Lula tem estratégia para reagir a Bolsonaro
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A volta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil mexe com o tabuleiro político nacional e o governo Lula busca maneiras de rebater os ataques que sabe que virão, mas sem entrar em um embate direto que prejudique uma já complicada articulação com um Congresso cheio de parlamentares aliados da gestão bolsonarista.
A avaliação no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é que a disputa política com Bolsonaro pode até ser positiva para o governo, caso seja feita de maneira adequada, já que o ex-presidente chega pressionado pelo tema das joias recebidas como presentes e juntadas a seu acervo pessoal – o que gerou investigações com potencial explosivo.
A ordem é evitar usar a estrutura de governo para se contrapor a Bolsonaro, mas desgastá-lo quando houver provocações. A tática foi inaugurada na véspera da chegada de Bolsonaro pelo ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais.
Questionado por jornalistas sobre como o governo vê a volta do ex-presidente ao país, primeiro o ministro disse que o Executivo “não vê” nada e que o presidente Lula está preocupado com as questões administrativas, mas em seguida alfinetou Bolsonaro:
“Ele vai ter que dar explicações sobre as joias, vai ter que dar as explicações sobre várias questões que estão sendo descobertas do governo dele, vai ter que dar explicações sobre as obras paralisadas no país”, afirmou o ministro. Veja:
Padilha sobre a volta de Bolsonaro: “Vai ter que explicar as joias”.
Ministro das Relações Institucionais de Lula diz que o atual presidente não se preocupa com a volta de Bolsonaro ao país. pic.twitter.com/ZHVl4REhRa
— Metrópoles (@Metropoles) March 29, 2023
O governo espera que seus aliados no Congresso assumam o protagonismo desse embate com Bolsonaro, provocando o ex-presidente em discursos, entrevistas e redes sociais.
A questão das joias será explorada com mais destaque, mas outras cobranças estão no radar. A ideia é explorar um slogan que já pegou na militância de esquerda, o “sem anistia”, e cobrar Bolsonaro por ações e omissões durante a pandemia, por exemplo, falando inclusive na possibilidade de prisão do ex-presidente – apesar disso não estar no radar do Poder Judiciário no momento.
A equipe de Lula espera que o ex-presidente, que está na fase final da recuperação de uma pneumonia, não se engaje diretamente no bate-boca com Bolsonaro, mas sabe que tem sido difícil segurar a língua do petista. Existe a expectativa de que Lula volte a despachar no Palácio do Planalto nesta quinta, mesmo dia da volta de Bolsonaro ao Brasil.
A sede do Executivo federal, assim como os demais prédios da Praça dos Três Poderes, está com segurança reforçada desde ontem, com restrições à circulação de veículos e pessoas. Já a Esplanada dos Ministérios foi interditada nesta madrugada para os carros, numa medida tomada pelas autoridades do DF para evitar qualquer risco de manifestações violentas na área central de Brasília.
Apesar de nenhum ato político ter sido convocado, a memória recente do 8 de janeiro, quando milhares de militantes bolsonaristas depredaram as sedes dos Três Poderes, ainda assusta as autoridades e preocupa os governos.
Pelo lado do ex-presidente, a intenção nesta volta ao Brasil após três meses nos Estados Unidos é assumir uma posição de destaque na oposição ao governo Lula.
Para isso, o PL deve nomeá-lo presidente de honra já na semana que vem e dar a Bolsonaro um escritório onde ele deverá despachar.
O partido e os aliados de Bolsonaro esperam promover eventos com a militância, mas por enquanto estão mantendo em segredo os planos.