Dono de ônibus de golpistas foi pago em dinheiro vivo
Foto: Cristiano Mariz
Duas das empresas contratadas para transportar manifestantes para os atos golpistas do último dia 8 afirmaram, em manifestações à Justiça, que os pagamentos pelas viagens a Brasília foram feitos em espécie — de R$ 18 mil em um caso e de R$ 20 mil em outro. Os ônibus pertencentes à Sidcar Transportes, de Franscisco Beltrão (PR), e da Naldo Locadora e Turismo, de Lins (SP), foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal quando retornavam da capital federal após os ataques às sedes dos Poderes.
Diferentemente de transferências eletrônicas, como o PIX, o pagamento em espécie é mais difícil de ser rastreado, pois não é possível identificar a origem exata do dinheiro. A pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), a Justiça Federal do DF bloqueou R$ 6,5 milhões em bens de 59 pessoas e empresas apontadas como responsáveis por fretar os veículos que levaram milhares de manifestantes a Brasília nos dias que antecederam os ataques golpistas. O grupo é suspeito de financiar os atos. As donas dos veículos não estão na lista.
No caso da Sidcar Transportes, o dono da empresa, Sidinei Carlos Ghidini, disse em depoimento à Polícia Federal ter sido procurado no último dia 4, via aplicativo de mensagem, por uma pessoa que pediu informações sobre locação de veículos. Segundo ele, o pagamento combinado, de R$ 18 mil, foi feito em dinheiro em frente ao Quartel-General do Exército de Francisco Beltrão, cidade a cerca de 1.600 km de Brasília. Quem recebeu, porém, foi sua mulher e sócia, Cátia Daiana Grohs Ghidini.
“Tudo acertado via WhatsApp, o pagamento foi feito a Sra. CÁTIA, que recebeu o valor em espécie, diretamente das mãos de Sr. CARLOS, advogado acima citado, que também entregou a lista definitiva de passageiros”, disse Ghidini em depoimento.
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A informação sobre o pagamento em dinheiro da Naldo Locadora e Turismo, consta em um e-mail enviado pela empresa ao Ministério Público. Na mensagem, um funcionário da companhia, chamado William Bonfim Norte, afirmou ter recebido dois pagamentos em espécie, de R$ 10 mil cada, para o fretamento de dois ônibus que saíram de Lins, cidade a cerca de 900 km da capital federal. Os dois pagamentos foram feitos pela mesma pessoa. As contratações, ainda de acordo com o relato do funcionário no e-mail, foram feitas de última hora, no mesmo dia da viagem a Brasília, uma sexta-feira, dia 6 de janeiro.
“O valor pago pela viagem feita a Brasília foi de 10.000 reais cada ônibus fretado, me trouxe por volta de 13:00 horas do dia 06/01/2023 a quantia de 10.000 reais em espécie e por volta das 17:00 horas do dia 06/01/2023, solicitou outro ônibus placa DPE-1B20 para levar mais 16 pessoas, me pagando 10.000 reais em espécie, alegando que esse carro só iria levar o pessoal e voltar vazio”, diz trecho do relato enviado ao Ministério Público, e depois encaminhado também para a Justiça Federal.
Nos dois casos, as empresas também relataram à Justiça que os responsáveis pela contratação das viagens foram equivocadamente registrados na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) — e, por isso, foram citados indevidamente na ação da AGU e tiveram os bens bloqueados. A lista de todos os ônibus fretados com destino a Brasília serviu como base para o pedido feito pela AGU.
A Naldo Locadora e Turismo afirmou que, como o contrato foi fechado de última hora, o funcionário da empresa, William Bonfim Norte, colocou o próprio nome como se fosse o pagador. Como resultado, ele foi incluído na ação da AGU como suposto financiador dos atos.
A Sidcar, por sua vez, informou que, devido a um “erro material”, uma cliente frequente da empresa apareceu como tendo pago pelo veículo que levou golpistas de Francisco Beltrão para Brasília. A empresa apresentou trocas de mensagens e depoimentos para demonstrar que foram outras pessoas as responsáveis por bancar o ônibus.