Lula quer acabar com polêmica com militares

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Depois das turbulências políticas dos últimos anos, que culminaram na polarização do Brasil e numa eleição definida no segundo turno por uma margem estreita, a pacificação do país passa pelo retorno de cada uma das instituições à sua função de origem no sistema democrático, como estabelece a Constituição. Essa foi a avaliação feita pelos aliados do presidente eleito Lula (PT) no “E agora, Brasil?”.

O debate da série dos jornais O GLOBO e Valor Econômico, com patrocínio do Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas Federações, foi realizado em Brasília.

Na opinião dos quatro participantes, os movimentos de cunho golpista — cuja expressão recente é a concentração de pessoas insatisfeitas com o resultado das eleições em estradas e na porta de quartéis — não encontraram equivalência no interior das Forças Armadas ou o respaldo internacional buscado pelos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), o que fez com que perdessem força.

A tarefa do novo governo, dizem, é restabelecer a liderança civil legitimada pelo voto e reposicionar o papel de cada um no jogo democrático, avaliou o ex-governador Wellington Dias:

— A necessidade de cada um ficar no seu quadrado é para valer.

Para o governador Rui Costa, o flerte dos militares com o autoritarismo não passou de um convite de Bolsonaro, não partiu de dentro da caserna. Ao citar sua interlocução com a Marinha por causa da proteção do litoral da Bahia, disse que “muitas vezes a sociedade e a democracia foram ameaçadas pela interferência do próprio presidente da República.

Para o governador, o movimento não encontrou eco nas Forças Armadas, e “o ambiente internacional deixou claro que não admitiria e que não admite nenhum tipo de retrocesso dessa natureza”.

— O saldo disso é positivo porque o constrangimento social e a democracia se mostraram mais fortes — afirmou Costa, que ainda assim, avalia que Lula terá desafios institucionais “em várias frentes”. — O carro-chefe será restabelecer a interlocução entre as instituições, para que cada um volte, mesmo que paulatinamente, para a sua caixinha de origem.

Na avaliação do governador, uma área de interesse comum entre o novo governo e os militares será o “desenvolvimento tecnológico”, já que muitas vezes os orçamentos de pesquisa científica e o das Forças Armadas “se sobrepõem”.

— É mais do que nunca o momento de estimular e chamar as nossas Forças Armadas à modernidade — disse Costa.

Dias ainda destacou a importância de que corporações como a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) também voltem para o “seu quadrado”. Nos bastidores, integrantes do PT vem buscando reaproximação com a PRF, avaliada como instituição mais envolvida pelo bolsonarismo.

O ex-governador do Piauí ainda defendeu o desmembramento do Ministério da Justiça e Segurança Pública em duas pastas. A ideia vai contra a avaliação de um dos coordenadores do grupo que trata do tema na equipe de transição, o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), mas Dias defendeu uma atuação específica do governo federal num dos assuntos que mais afligem os brasileiros:

— Não é razoável que se jogue nas costas dos estados a responsabilidade de um tema que é impossível de ser resolvido pelos próprios estados.

O Globo