Generais agora dizem que “não sabiam” dos ataques de 8/1
Foto: Divulgação/Exército Brasileiro
O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, chefe do Comando Militar do Planalto, disse ao Ministério Público Militar que o planejamento de segurança para o dia 8 de janeiro foi traçado com base em uma análise de risco feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Segundo ofício enviado pelo militar, o ministério apontava cenário de “normalidade” para o dia em que as sedes dos Três poderes foram invadidas. Por isso, de acordo com Dutra de Menezes, não houve reforço preventivo para evitar os ataques e a depredação.
Procurado, o GSI informou que “os documentos de Inteligência sobre os atos do dia 8 de janeiro de 2023 foram disponibilizados à Comissão Mista de Controle da Atividade de Inteligência (CCAI), do Congresso Nacional, responsável pelo controle e fiscalização externos da Atividade de Inteligência”.
Como informou O GLOBO, um documento do ministério enviado ao Congresso revela que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), subordinada ao GSI, alertou diversos órgãos e pastas do governo, dois dias antes dos atos golpistas, sobre o risco de depredações na Esplanada e invasão ao Congresso. Na véspera dos atentados, a Polícia Federal apontou em um relatório encaminhado ao ministério da Justça que o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) também estavam na mira de bolsonaristas radicais.
Segundo o general Dutra de Menezes, o Comando Militar do Planalto enviou por conta própria 130 militares para permanecer de prontidão no Palácio do Planalto. O GSI, no entanto, pediu um aumento de efetivo apenas quando os invasores passaram a adotar “comportamento hostil nas proximidades da Esplanada dos Ministérios”.
No documento, o general pontua que a segurança do Palácio do Planalto é realizada pelo GSI e por militares do Exército Brasileiro, com serviços diários organizados pelo GSI, a quem cabe organizar diretrizes, ordens, normas, regulamentos, procedimentos e planos.
A participação dos efetivos do Batalhão de Polícia do Exército (BPEB), do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) e do 1º Regimento de Cavalarias de Guardas ocorre conforme planejamento e requisições do GSI.
No dia 8 de janeiro, o serviço estava a cargo do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas e contava originalmente com 32 militares pertencentes ao Batalhão da Guarda Presidencial, conforme planejamento do GSI.
O general deixará a função até março. A mudança não estava prevista, mas a saída será antecipada devida à crise política envolvendo o Palácio do Planalto e a caserna.
Aliados de Lula acreditam que Dutra pode ter sido leniente com os golpistas que ficaram acampados na frente do Quartel-General. Ao militar, também é atribuída a decisão de não retirar os vândalos que retornaram ao local após a invasão do Congresso, Planalto e Supremo Tribunal Federal.
O GLOBO mostrou que um relatório sigiloso enviado pelo GSI ao Congresso aponta que o governo foi informado sobre a possibilidade de haver ataques violento. No relatório, a Abin informava que havia identificado a convocação de caravanas em diversos estados do país para que se deslocassem à capital. O texto revela que elas trariam “manifestantes com acesso a armas e com a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional”. Acrescentava ainda que “outros edifícios na Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo de ações violentas”.
O documento, enviado no dia 20 de janeiro à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI), é assinado pelo ministro responsável pelo GSI, o general da reserva Gonçalves Dias, um dos personagens que saíram fustigados dos atos do dia 8 por não terem conseguido impedi-los.
Após os ataques golpistas, o governo promoveu uma série de troca de integrantes do GSI. Entre eles, estavam o número 2 do órgão e militares que atuavam no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República.
Além dessas mudanças, Lula decidiu retirar a Abin da estrutura do GSI e realocar a agência sob o comando do ministério da Casa Civil, chefiada por Rui Costa. O objetivo desse remanejamento é promover um processo de desmilitarização do órgão e ter mais controle sobre uma área considerada estratégica para a tomada de decisões da presidência da República.