grupos mais radicais e violentos, entre eles os que promovem bloqueios ilegais nas rodovias e ameaçam opositores e jornalistas nas manifestações que pedem intervenção militar. Nesses grupos estão militantes armados, com posse e porte de armas de fogo autorizados por decretos do presidente.
Desde que se candidatou à Presidência pela primeira vez, em 2018, Bolsonaro ataca sem provas as urnas eletrônicas, dando munição a teorias conspiratórias que são disseminadas pelos apoiadores. Mas o silêncio dos últimos 13 dias contrasta com o mandato de muito barulho, marcado por motociatas, conversas com apoiadores no cercadinho do Alvorada, “lives” e declarações polêmicas. Da derrota nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até ontem, Jair Bolsonaro só percorreu o trajeto entre os palácios da Alvorada e do Planalto duas vezes.
Ao trocar as aparições públicas pelos bastidores, o presidente tenta encontrar uma maneira de manter sua base mobilizada. Bolsonaro chegou a consultar o Exército sobre a possibilidade de judicializar o pleito, com o argumento de que Lula não deveria ter disputado as eleições por causa das condenações na Operação Lava Jato — todas anuladas pela Justiça. Os militares, porém, se negaram a embarcar na aventura de um autogolpe de Estado ou intervenção militar.
Bolsonaro fez apenas dois pronunciamentos públicos desde que a Justiça Eleitoral confirmou a vitória de Lula. Em nenhum deles reconheceu a derrota. Limitou-se a pedir aos apoiadores que não obstruíssem as vias públicas nas manifestações golpistas.
O único gesto de distensionamento feito pelo incumbente foi quando chamou Geraldo Alckmin (PSB) ao gabinete presidencial para um breve encontro. Segundo o vice eleito e coordenador do gabinete de transição, Bolsonaro se colocou à disposição para ajudar na transição.
Interlocutores próximos ao governo associam a derrota de Bolsonaro à má avaliação de seu entorno político, que via Lula como adversário ideal para a campanha de reeleição. O próprio presidente enxergava no duelo uma boa oportunidade de reforçar o antipetismo no eleitorado. É esse capital político que o PL tenta preservar.
O problema será a convivência com os radicais. Aliados citam que os atos da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e do ex-presidente do PTB, Roberto Jefferson, ajudaram na derrocada da campanha pela reeleição. Jefferson recebeu a tiros e granadas agentes da Polícia Federal (PF) que foram prendê-lo após decisão do Supremo Tribunal Federal. Zambelli apontou uma arma para um homem negro, em pleno centro de São Paulo, após discussão motivada por divergências políticas.