Lula enquadra deputados e barra CPI golpista
Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert/
O Palácio do Planalto se arma em duas frentes para evitar desgastes com eventuais apurações instauradas pelo Congresso. Ao mesmo tempo em que trabalha para desidratar um pedido de criação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do atos de 8 de janeiro, governistas estimulam a coleta de assinaturas para viabilizar outras investigações parlamentares, entre elas uma que mire a suspeita de que o ex-presidente Jair Bolsonaro se apossou de joias pertencentes ao Estado brasileiro.
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A prioridade, porém, é esvaziar a articulação pela CPMI do Atos. Ela é tratada pela oposição como uma oportunidade de responsabilizar autoridades do governo federal pelas falhas de segurança que permitiram as invasões às sedes dos três Poderes, no início de janeiro.
Nos últimos dias, os governistas intensificaram os trabalhos para remover assinaturas do requerimento de criação da CPMI protocolado pela oposição. Se antes a investida era capitaneada pelos líderes de partidos da base e pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, agora as negociações também são tocadas por lideranças estaduais aliadas do Planalto. Segundo opositores, a articulação também conta com a participação de outros ocupantes da Esplanada dos Ministérios.
Vice-líder do PT no Congresso, o deputado Lindbergh Farias (RJ) confirma a atuação da tropa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impedir a instalação do colegiado.
— Essa CPMI tenta reverter a narrativa, colocar a destruição às sedes dos três Poderes na nossa conta, quando todos sabem que os atos partiram de bolsonaristas. É para este tipo de articulação que temos um Ministério das Relações Institucionais (comandado por Padilha), que temos a nossa liderança — afirma.
Já o o deputado Alencar Santana (PT-SP), vice-líder do governo, detalha a estratégia para desmobilizar os apoios à comissão mista.
— Não tem muito segredo: é conversar com o colega que assinou para convencê-lo a retirar a assinatura. Ponderar que a CPMI não pode servir de palanque. Estamos dialogando com os parlamentares — disse.
O próprio PL, partido de onde partiu o requerimento da comissão, já conta com a retirada de três assinaturas de seus membros. Os deputados Josimar Maranhãozinho, Pastor Gil e Detinha avisaram à liderança que não vão endossar o documento. Os três foram eleitos pelo Maranhão e, de acordo com membros do partido, teriam desistido do requerimento em função de pressões exercidas no estado, do qual o ministro da Justiça, Flávio Dino, já foi governador. Procurado, o ministro nega ter participado de qualquer articulação.
Líder do PL, Altineu Côrtes (RJ) admite não ser possível exigir as assinaturas de deputados da região Nordeste contra uma pauta de interesse do atual governo.
— Infelizmente, o municipalismo deixa os políticos desta região reféns de governadores e da administração local. Caso não estejam com o governo, podem ter seus trabalhos restritos — afirma.
Na outra frente de atuação por blindagem, o Planalto tem estimulado o apoio a outras CPIs, como, por exemplo, a das Joias. Dois deputados governistas, Rogério Correia (PT-MG) e Túlio Gadelha (Rede-PE), estão coletando assinaturas para apresentar o pedido de instalação do colegiado que apuraria se Bolsonaro cometeu crime ao ficar com joias dadas de presente por autoridades sauditas ao Estado brasileiro. Em paralelo, os petistas também avançam em direção à CPI das Americanas, de autoria do PP, que ganhou assinaturas de última hora de parlamentares da base. Essa vai investigar a suspeita de fraude contábil da varejista, que divulgou um rombo bilionário no início deste ano.
O plano tem por objetivo conflagrar o calendário de comissões parlamentares de inquérito em funcionamento no Congresso. Além disso, ao trabalhar por uma CPI que teria Bolsonaro como alvo, o governo conquistaria um trunfo para negociar com os aliados do ex-presidente a desmobilização pela CPMI dos Atos.
A nova estratégia ocorre depois de uma semana de frustração com as tratativas coordenadas por líderes de partidos que mantêm cargos no primeiro escalão do governo, como União Brasil, PSD e MDB. Embora eles tenham tentado convencer correligionários a retirar assinaturas da CPMI, apenas os deputados Célio Silveira (MDB-GO) e Chiquinho Brazão (União-RJ) decidiram recuar.
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Entre os quadros do PSD, há o entendimento de que a legenda já vem contribuindo para desidratar o colegiado ao evitar a coleta de novas assinaturas. Até agora, oito nomes do partido subscreveram o requerimento de instalação. O número é mais modesto do que o registrado nas bancadas de União Brasil (28) e MDB (12), que, assim como o PSD, mantêm o controle sobre três ministérios.
Para enterrar de vez a investigação, parlamentares do PSD entendem que é preciso haver um movimento conjunto dessas legendas. Até o momento, contudo, deputados dos três partidos não veem uma base sólida do governo no Congresso. Há dificuldades para equacionar interesses nos estados, inclusive com definição de cargos de segundo escalão da máquina federal.