Lula repete que estar na Transição não implica em ser ministro

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Foto: Eraldo Peres/AP Photo

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou a aliados que poderá deixar petistas do núcleo duro do partido fora dos ministérios do novo governo. A justificativa oficial é a de que Lula não quer enfraquecer o PT ao convocar todos os seus expoentes para compor a Esplanada dos Ministérios.

Nesse desenho, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pode ficar sem cargo no governo. Deputada federal reeleita pelo Paraná, ela tem mandato à frente do partido até 2024 e não pode acumular funções com a presidência da sigla, segundo o estatuto do PT. A saída de Gleisi do cargo abriria um processo interno de disputa, que demandaria a articulação política de Lula para a escolha do novo presidente.

Além disso, petistas que participam das discussões na transição lembram que Lula sempre apoiou Gleisi em cargos de destaque, mesmo diante de movimentos contrários a ela no partido e na bancada federal.

Outro nome próximo ao presidente eleito que pode ficar sem ministério – mas não sem cargo em Brasília – é o de Aloizio Mercadante. O ex-ministro participou de todas as campanhas de Lula e teve papel de protagonismo na disputa de 2022 como coordenador do plano de governo. Mercadante também esteve ao lado de Lula nas viagens nacionais e internacionais e nas articulações políticas. O Estadão apurou que ele deve receber a incumbência de uma função influente ao lado do presidente eleito, dentro do Palácio do Planalto.

Lula concorreu com uma frente de dez partidos no primeiro turno, ampliada na segunda rodada. O petista também precisou do apoio de diferentes setores da sociedade civil e da classe empresarial para vencer a acirrada disputa contra Jair Bolsonaro (PL). Mais de uma vez, Lula repetiu que seu governo iria “além do PT” e seria composto por quadros que representassem todo o apoio recebido durante as eleições.

A promessa tem provocado um difícil xadrez para o presidente eleito, que se vê diante da cobrança por espaço de seu próprio partido. Petistas pedem vagas em 12 a 15 ministérios, em um cenário de 30 a 33 pastas. Nesta conta, consideram que o PSB deve ter dois ministérios e o PCdoB, PSOL, PDT e Cidadania ficariam com uma pasta cada. O PV e a Rede, ainda no cenário traçado por petistas, dividiram um ministério. O MDB, o PSD e o União Brasil também terão assento na Esplanada.

No caso do MDB, o partido cobra duas cadeiras – uma indicada pela bancada da Câmara e outra pela do Senado. Se depender do MDB, a seandora Simone Tebet, filiada ao partido e cotada para o Desenvolvimento Social, entraria na “cota pessoal” de Lula.

O PSD de Gilberto Kassab também tenta garantir dois ministérios – senadores e deputados da legenda se reuniram com Lula nesta terça-feira, 29. Presidente do PSD, Kassab se encontrou com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e integrantes do grupo de transição no último fim de semana, durante evento no Guarujá organizado pelo Esfera Brasil com empresários, políticos e magistrados.

Além dos partidos, o desenho dos ministérios também tem de contemplar nomes de setores que foram importantes para Lula na disputa de 2022 e considerar a diversidade racial e de gênero. Integrantes do PT admitem que Lula não deve conseguir montar um governo paritário em termos de número de homens e mulheres, mas avalia que deve haver uma “participação relevante” de ministras – elas devem ter a preferência do petista e ocupar aproximadamente um terço dos ministérios, algo em torno de dez cadeiras. A representação racial também pesará nas escolhas.

Dois conselheiros próximos de Lula dizem que a configuração da equipe começou a ficar mais clara para o presidente eleito. Os sinais externados são de que ele deseja contar com Fernando Haddad na Fazenda, com o ex-ministro José Múcio na Defesa e com o ex-chanceler Mauro Vieira no Itamaraty.

No Palácio do Planalto, as principais vagas seriam do PT: o governador da Bahia, Rui Costa, na Casa Civil; e o deputado Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, de volta à articulação política, nas Relações Institucionais. A Secretaria-Geral da Presidência poderia ficar com o advogado Marco Aurélio Carvalho.

Representante do grupo Prerrogativas, Marco Aurélio também é um possível nome para chefiar a Controladoria-Geral da União (CGU), embora já tenha defendido para a vaga o advogado Vinícius Marques de Carvalho, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O deputado Emídio de Souza, muito próximo a Lula, pode ocupar uma vaga no Planalto em cargos como a chefia de gabinete ou a própria Secretaria-Geral da Presidência. O Planalto também deve abrigar um gabinete da futura primeira-dama, Janja da Silva.

Na Saúde, poderia haver o retorno de ex-ministros como Arthur Chioro ou José Gomes Temporão. A governadora do Ceará, Izolda Cela, é a principal aposta na Educação.

Cotado para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, poderia assumir a Advocacia-Geral da União (AGU) ou a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) no Planalto. Ex-SAJ, o procurador Jorge Messias também aparece na cotação para a AGU.

Para Direitos Humanos, Silvio Almeida ficaria com a vaga do PSOL, deixando caminho livre para Márcio França (PSB), interessado em pastas como Cidades ou Transportes. Se a cota do PSOL for de Almeida, o deputado eleito Guilherme Boulos ficaria fora do ministério.

Estadão