Bolsonaro não conseguirá derrotar Pacheco

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Apesar de se manter em silêncio desde que foi derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro não está totalmente alheio às movimentações do xadrez político em Brasília. Pelo contrário.

Nos últimos dias, o presidente tem acompanhado de perto as articulações de seu partido, o PL, de lançar candidatura própria ao Senado e fazer frente à campanha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à reeleição.

Para discutir o assunto e avaliar as chances de seu grupo, Bolsonaro já recebeu no Planalto o ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho, eleito senador pelo Rio Grande do Norte; a ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, eleita senadora pelo PP de Mato Grosso do Sul; o senador Eduardo Gomes (PL-TO) e o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ) .

O PL tem a maior bancada do Senado, com 14 parlamentares, que vai se reunir na próxima quarta-feira para decidir o assunto. Se de fato o partido decidir lançar um candidato, o mais provável é que seja Rogério Marinho.

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, é um dos que insiste na candidatura própria, mesmo sabendo que Rodrigo Pacheco entra na disputa muito forte, por já estar no cargo e ter apoio do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

A preferida de Valdemar para disputar com Pacheco era Tereza Cristina, que ele vinha tentando desde a campanha atrair para a legenda. Mas a ex-ministra não só não trocou de partido como não se animou com a candidatura. “Pato novo só mergulha em água rasa”, disse a senadora eleita à coluna, em referência ao fato de ser novata na nova Casa.

Embora tenha sido apoiado por Bolsonaro em sua eleição, em 2021, contra Simone Tebet (MDB-MS), Pacheco nunca foi visto como simpático ou aliado do atual governo. Na ocasião, o senador obteve 57 votos, contra 21 da emedebista.

Durante os dois anos em que comandou o Senado, Pacheco arquivou sumariamente um pedido de impeachment do próprio Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu as urnas eletrônicas e impediu o avanço da chamada “pauta de costumes”.

Já Rogério Marinho é bolsonarista entusiasmado, por isso é apoiado por uma ala majoritária do PL. “Ele foi ministro, tem boa relação com o Senado, tem experiência política, foi deputado, tem boa relação com os presidentes de partido. Tem o perfil de construção, isso é muito importante”, disse o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ).

“A gente tá desprendido e unido para ter um candidato de consenso, unânime, no PL para vencer as eleições.”

O próprio Portinho e o senador Eduardo Gomes (PL-TO) decidiram desistir de concorrer ao Senado para apoiar Marinho.

Mas dentro do Congresso, há quem veja com descrença a ofensiva do PL. Aliados de Pacheco avaliam que a ofensiva é um “jogo de cena” para tentar aumentar o poder de barganha da legenda de Valdemar.

Nas contas do PL, Rogério Marinho conta atualmente com 28 votos, enquanto Pacheco teria 29 – e o resto estaria em aberto.

Para vencer a eleição no Senado é necessário ter 41 votos. Marinho, portanto, terá que buscar votos em legendas como PP, Republicanos e Podemos.

“A gente sabe que esse pessoal não vota assim de forma tão fiel ao bloco”, diz um aliado de Marinho. “No escuro da cabine, cada um faz o que quer. É nisso que vamos apostar”, diz esse bolsonarista, já deixando explícito que o partido pode vir a apostar nas traições para conseguir contornar a força de Pacheco e Lula no Senado.

O Globo