Diretor do BC que será exonerado ataca Lula

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Foto: Carol Carquejeiro/Valor

Em uma clara resposta às recentes críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou nessa quarta-feira (8) que a autoridade monetária tem que atuar como um órgão de Estado, e não de governo e ainda ressaltou que o mesmo grupo de diretores que estipulou a taxa básica de juros de 13,75% ao ano colocou a taxa em 2% em 2020.

“O mesmo BC que está praticando taxa de 13,75%, que tecnicamente é o adequado para fazer a inflação voltar para a meta, foi praticamente o mesmo grupo de diretores que colocou [a taxa] em 2% em 2020, quando a pandemia exigiu que devíamos estimular a demanda agregada”, afirmou Serra.

As declarações de Serra foram dadas em meio a críticas de Lula à taxa de juros praticada pelo Banco Central. Bruno Serra, cujo mandato termina no fim do mês, participou de uma palestra em Macaé, no norte fluminense e destacou ainda que as taxas de juros vinham de um período de queda quando o ciclo econômico global “trouxe consequências” com as quais o banco está lidando no momento.

“O ciclo global trouxe consequências e estamos lidando com elas. O Banco Central é para ser instituição de Estado, e não de governo”, disse.

Bruno Serra também reforçou a importância da autonomia do Banco Central, garantida por lei sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2021. “Autonomia nos beneficia, beneficia a sociedade a segregar o ciclo político do da economia. É importante que o BC tome decisões tecnicamente, com base nos dados econômicos.”

Segundo o diretor, a autonomia, junto com os mandatos fixos da presidência e da diretoria, permitiram uma menor volatilidade dos ativos financeiros nas eleições de 2022. “Benefício fácil de observar é o que aconteceu com ativos financeiros no último período eleitoral. Quem for mais velho lembra de 2002, o câmbio oscilou, não precisa ser tão velho para lembrar de 2018, que também oscilou.

Em 2022 foi muito mais tranquilo em boa medida porque você tem mandatos fixos e também um problema a menos para governante eleito se preocupar”, afirmou. Em 2002 houve a primeira eleição de Lula para a Presidência. Na ocasião, o real desvalorizou 52,3%. Em 2018, na eleição de Bolsonaro, a desvalorização da moeda frente ao dólar foi de 16,9%. No ano passado, a moeda brasileira valorizou 5,32%.

Serra reforçou que o BC persegue a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) “seja qual for” e defendeu que o patamar seja “crível”. Para ele, até pouco tempo atrás os agentes econômicos entendiam que o BC conseguiria entregar a inflação dentro do objetivo de 3%.

O diretor afirmou que nunca houve discussão de curto prazo sobre a redução de juros no Brasil e ressaltou que a alta da taxa “é livro texto, não tem muita dúvida na teoria econômica sobre o que tem que ser feito nesse cenário”. Segundo Serra, os núcleos de inflação estão em 9%, o que seria bem acima do “consistente” para atingir as metas estabelecidas pelo CMN. Serra explicou que a manutenção da Selic em 13,75%, criticada por Lula, aconteceu pela piora das expectativas e frisou que o trabalho do BC é dificultado quando os agentes econômicos têm dúvidas sobre o cumprimento das metas.

“Até alguns meses atrás os agentes entendiam que a meta era crível, achavam que pelo menos em 2025 e 2026 o BC seria capaz de entregar [3%]”, disse.

Valor Econômico