Após muita briga, evangélicos elegem liderança

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Foto: Reprodução

A bancada evangélica fechou um acordo nesta quarta-feira (8) para a escolha de seu novo presidente. A definição foi comunicada durante culto na Câmara dos Deputados após a frente parlamentar protagonizar uma eleição que acabou anulada por ter mais votos que assinaturas de presentes.

Pelo acordo, os deputados Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (Republicanos-AM) vão dividir a liderança da bancada pelos próximos dois anos. Serão mandatos alternados por seis meses, com o poder inicialmente nas mãos do pastor tocantinense.

A nova liderança deve ser confirmada no próximo dia 15, quando deve ocorrer assembleia da Frente Parlamentar Evangélica para a escolha do novo presidente.

“A coisa mais bonita que acontece aqui é quando todos se reúnem e chegam a um acordo. A gente trabalha mais tranquilo. E quero agradecer a Deus pela vida de alguns irmãos, que entenderam este momento de que era preciso ter paz em Israel”, disse o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), que é da mesma Assembleia de Deus, assim como Eli Borges, mas atuava nos bastidores em prol de Silas Câmara.

O acordo foi costurado após duas semanas de tentativas frustradas. Silas e Eli até concordavam com a alternância da presidência, mas ambos queriam liderar a bancada no primeiro ano da legislatura.

Nos bastidores, deputados da bancada dizem que a avaliação é que o primeiro ano será decisivo para negociar com o governo Lula (PT) e frear possíveis pautas identitárias que a esquerda tente passar nos primeiros meses do novo Congresso.

A escolha do novo líder deveria ter ocorrido em 2 de fevereiro. Pela primeira vez, sem acordo ainda fechado, a bancada evangélica iria submeter os nomes a votação. Pleitos passados tiveram como praxe a aclamação de um presidente sem necessidade de votação. Assim aconteceu desde a criação da Frente Parlamentar Evangélica, em 2003.

Sem o costume de realizar eleições, a bancada sofreu diversos problemas técnicos com o processo de votação.

Parlamentares que não se inscreveram na lista conseguiram votar —manobra que o regimento interno proíbe.

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente do bloco que passará o bastão, disse que houve divergência entre a quantidade de votos e o número de parlamentares que assinaram a lista de presença.

“O nosso sistema, por problema de internet, tem várias quedas, e por isso tivemos problemas na nossa lista [de membros da bancada]. Nós tivemos alguns que, por acharem que o nome estava na lista, colocaram seus votos. Por conta disso, minha decisão foi pela nulidade da eleição nesse momento”, disse Sóstenes após anular a votação.

A anulação da votação só foi definida após mais de quatro horas de discussão. Nesse meio tempo, Otoni afirmou que, se o pleito não fosse anulado, entraria na Justiça. “Está sendo fraudada a eleição pelo grupo do Silas Câmara […] A gente não fala que é crente, a palmatória do mundo? Corrige gays, corrige todo mundo, e faz essa sacanagem aqui dentro?”

Um dos mais longevos evangélicos na Casa, com o primeiro dos sete mandatos iniciado no século 20, Silas Câmara é de uma família forte na Assembleia de Deus do Norte. Seu irmão Samuel Câmara lidera em Belém a chamada Igreja-Mãe, a primeira expoente brasileira dessa denominação, fundada em 1911. Jonatas Câmara, outro irmão, está à frente da Assembleia de Deus no Amazonas.

O próprio Câmara, quando foi eleito pela primeira vez, em 2019, viu a pacificação em torno do seu nome ser selada no próprio dia. Cinco rivais abandonaram o páreo em seu benefício, incluindo Flordelis (então PSD-RJ). Três meses depois, seu marido seria assassinado, crime pelo qual ela acabou condenada no ano passado.

A bancada evangélica existe desde os anos 1980, mas só foi oficializada em 2003, no mesmo ano em que Lula chegou ao Palácio do Planalto após três incursões presidenciais fracassadas. A Frente Parlamentar Evangélica nasceu “destinada a assegurar os direitos do povo cristão”, como diz seu estatuto.

Neste ano, eles tentam consolidar o seu crescimento, com esforço para que a bancada tenha a participação de 30% do Congresso —percentual que, pela expectativa de lideranças, deve ser a quantidade de evangélicos no Brasil a ser anunciada no próximo Censo.

O bloco ainda conseguiu ampliar seus espaços de poder na Câmara com a eleição de bancadas mais conservadoras e com a eleição de duas lideranças do segmento para cargos-chave na Mesa Diretora: 0 1⁰ vice-presidente (Marcos Pereira, do Republicanos-SP) e o 2⁰ vice-presidente (Sóstenes).

Folha